O antigo presidente do PSD, Rui Rio, defendeu a candidatura de Henrique Gouveia e Melo, da qual é mandatário, numa entrevista à RTP em que avisou que uma vitória de Luís Marques Mendes nas próximas presidenciais, “abria muito as portas a uma vitória do Chega nas próximas legislativas”.

“Se o Dr. Luís Marques Mendes ganhasse as eleições, nós estávamos a eleger para a Presidência da República um protótipo do que é hoje a política. É das pessoas que melhor encarna as virtudes e defeitos que a política de hoje tem“, disse Rio, sublinhando que isso alimentaria o “descontentamento que existe na sociedade portuguesa” face ao “sistema”.

Portugal, para o antigo líder partidário, precisa de “um Presidente da República que seja de fora do sistema” mas “que seja pelo sistema”.

“Eu quero um Presidente que possa acender uma luz aos portugueses. Uma luz de esperança”, sublinhou, dizendo que essa luz não será “acesa” se “elegermos um Presidente da República que tem uma obediência partidária, uma ligação a interesses instalados, interesses corporativos”.

“Se não for um homem livre, ele, para lá de estar condicionado na sua ação, não vai acender uma luz de esperança às pessoas”, continuou. Assim, para Rio, Gouveia e Melo é “o único candidato que pode travar o descontentamento”, nomeadamente, “travar o voto no Chega“, sublinhou.

Se Gouveia e Melo for eleito, acrescentou Rio, “Portugal diz: ‘Alto! Está na Presidência da República, um homem que é crítico do sistema, que também está descontente e que vai procurar construir’”. O mandatário compara com o Chega, que “só destrói, só critica”.

Rio caracteriza mesmo “todos os outros candidatos” como sendo de dentro do sistema, incluindo Marques Mendes e até André Ventura.

“Quando criticamos [Ramalho] Eanes por criar um partido a partir da Presidência da República, […] André Ventura é pior, leva o partido para dentro do Palácio de Belém“, sublinhou, lembrando a criação do Partido Renovador Democrático enquanto Ramalho Eanes ainda era chefe de Estado, em 1985.

Questionado sobre se o seu candidato queria o apoio de André Ventura, o antigo autarca disse que, na sua opinião face ao que conhece de Gouveia e Melo, “não queria ter o apoio de partido nenhum“.

“Porque isso podia ferir um bocado a imagem de independência e de homem completamente livre, que ele tem”, elaborou. “Coisa diferente é aceitar os votos das pessoas que votaram no Chega, no PSD, ou até no Partido Comunista ou no Bloco de Esquerda”, distinguiu ainda o mandatário, que diz que o ex-almirante quer os votos de “todos”.

Quer o apoio formal do Chega à candidatura? Eu acho que não, que nunca quis isso“, rematou.

Questionado sobre as eleições autárquicas no Porto, Rui Rio considerou que a cidade que liderou entre 2002 e 2013 está “em mau estado“, apontando “o trânsito, a segurança, a habitação, os próprios serviços municipais” como os principais problemas da cidade.

“Nós precisamos de programas que visem a qualidade de vida”, apontou ainda sobre a cidade, sublinhando que se está a “encaixotar mais pessoas” no Porto “com reflexos terríveis no trânsito e na mobilidade”.

As críticas mais fortes lançadas por Rio à autarquia de Rui Moreira desde 2014 foram mesmo direcionadas ao Metrobus, que disse estar a ter uma “péssima gestão” e ser uma “cena gaga, impensável” e uma “falta de respeito” — especialmente no que toca ao início das obras da segunda fase do projeto a pouco tempo das eleições autárquicas.

Segundo o ex-Presidente da Câmara, “o Metro nunca fez um centímetro sem um acordo” com a Câmara enquanto ele a liderou e era esta gestão municipal que podia “travar” o início desta nova fase do projeto.

Sobre as listas que vão a eleições no Porto, Rui Rio sublinhou que “se os candidatos forem mais enfáticos a pedir à Câmara que pare isto […], vão ganhar votos”.

E o antigo autarca, sem apoiar diretamente qualquer candidatura, aponta uma maior inabilidade de crítica aos partidos no centro político: o Partido Socialista, que apresenta Manuel Pizarro a votos e o Partido Social Democrata, que tem uma candidatura encabeçada por Pedro Duarte.

“O PS está absolutamente incapaz de fazer qualquer crítica à gestão camarária atual. Eu acho que perde com isso. Até pode ganhar as eleições, mas se ganhar com 10, podia ganhar com 20″, atacou Rui Rio, considerando ainda que “gostava de ver o PSD a ser mais enfático“.

Quem tem feito “a crítica mais forte e mais incisiva” à atual gestão de Rui Moreira, diz, é mesmo “o Chega”, que apresenta Miguel Côrte-Real, ex-PSD e antigo apoiante de Rui Rio dentro do partido.

Prevejo que o Chega vai ter um bom resultado, a não ser que os outros candidatos comecem a ser mais incisivos e a falar mais aquilo que o povo sente. Porque eu acho que aquilo que eu digo é o que o povo sente”, concluiu.

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