À semelhança da relação com a Europa e com os países árabes, a relação com os Estados Unidos também pesa na nova posição de Roma sobre a Palestina. Mas, neste caso, na direção contrária. Enquanto europeus e árabes se inclinam para uma posição mais próxima da Palestina, os Estados Unidos assumem-se inequivocamente como pró-Israel. Reconhecer a Palestina colocaria Itália no alvo de Trump, prejudicando os esforços de Meloni para se manter próxima do líder norte-americano. “Meloni precisa de se manter leal a Trump“, analisa Cecilia Sottilotta, professora na Universidade para Estrangeiros de Perugia.

“Portanto, ela criou esta nova fórmula em que diz: nós reconhecemos a Palestina, mas só quando os reféns forem libertados e o Hamas não tiver um papel no Governo”, resume o professor Albertazzi, que não se coíbe de criticar esta posição. “Isto não faz sentido“, declara, uma vez que considera que a segunda condição não pode ser assegurada para sempre.

As mudanças de posição, ora mais próximas da Europa, ora mais próximas dos Estados Unidos, permitem continua a contornar e a adiar uma decisão oficial de reconhecimento do Estado da Palestina. “É o que podemos esperar. Quando se trata de política externa, eles decidem primeiro onde é que vão acabar e, depois, vão à procura de razões para a justificar essa posição”, elabora o professor. A justificação tanto pode ser que reconhecer a Palestina neste momento é legitimar o Hamas, como dizer que o processo é meramente simbólico, desvalorizando-o — duas posições defendidas por Meloni e pelo seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Antonio Tajani, em declarações em Nova Iorque.

Na passada segunda-feira, na véspera de começar em Nova Iorque o principal encontro da ONU, Itália foi palco de uma greve geral, que levou às ruas cerca de 500 mil pessoas, segundo números citados pela Euronews. Os protestos organizados por grupos pró-Palestina exigiam a Giorgia Meloni que se alinhasse com os restantes aliados europeus no reconhecimento da Palestina.

A dimensão dos protestos reflete uma mudança generalizada na opinião pública italiana. Segundo um inquérito da empresa YouTrend, citado pelo mesmo canal, mais de 60% da população acredita que Israel está a cometer genocídio em Gaza, que respondeu de forma desproporcional aos ataques do 7 de Outubro e que deveria retirar-se totalmente do enclave palestiniano. Já a empresa Only Numbers revela que 40,6% dos italianos apoia o reconhecimento do Estado da Palestina — a opção mais popular entre todas as apresentadas, que incluíam também o apoio de um governo de transição.