Os ataques e as explosões no Mediterrâneo foram denunciados pelos membros que integram a flotilha, composta por 51 barcos onde seguem cidadãos de 45 países. As investidas israelitas terão apenas provocado dificuldades nas comunicações, mas não houve registo de feridos ou de danos materiais significativos nas embarcações, que navegam ao largo da costa grega.A primeira-ministra italiana reagiu horas depois, criticando a iniciativa humanitária, classificando-a como “gratuita, perigosa, irresponsável”. Apesar das críticas, Giorgia Meloni condenou “ataques com drones”.



“Tudo isto é gratuito, perigoso, irresponsável”
, afirmou Giorgia Meloni à imprensa, na quarta-feira. “Não se deve arriscar a própria segurança, não é necessário ir a um teatro de guerra para entregar ajuda a Gaza, que o Governo italiano e as autoridades competentes poderiam ter entregado em poucas horas”.


Horas depois, o ministro italiano da Defesa anunciou que Itália vai enviar um segundo navio da Marinha para escoltar a flotilha internacional de ajuda humanitária.

“Perante o ataque perpetrado nas últimas horas contra os navios da flotilha Sumud, que inclui também cidadãos italianos, e perpetrado com drones por autores ainda não identificados, não podemos deixar de expressar a nossa mais forte condenação”, afirmou Guido Crosetto em comunicado.


Entretanto, o chefe da diplomacia e vice-primeiro-ministro italiano, Antonio Tajani, está a trabalhar numa proposta de mediação com as autoridades israelitas. Segundo a primeira-ministra, o plano envolve canalizar a ajuda para Chipre e, posteriormente, ao Patriarcado Latino de Jerusalém, que assumirá a responsabilidade pela entrega da ajuda alimentar.

Nas Nações Unidas, esta quinta-feira, a primeira-ministra italiana citou o conflito na Faixa de Gaza, denunciando que Israel “excedeu” a sua resposta aos ataques do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) a 7 de outubro de 2023, “violando as normas humanitárias e provocando um massacre de civis”.

Meloni anunciou, nesse sentido, que Roma apoiará “algumas das sanções propostas pela União Europeia” contra as autoridades israelitas, embora não tenha especificado quais.

“Israel deve escapar à armadilha desta guerra. Deve fazê-lo pela história do povo judeu, pela sua democracia, pelos inocentes, pelos valores universais do mundo livre de que faz parte”, declarou.

E, para pôr fim a uma guerra, “são necessárias soluções concretas”, acrescentou Meloni, insistindo: “a paz não se constrói apenas com apelos ou proclamações ideológicas aceites por aqueles que não a querem”.

Espanha exige “cumprimento da lei internacional”
Seguindo o exemplo do Governo italiano, o primeiro-ministro espanhol anunciou, na noite de quarta-feira, o envio de um navio de ação marítima para auxiliar a flotilha humanitária em caso de ataque. O navio vai partir ainda esta quinta-feira do porto de Cartagena, em Múrcia.


“O Governo de Espanha exige que se cumpra o direito internacional e que se respeite o direito dos nossos cidadãos de navegar pelo Mediterrâneo em condições de segurança”
, declarou Pedro Sánchez, durante um discurso na Assembleia-Geral da ONU.

Nesse sentido, o chefe de Governo anunciou que “vai zarpar de Cartagena um navio da Marinha equipado com todos os meios para ajudar a flotilha e realizar algum resgate”.

Sánchez aproveitou para reiterar o compromisso de Espanha com o reconhecimento do Estado palestiniano e com uma solução política baseada na coexistência de dois Estados e no fim da violência na faixa.


“Portugal tem a mesma obrigação”

Em reação ao novo ataque contra as embarcações, a coordenadora nacional do BE, que integra uma flotilha que visa levar ajuda humanitária até à Faixa de Gaza, apelou a uma mobilização social em Portugal para pressionar o Governo a proteger esta missão.

“A vossa mobilização e capacidade de pressionar o governo português, que tem sido dos governos com as reações mais tímidas, mais vergonhosas até em relação à flotilha e à sua proteção, a vossa pressão é essencial para garantir a segurança desta flotilha, um corredor humanitário, e para contribuir para acabar com o genocídio”, apelou Mariana Mortágua, num vídeo divulgado no Instagram.

Na ótica de Mariana Mortágua, a única coisa que separa esta noite a flotilha de ser alvo “de um ataque mais violento é a capacidade de mobilização social, e de mobilização dos governos e essa mobilização já deu resultados”.



“Em Itália, onde houve mobilização com greves, o governo italiano condenou os ataques à flotilha de ontem e mandou um navio da Marinha para poder de alguma forma salvaguardar e acompanhar a flotilha. Em Espanha, o ministro dos Negócios Estrangeiros já criticou publicamente os ataques a esta flotilha e garantiu que haveria consequências”
, exemplificou.

Também Catarina Martins, candidata às eleições presidenciais pelo mesmo partido, defendeu que Portugal devia seguir o exemplo de Itália e de Espanha e proteger a flotilha humanitária.

Numa publicação na rede social X, escreveu que “Portugal tem a mesma obrigação” e lembra que há um barco com bandeira portuguesa e cidadãos nacionais a bordo.

Segundo a bloquista, o Governo português tem de agir no quadro do direito internacional e humanitário.

A flotilha Global Sumud, composta por cerca de 50 navios com ativistas, políticos, jornalistas e médicos de mais de 40 nacionalidades, incluindo a ecologista sueca Greta Thunberg, é considerada a maior flotilha organizada até ao momento.