Na Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, António Guterres relembrou os primórdios da organização depois do fim da II Guerra Mundial, explicando que os líderes da altura quiseram um futuro de estabilidade e cooperação, ao invés da guerra e do caos.
“Esta escolha levou à criação das Nações Unidas, não como um sonho de perfeição, mas como uma estratégia prática para a sobrevivência da humanidade”, declarou o secretário-geral das Nações Unidas, relembrando que os líderes da altura testemunharam os horrores dos campos de extermínio.
António Guterres afirmou que as Nações Unidas são mais do que um ponto de encontro e deve ser a “bússola moral” para o mundo e uma “guardiã” do direito internacional.
Oitenta anos após a fundação da Organização das Nações Unidas, Guterres descreveu um mundo perturbado e de sofrimento humano implacável e perguntou que futuro pretendem as nações construir. Pediu que sejam tomadas decisões em prol de um mundo com maior justiça, onde agora os princípios da ONU são colocados em causa e estão “sob cerco”.
“Não basta saber quais são as escolhas certas. Exorto-vos a fazê-las”, pediu.
Os conflitos mais “atrozes”
O secretário-geral lembrou vários conflitos mundiais a ter lugar pelo mundo, falando em concreto nos casos da Faixa de Gaza, Sudão e Ucrânia. Considerou-os dos mais “atrozes” que estão a ter lugar muito por culpa de nações que atuam de forma negligente desrespeitando o direito e as regras internacionais.
“Em todo o mundo vemos países que agem como se as regras não se lhes aplicassem. Vemos seres humanos a serem tratados como menos que seres humanos. A impunidade é mãe do caos e gerou alguns dos conflitos mais atrozes dos nossos tempos”, continuou António Guterres.
E apelou ao fim de conflitos que massacram civis e os deixam morrer à fome, exortando à ação de todos para terminar o apoio a lados que alimentam a carnificina, especialmente no caso do Sudão: “Lutem pela proteção de civis. O povo sudanês merece paz, dignidade e esperança”.
Seguiu a mesma linha em relação à Ucrânia, pedido o fim do sofrimento de civis, e deixou elogios aos esforços de diplomacia dos americanos, apelando novamente a um cessar-fogo total.
Sobre Gaza, Guterres destacou que a “escala de morte e destruição está para além de qualquer outro conflito” e lembrou que o conflito está perto do seu terceiro ano, criticando decisões que desafiam a “humanidade” de cada um. Lembrou ainda que o Tribunal Internacional de Justiça emitiu medidas juridicamente vinculativas sobre o genocídio que está a ter lugar naquele território palestiniano e pediu que as mesmas sejam cumpridas.
Por fim, defendeu que a solução de dois Estados é a única viável para alcançar a paz no Médio Oriente, pedindo para que as ações levadas a cabo por Israel, como a expansão de colonatos, sejam imediatamente travadas.
E lembrou também os conflitos no Haiti, Myanmar, Iémen ou Sahel. Num dos últimos discursos como secretário-geral da ONU, António Guterres exortou a que se escolhesse a paz “ancorada no direito internacional”.
(c/ Lusa)