O futuro não é uma versão modificada do presente. É o resultado das escolhas, ou da falta delas, que fazemos agora.

Costumamos pensar que o futuro é apenas uma versão modificada do presente. Não é. A história mostra-nos que a forma como uma sociedade encara os seus desafios pode determinar se prospera ou se entra em colapso.

Recentemente li o livro Colapso: Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso, de Jared Diamond, que analisa precisamente esta questão. O autor procura perceber porque é que algumas civilizações desapareceram, enquanto outras conseguiram resistir e reinventar-se perante crises. É uma leitura que recomendo vivamente, não só pela profundidade histórica, mas pela atualidade das suas conclusões.

De forma acessível, Diamond identifica cinco fatores que influenciam o destino das sociedades. O primeiro são os danos ambientais, resultantes do uso excessivo ou da má gestão dos recursos naturais. O segundo são as alterações climáticas, que impactam diretamente a agricultura, a disponibilidade de água e as condições de vida. O terceiro fator prende-se com conflitos externos, desde vizinhos hostis a pressões militares. O quarto é a dependência de parceiros estratégicos, que pode fragilizar sociedades quando perdem aliados ou relações de comércio essenciais. Por fim, o quinto fator é talvez o mais decisivo: a resposta interna da sociedade, ou seja, a sua capacidade de reconhecer os problemas e adaptar-se a tempo.

As sociedades modernas enfrentam muitos dos mesmos riscos, mudanças climáticas, sobrecarga dos ecossistemas, crescimento populacional, dependência de cadeias de abastecimento globais, má gestão de recursos naturais. Mas no meu entender o mais grave são os problemas culturais que temos pela frente. Vivemos num contexto marcado por polarização política e social, onde a desinformação circula mais depressa do que a verdade e onde a capacidade de trabalhar em conjunto parece cada vez mais rara. Nestas condições, o risco não está apenas nas alterações climáticas, na degradação ambiental ou na instabilidade geopolítica. O risco está também dentro de portas, na dificuldade em construir consensos mínimos que nos permitam responder de forma eficaz.

Se não formos capazes de reajustar valores e reencontrar pontos de convergência, corremos o perigo de repetir os erros das civilizações que colapsaram. A diferença é que hoje o colapso não seria localizado, mas global.

O futuro não é uma versão modificada do presente. É o resultado das escolhas, ou da falta delas, que fazemos agora.