Um novo estudo dinamarquês analisou milhares de pessoas e constatou que indivíduos classificados como com sobrepeso ou obesidade grau I, pelo índice de massa corporal (IMC), nem sempre têm um risco aumentado de morte precoce. O trabalho foi apresentado na reunião anual da Associação Europeia para Estudos da Diabetes (EASD), que acontece nesta semana em Viena, na Áustria.

O IMC é um cálculo amplamente utilizado que divide o peso (em kg) pela altura ao quadrado (em metros). O resultado enquadra a pessoa em uma classificação que vai de abaixo do peso (IMC menor que 18,5 kg/m²) até peso normal (entre 18,5 e 24,9), sobrepeso (de 25 a 29,9) e obesidade (acima de 30). No último estágio, há ainda uma divisão entre grau I (30 a 34,9), grau II (35 a 39,9) e grau III (maior que 40).

No novo estudo, cientistas do Steno Diabetes Center Aarhus, do Hospital Universitário de Aarhus, analisaram informações de 85.761 indivíduos disponíveis em um banco de dados de saúde do país. Ao todo, 7.555 participantes, que tinham em média 66,4 anos no início do acompanhamento, morreram durante um período de 5 anos, óbitos considerados precoces.

Tendo como referência os indivíduos com o IMC enquadrado no que seria o mais saudável possível (entre 22,5 e 25), a análise mostrou que aqueles que estavam abaixo do peso tiveram uma chance 2,73 vezes maior de morrer prematuramente. Na outra ponta, aqueles com obesidade grau III também tiverem um risco de óbito 2,1 vezes maior, e os com obesidade grau II, 23% maior.

“Estar abaixo do peso ou ter obesidade são grandes desafios globais de saúde. A obesidade pode prejudicar o metabolismo do corpo, enfraquecer o sistema imunológico e levar a doenças como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e até 15 tipos diferentes de câncer, enquanto estar abaixo do peso está associado à desnutrição, imunidade enfraquecida e deficiência de nutrientes”, diz Sigrid Bjerge Gribsholt, pesquisadora que liderou o estudo, em comunicado.

No entanto, os números mostraram que as pessoas classificadas com sobrepeso e obesidade grau I não tiveram um risco de morte precoce significativamente aumentado em relação às com o peso ideal. Para os responsáveis pelo trabalho, os resultados apontam para indivíduos metabolicamente saudáveis.

“Existem resultados conflitantes sobre a faixa de IMC ligada à menor mortalidade. Antes, acreditava-se que fosse de 20 a 25, mas pode estar aumentando ao longo do tempo devido aos avanços médicos e à melhoria da saúde em geral”, sugere Sigrid.

Além disso, quando analisados aqueles com IMC de 20 a 22,5 kg/m², que estariam no começo da faixa considerada ideal, foi observado um risco de morte 27% mais alto em comparação com os indivíduos cujo índice era de 22,5 e 25 kg/m². Todos os resultados foram ajustados por sexo, nível de comorbidades e nível educacional.

Os pesquisadores ficaram surpresos com os achados, especialmente ao não encontrar uma relação entre sobrepeso e obesidade grau I com a maior mortalidade precoce. Para Sigrid, uma possível explicação é que, no estudo, em que a maioria dos participantes era formada por idosos, aquelas com IMC mais alto também tinham “certas características protetivas que influenciam os resultados”.

Outra hipótese é que, pela base de dados analisada ser de pessoas que buscaram serviços de saúde, aquelas com o IMC considerado normal podem ter, na realidade, perdido peso devido a uma doença subjacente. “Nesses casos, seria a doença, e não o baixo peso em si, que aumentou o risco de morte, o que pode dar a impressão de que ter um IMC mais alto é protetor”, explica a pesquisadora.

“No entanto, em linha com pesquisas anteriores, constatamos que pessoas abaixo do peso enfrentam risco muito maior de morte”, pondera. Seja qual for a explicação, o IMC não é o único indicador de que um indivíduo carrega níveis prejudiciais de gordura, lembra o também professor da universidade e autor do estudo, Jens Meldgaard Bruun:

“Outros fatores importantes incluem como a gordura é distribuída. A gordura visceral — gordura muito ativa metabolicamente e armazenada profundamente no abdômen, envolvendo os órgãos — secreta compostos que afetam negativamente a saúde metabólica. Como resultado, um indivíduo com IMC de 35 e formato de maçã — com excesso de gordura ao redor do abdômen — pode ter diabetes tipo 2 ou pressão alta, enquanto outro indivíduo com o mesmo IMC pode não ter esses problemas porque o excesso de gordura está nos quadris, nádegas e coxas”.

Para ele, o tratamento da obesidade deve ser personalizado, levando em conta fatores como distribuição de gordura e a presença de condições como diabetes tipo 2.