Depois de vários drones terem paralisado o aeroporto da capital Copenhaga, a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Fredriksen, não excluiu que a Rússia possa ter estado envolvida no caso e garantiu que foi “um sério ataque a infraestruturas críticas” da Dinamarca, ligando-o a incidentes dos últimos dias.

“Vimos drones na Polónia que não deviam ter estado lá. Vimos atividade na Roménia. Vimos violações do espaço aéreo estónio. Vimos ataques de hackers em aeroportos europeus no fim de semana. Agora houve drones na Dinamarca, e parece que também houve drones em Oslo, na Noruega”, disse a chefe do Governo em declarações à TV2 dinamarquesa, citadas pelo The Guardian.

Segundo o inspetor da polícia dinamarquesa Jens Jespersen, referido também pelo jornal britânico e pela BBC, entre dois a três drones foram vistos perto do aeroporto a serem pilotados por um “operador habilitado”, ou seja, com capacidades específicas. As aeronaves terão vindo de várias direções, explicam, acendendo e apagando as luzes antes de desaparecerem.

O voo do drone não tinha sido feito “necessariamente” por alguém que os “queria atacar”, mas sim para os stressar e ver como reagem, disse o diretor do serviço de informações dinamarquês PET, Flemming Drejer, de acordo com a televisão britânica.

Na rede social X, Frederiksen sublinhou que todos estes desenvolvimentos eram parte de uma “mudança preocupante” na segurança europeia.

“Violações do espaço aéreo russo. Atividade indesejada de drones em vários países europeus. A noite passada foi um lembrete inequívoco do tempo em que vivemos“, apontou a primeira-ministra, que disse ter falado com Jonas Gahr Store, homólogo da Noruega; Ulf Kristersson, da Suécia; e os presidentes do Conselho Europeu, António Costa e da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Von der Leyen, no X, disse que era “evidente” que se estava “a assistir a um padrão de contestação persistente nas nossas fronteiras“.

“As nossas infraestruturas críticas estão em risco. E a Europa responderá a esta ameaça com força e determinação“, continuou.

Já o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, em declarações disponíveis no site da aliança, mostrou-se mais cauteloso face a quem poderá estar por trás dos incidentes com os drones, comentando que era “demasiado cedo” para averiguar isso.

Ainda assim, Rutte admitiu que aeronaves russas que ameacem o espaço aéreo da aliança atlântica possam vir a ser abatidas, dizendo que essas decisões são tomadas “em tempo real” em cada momento.

“A nossa mensagem aos russos é clara: defenderemos cada centímetro do território aliado”, garantiu o secretário-geral, que assegurou que os aliados se podem sempre “defender e dissuadir quando necessário”.

“Somos uma aliança defensiva, sim, mas não somos ingénuos, por isso vemos o que está a acontecer e se é intencional ou não — se não for intencional, então é incompetência flagrante. E, claro, mesmo que seja incompetência, ainda assim temos de nos defender“, continuou.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, negou veementemente as acusações na conferência de imprensa diária do Kremlin, dizendo que, para ele, quanto mais acusações são feitas, menos são credíveis.

“Talvez um lado que assume uma posição séria e responsável não devesse fazer tais acusações infundadas repetidamente“, disse, citado pela RIA Novosti.

O embaixador russo na Dinamarca, Vladimir Barbin, citado pela mesma agência russa, garantiu que as suspeitas são “infundadas” e que a “Rússia não está interessada numa maior escalada da tensão na Europa, que pode ter consequências imprevisíveis”.

“Por trás do incidente no céu sobre o aeroporto de Copenhaga, percebe-se uma tentativa óbvia de provocar os países da NATO a um confronto militar direto com a Rússia“, continuou, sublinhando que “não se pode tolerar isso”.

Apesar das negações russas, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, revelou no site da Presidência ucraniana que discutiu, num encontro com a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, as “violações russas do espaço aéreo de membros da NATO, incluindo Copenhaga”.

Questionado na conferência de imprensa, o inspetor dinamarquês recusou comentar a acusação de Zelensky, mas garantiu que não estava a querer omitir nada. “Não é porque não o quero fazer, é porque, simplesmente, não sei”, disse, citado pela BBC.

Como foi mencionado antes por Mette Frederiksen, o aeroporto de Copenhaga não foi o único a encerrar na segunda-feira. Na capital norueguesa de Oslo, o aeroporto também encerrou por três horas, depois de duas supostas observações de drones lá perto, segundo o órgão de comunicação social NRK.

Esta terça-feira, o diretor da polícia norueguesa Håkon Skulstad foi cauteloso: Ainda não está claro o que foi observado. Há interpretações contraditórias das observações feitas“, continuou.

Questionado pelo jornal Dagbladet, o primeiro-ministro chamou ao incidente de “realmente lamentável e preocupante” e admitiu que pode haver “algumas ligações” com o incidente em Copenhaga. Algum tempo antes, nesta terça-feira, num comunicado a condenar a entrada dos aviões russos em vários países da NATO, o líder tinha revelado que a Rússia já tinha violado “três vezes” o espaço aéreo norueguês “na primavera e no verão”.