As motivações do assassino de Kirk já são claras e a incerteza quanto ao futuro é o sentimento imperativo.

O assassinato de Charlie Kirk enquanto debatia com estudantes na Universidade do Utah tem sido o tema quente da última semana. Há quem lamente a morte, quem se apresente manifestamente feliz e quem a relativize.

Entretanto, nos últimos dias, nova informação acerca do assassino, um jovem de 22 anos de seu nome Tyler Robinson, ficou disponível e permite-nos um olhar mais preciso no momento de analisar a tragédia. Robinson também já participou na primeira audiência judicial, na qual se remeteu ao silêncio – quebrando-o apenas para dizer o seu nome completo. Na quarta-feira, acabou por ser acusado de homicídio qualificado e poderá enfrentar a pena de morte.

Quanto às motivações, as conclusões da investigação parecem deixar pouco espaço para dúvidas: «Quando questionado sobre o motivo pelo qual [matou Kirk], Robinson explicou que há muito mal no mundo e que [Kirk] espalha muito ódio». Ainda nos documentos de acusação, está presente um parágrafo que merece ser citado na íntegra: «A mãe de Robinson explicou que, ao longo do último ano, Robinson tornou-se mais politizado e começou a inclinar-se mais para a esquerda, tornando-se mais pró-direitos dos homossexuais e transgéneros. Ela afirmou que Robinson começou a namorar com o seu colega de quarto, um homem biológico que estava a fazer a transição de género. Isto resultou em várias discussões com membros da família, mas especialmente entre Robinson e o pai, que têm visões políticas muito diferentes. Numa conversa antes do assassinato, Robinson mencionou que Charlie Kirk realizaria um evento na UVU, que Robinson considerou um ‘local estúpido’ para o evento. Robinson acusou Kirk de espalhar ódio».

Várias têm sido as reações à morte do jovem conservador de 31 anos, com os apoiantes a organizarem várias vigílias como forma de homenagem. A própria esposa, Erika Kirk, publicou um vídeo onde aparece junto ao caixão do marido, num gesto de despedida. Num comunicado, disse: «Se achavam que a missão do meu marido era poderosa antes, não fazem ideia do que acabaram de desencadear em todo o país e no mundo inteiro».

É precisamente esta a questão do momento. O que se segue a um episódio de violência política como este? Pode uma sociedade fraturada voltar a encontrar chão comum? Em declarações ao Nascer do SOL, o historiador e professor universitário Jaime Nogueira Pinto diz que não sabe: «Francamente, não sei. Nos Estados Unidos fala-se numa ‘guerra civil’ ideológica e tudo indica – as repugnantes manifestações de regozijo pela morte de Kirk são um exemplo desse espírito – que pela Esquerda o discurso e as ações de ódio não vão parar». «E também nos Estados Unidos», acrescenta, «a Direita não se vai ficar, como se vê pela reação de despedir aqueles que em instituições públicas e privadas publicamente manifestaram regozijo pela morte de Kirk». «Estamos de facto num tempo de escalada», conclui Nogueira Pinto, «mas foi a Esquerda que começou».

Quanto à origem intelectual desta escalada, o professor diz que «a Esquerda radical herdou do cristianismo muita coisa; umas boas, que se encarregou de estragar, como aquela paixão utópica pela justiça do ‘Sermão da Montanha’, que laicizou e caricaturou com os ‘socialismos reais’, outras, como o maniqueísmo e o espírito inquisitorial que, claramente, no século XX, sobretudo a partir da II Guerra Mundial, passaram para os regimes comunistas na forma de ‘quem não é por nós, é contra nós’». «Nos anos 60», continua, «esta foi a cultura das universidades da EuroAmérica, também numa perspetiva de purificação e regresso às raízes do marxismo, comprometido pelo burocratismo soviético que levou os ‘intelectuais’ e ‘académicos’ esquerdistas a venerarem o concentracionarismo chinês e cambojano». «Mas essa cultura da ‘correção’», conclui, «trouxe a intolerância e semeou a ideia de que os ‘obstáculos’ à utopia devem ser eliminados. Charlie Kirk teve esse destino».