© Ishita Sitwala | The Fishy Project
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https://www.archdaily.com.br/br/1032060/casa-ms-studio-saransh
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Descrição enviada pela equipe de projeto. A arquitetura brutalista pode se integrar à natureza de forma tão íntima que pareça moldada pelas próprias árvores? A Casa MS, projetada pelo Studio Saransh em Ahmedabad, propõe uma resposta arrojada. O ponto de partida do projeto é claro: preservar, a todo custo, os nove pés de neem existentes no terreno. A partir dessa premissa, o concreto molda-se à vegetação, definindo desde a implantação até a paleta de materiais. Essa abordagem sensível ao lugar é uma marca do estúdio, que valoriza soluções funcionais combinadas a uma linguagem arquitetônica expressiva.
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Esse vínculo com a natureza se manifesta logo na chegada. Um dos muros se curva para preservar o tronco de uma árvore, enquanto um galho inclinado sobre a entrada antecipa a presença da vegetação. Um corredor estreito e dramático, com aberturas quadradas nas paredes, guia o visitante para o interior da casa. Esses vãos, distribuídos com precisão, criam jogos de luz e sombra ao longo do percurso e revelam fragmentos do jardim ao redor. Já no interior, os ambientes se organizam em torno de um pé-direito duplo que acolhe uma das árvores como protagonista. Voltado para o eixo leste-oeste, esse espaço é onde a família toma chá e realiza as refeições diárias sob as copas.
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“O vão central é mais que um elemento de projeto — é a alma da casa”, explica Malay Doshi, arquiteto principal do Studio Saransh. Ele conecta dois blocos principais: de um lado, a sala, a varanda e o jardim; de outro, o quarto de hóspedes, a cozinha e os serviços. “Cada detalhe da Casa MS nasceu do terreno e das necessidades dos moradores. Acreditamos que um bom projeto deve integrar função, identidade e meio ambiente de forma fluida”, complementa Kaveesha Shah, designer de interiores e diretora do estúdio.
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Planta do Térreo
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Planta do Primeiro Andar
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No pavimento superior, o vão se transforma em um mezanino de estudos com vista para o espaço central. Cada cômodo estabelece sua própria relação com as árvores. O quarto principal, situado sobre a sala, se abre para uma varanda sombreada que mira as copas. Os quartos das filhas, voltados para os fundos, aproveitam o silêncio do jardim. Acima, um terraço com lounge, bar e lavabo oferece um espaço de convivência ao ar livre, em meio à vegetação elevada.
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O paisagismo contribui para diluir as fronteiras entre construção e natureza. Além das árvores preservadas, foram introduzidas espécies tropicais e nativas, criando camadas de vegetação. Um espelho d’água próximo à entrada reforça a ambiência natural com sons e reflexos. No terraço, trepadeiras plantadas ao longo do guarda-corpo foram pensadas para, com o tempo, recobrir suavemente os volumes de concreto e torná-los mais orgânicos.
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A estética brutalista aparece com força nas fachadas, onde volumes marcados se escondem parcialmente sob a vegetação. Aberturas quadradas e peitoris inclinados intensificam os efeitos de luz e sombra. O concreto ripado faz referência à textura da madeira e suaviza a rigidez da geometria. Mas, por trás dessa aparência bruta, a Casa MS revela sua maior conquista: ser um lar acolhedor, resultado do trabalho colaborativo entre arquitetura e design de interiores.
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Nos interiores, a paleta de materiais mantém a coerência. Paredes de concreto e reboco de cal, associadas a pisos de pedra Kota cinza, criam continuidade entre dentro e fora. No vão central, o acabamento em couro de Kota remete às tábuas de concreto moldado, reforçando o caráter externo do ambiente. Em outras áreas, o piso é polido, mais suave ao toque. A mesa de jantar, desenhada pela TDW, tem detalhes em jacarandá e acompanha as linhas da arquitetura; é acompanhada por cadeiras de teca com palhinha da Mistry at Finest e uma luminária paramétrica feita em parceria com o Andlabs. Na sala, o concreto polido se combina a painéis de teca Valsadi certificada. Dois núcleos de estar organizam o mobiliário: um mais descontraído, com sofá em L sob medida, poltrona Eames e luminária Arco da Flos; outro mais formal, com luminárias de tecido e tapete artístico da Jaipur Rugs.
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Os dormitórios expressam a individualidade de cada morador, sempre em diálogo com a natureza. No quarto principal, o concreto aparente e o piso de Kota com detalhes em terrazzo contrastam com a cama de dossel, cuja base é de pedra e as colunas, de madeira. Os quartos das filhas apresentam estilos distintos: um com paredes em grafite; outro em verde sálvia, com piso de terrazzo em mármore esverdeado — cores que também se refletem nos banheiros privativos. O quarto de hóspedes, pensado para os pais idosos, tem uma atmosfera serena, com tons neutros e poucos elementos decorativos.
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Os banheiros têm presença marcante e foram pensados com atenção ao detalhe. A suíte principal recebe luz natural por duas claraboias: uma redonda, sobre a bancada; outra quadrada, no chuveiro. No lavabo preto do terraço, janelas piso-teto se voltam para árvores de champá, criando uma atmosfera de pátio. A cuba de concreto sob medida, feita com a Artemis Cast Stone, é suspensa, permitindo que o olhar percorra livremente o espaço. Persianas de madeira garantem a privacidade.
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A sustentabilidade é um dos pilares do projeto. Mais do que preservar as árvores, a Casa MS aproveita sua orientação para favorecer ventilação cruzada e luz natural. O ganho térmico é reduzido por vidros duplos, sombreamento eficaz e paredes duplas. O gazebo conta com painéis solares que suprem entre 70% e 80% da demanda energética. O reboco de cal substitui tintas convencionais, tornando os ambientes mais saudáveis. A escolha dos materiais também é criteriosa: madeiras reaproveitadas foram transformadas em móveis e sobras de mármore deram origem a aparadores — tudo pensado para reduzir desperdícios.
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A Casa MS mostra como a arquitetura pode se enraizar na tradição construtiva de Ahmedabad sem abrir mão de sua relação com a natureza. A geometria brutalista é suavizada pela vegetação, revelando que esse estilo pode coexistir com leveza e organicidade. “O nível de personalização, desde o concreto até os interiores, é fruto da colaboração contínua entre nossos times”, afirma Kaveesha. Para Malay, “mais do que uma expressão formal, a Casa MS representa o que é preciso para transformar uma casa brutalista em um lar.” Cada elemento expressa a convicção do estúdio de que “as tradições arquitetônicas devem evoluir, dialogar com o entorno natural e permanecer fiéis à sua essência”.
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