Num discurso em que cumpriu a longa tradição do Brasil abrir o debate geral da Assembleia Geral da ONU, Lula condenou ainda “falsos patriotas” e a possibilidade de amnistia a quem ataca a democracia. 


Garantiu também que a democracia e a soberania brasileiras são “inegociáveis”.O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, foi condenado no dia 11 de setembro a 27 anos e três meses de prisão, por atentar contra o Estado de Direito. A Administração Trump condenou a sentença e retaliou, negando vistos de entrada a figuras ligadas ao poder judicial do Brasil. 


“Mesmo sob ataque sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia reconquistada há 40 anos pelo seu povo depois de duas décadas de governos ditatoriais”, disse Lula da Silva.


Numa alusão direta ao comportamento dos Estados Unidos durante o julgamento, o presidente brasileiro sublinhou que “não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias” contra as instituições e economia brasileiras.


As relações entre Brasil e Estados Unidos da América atravessam a pior fase das últimas décadas. 


A Administração Trump anunciou segunda-feira a revogação do visto
americano do advogado-geral da União, Jorge Messias, e uma sanção
financeira a Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro do Supremo
Tribunal do Brasil, Alexandre de Moraes. Os bens da brasileira nos EUA ficaram assim congelados, assim como os de qualquer empresa a ela ligada.


O governo americano já havia feito o mesmo com Alexandre de Moraes em julho. Nem o ministro, nem a esposa podem realizar transações com cidadãos e empresas dos EUA. Crise do multiculturalismo


Além destas sanções, decretadas após a condenação de Bolsonaro, os EUA impuseram um tarifário de 50 por cento a produtos brasileiros, em parte como castigo por uma “caça às bruxas” ao ex-presidente.


Para Lula da Silva, com a condenação de Jair Bolsonaro, o país deu “um exemplo” a “todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: a nossa democracia e a nossa soberania são inegociáveis”, afirmou.


Sem citar os EUA, Lula abriu aliás o discurso com uma crítica à política externa e tarifária adotada por Trump e que tem estado a causar ondas de choque na economia mundial. 


Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por seguidas concessões à política do poder. Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra”, acusou.


“Existe um evidente paralelo entre a crise do multilateralismo e o enfraquecimento da democracia”, refletiu.


Lula deixou ainda recados internos, afirmando que “falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil”. 


“Não há pacificação com impunidade”, justificou, afastando a possibilidade de amnistia a Bolsonaro e outros acusados de envolvimento da tentativa de golpe de Estado ocorrida com o assalto ao Planalto em Brasília a oito de janeiro de 2023.


Perante a 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, Lula da Silva defendeu ainda a regulação das redes sociais, chamou a atenção para as alterações climáticas, convidando à participação na COP30, e afirmou que “nada justifica o genocídio em Gaza”. “Um homem simpático”


No seu discurso logo após a alocução de Lula da Silva, o presidente Donald Trump pareceu alheado à crispação evidenciada pelo homólogo brasileiro momentos antes.

O líder dos EUA revelou que aceitou reunir-se na próxima semana com o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

Trump disse que passou por Lula depois de o líder brasileiro se ter dirigido à ONU, afirmando que os dois líderes se abraçaram e conversaram brevemente. 


“Eu só faço negócios com gente que gosto. Quando eu não gosto, não gosto. Mas, por 39 segundos, nós tivemos uma ótima química e isso é um bom sinal“, frisou.

“Tivemos uma boa conversa e acordámos encontrar-nos na próxima semana”, disse. “Parecia um homem muito simpático”.


com Lusa