André Ventura levou duas teses para atirar contra o Governo de Luís Montenegro: colou o atual Executivo ao governo de António Costa e deixou no ar uma dúvida sobre o que será feito no caso da lei dos estrangeiros. No dia em que o Governo entregou uma nova versão do diploma que tinha sido fiscalizado a pedido de Marcelo Rebelo de Sousa e chumbado pelo Tribunal Constitucional, o líder do partido que ajudou a dar luz verde na Assembleia da República recuou.

Foi o tema em que Ventura mais criticou Luís Montenegro, sugerindo que o Parlamento devia ter “confirmado”  o diploma (o que não seria possível, tendo o chumbo vindo do TC), justificando que os votos valem mais do que o respeito pelo Presidente da República — atitude que valeu uma lição institucional de Montenegro a Ventura — e prometendo que “não volta atrás”. Se a ameaça do líder do Chega se confirmar, Ventura, que garantiu que no partido “ninguém foi informado”, pode mesmo deixar o Governo sem condições de aprovar as novas alterações.

O presidente do Chega não largou o tema da imigração que, aliás, começou com uma colagem entre os problemas da Saúde e o aumento do número de imigrantes em Portugal, e fez mesmo questão de lembrar Luís Montenegro que “é primeiro-ministro de Portugal e não do Bangladesh”. “Não é uma birra”, sublinhou. No debate quinzenal, Ventura afirmou ainda que o reconhecimento do Estado da Palestina é um “tiro no coração dos valores” da direita.

José Luís Carneiro resumiu os 100 dias deste Governo a uma palavra: “Falhanço.” O secretário-geral do PS criticou o estado da Educação, da Habitação e da Saúde, acusando até o Governo de “lançar foguetes” quando “cresce sempre abaixo do crescimento dos governos socialistas”. Acusou ainda Montenegro de “propaganda”, crente de que as medidas anunciadas no arranque do debate, no caso da Habitação, “vão agravar o problema da falta de habitação nos grandes centros urbanos e no país” e que não houve concertação no que toca a vagas nas escolas. No final, crê Carneiro, primeiro-ministro virá mais tarde “reconhecer que [o PS] tinha razão” no caso da Educação.

Mariana Leitão, líder da Iniciativa Liberal, considerou que o Governo “não sabe números de nada” e que isso afeta o tal “impulso reformista” que Montenegro tem prometido, desde logo ao apostar num Ministério dedicado à Reforma do Estado. “Faltam números claros, reformas sérias e respeito pelo dinheiro dos portugueses. Não basta tentar copiar ideias da IL, é preciso ter coragem para as implementar”, atirou a liberal, acusando o Estado de “não [fazer] a mínima ideia a quem está a pagar” e de apresentar números que apontam uma “discrepância” no número de professores no ativo. E não ficou esclarecida quanto à dúvida levantada: “Sabe se está a pagar salários a mais ou não?”

Rui Tavares não deixou passar em branco o reconhecimento do Estado da Palestina, mas deixou claro que “não é suficiente”, referindo que, entre outros, é necessário enviar apoio humanitário e apoiar processos de crimes de guerra que terão sido cometidos. De resto, criticou as alterações previstas na Lei Laboral, argumentando que há “excedentes” na Segurança Social porque “os trabalhadores que estão a aguentar o barco”, desde logo sublinhando o trabalho dos imigrantes. Pelo caminho, uma farpa à IL, comparando as proposta do Governo, que criticou, com a narrativa dos liberais de “despedir funcionários públicos”, e lembrando que nesse caso estes deixariam “de contribuir e [passariam] a receber subsídio de desemprego”.

Paulo Raimundo também lembrou a questão da Palestina, ainda que tenha considerado que Portugal “há muito tempo” que devia ter feito esse reconhecimento. Sobre Portugal, respondeu ao “farol” que Montenegro trouxe ao debate para criticar o “o farol da propaganda da ilusão”, comparando-o com o “país real”. Disse ainda que a política está a “dar os resultados” que o Governo queria, com “o preço das casas a disparar e o cartel da banca a encher”, e atirou-se a PSD, CDS, Chega e IL porque “decidem baixar os impostos aos mais poderosos” beneficiando a “negociata do IRC”. Quanto às alterações laborais, o líder comunista considera-as “inaceitáveis”.

A estreante Andreia Galvão, que está a substituir Mariana Mortágua, que se encontra na flotilha humanitária para Gaza, quis saber se o reconhecimento da Palestina “implica uma ação contra o genocídio”. Mais do que isso, a deputada do Bloco de Esquerda entendeu que “há uma “asfixia” que se sente na alimentação, salário e habitação e salientou que “futuro está a ser roubado aos jovens portugueses”, sugerido que o fim do limite de aumento das rendas não resolveu o problema e acusando o Governo de “eternizar o trabalho temporário”.

Pelo PAN, Inês Sousa Real considerou que o Governo tem um “problema grande” dentro do Ministério da Agricultura”, referindo-se ao secretário de Estado João Moura. Não só questionou Luís Montenegro sobre quando manda o governante “para a reforma” — uma questão que Montenegro resumiu a um “ataque pessoal” — como sugeriu que até o ministro da Agricultura “já foge” dele. Também o JPP, na voz de Filipe Sousa, criticou um país em que jovens e famílias têm dificuldades, bem como há “maternidades [que] fecham e urgências [que] colapsam”, questionando sobre o que será feito para garantir “mobilidade digna e acessível para quem vive nas regiões autónomas”.

Ao cair do pano, Paulo Núncio criticou Mário Centeno para dar todos os louros possíveis e imaginários ao Governo, colocando em oposição o “país da ficção do Governador Mário Centeno e o país real”. “Mário Centeno enganou-se em toda a linha, antecipou cenários pessimistas que nunca se confirmaram”. Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, acabou por dar força à ideia de Luís Montenegro do “só gostam de falar mal”, concluindo a questionar “quantos deputados lhe fizeram perguntas sobre habitação” e quantos “saudaram o Governo por baixar impostos” — e a poupar o primeiro-ministro, antecipando-se à resposta: “Zero.”

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