Filipe Araújo, candidato independente à Câmara Municipal do Porto, tem entre os seus proponentes várias figuras ligadas ao universo socialista, incluindo atuais candidatos aos órgãos municipais da cidade. É o caso de Julieta Sampaio, candidata efetiva a vereadora na equipa de Manuel Pizarro (é a última da lista), Paula Roseira, candidata do PS a presidente da Junta de Lordelo e Massarelos, Andreia Dias, que concorre nas listas do partido pela Junta de Paranhos, ou de Hugo Girão, candidato à Junta de Ramalde.
Ao Observador, a direção de campanha do PS disse ignorar a situação. “Desconhecemos que algum dos cerca de 400 portuenses que integram as nossas listas seja subscritor de um movimento independente.” Recorde-se que todos os candidatos autárquicos têm de recolher um determinado número de assinaturas para se poderem apresentar a votos — no caso do Porto, são 4 mil.
Segundo apurou o Observador, através da consulta de documentos, estas figuras do universo socialista constam efetivamente dos proponentes da candidatura de Filipe Araújo à Câmara Municipal do Porto. O caso de Julieta Sampaio pode ser mesmo o mais complexo. É que a Comissão Nacional de Eleições diz, no seu ponto 60, que um cidadão não pode ser simultaneamente proponente de uma candidatura e integrar outra equipa que concorra ao mesmo órgão autárquico — sendo candidata a vereadora de Manuel Pizarro, em teoria, não poderia ser proponente da candidatura de Filipe Araújo à Câmara.
Existe ainda outro nome que salta à vista: o de Jorge Morgado, atual diretor de comunicação da Metro do Porto . “Assinei com todo o gosto”, confirma o próprio ao Observador, esclarecendo que, não sendo formalmente diretor de comunicação de Manuel Pizarro, é “amigo” e “ajuda” o candidato socialista.
Jorge Morgado, aliás, já serviu de arma de arremesso nestas autárquicas. No debate organizado pela SIC, Pedro Duarte acusou a Metro do Porto de estar ao serviço da máquina socialista e lembrou que o diretor de comunicação da Metro do Porto ajuda também à comunicação de Manuel Pizarro. Pormenor: há muito que os homens de Pedro Duarte alimentam a suspeita de que Filipe Araújo está articulado com o socialista nesta corrida à Câmara do Porto. Jorge Morgado fundou a agência K com Rui Neves Moreira, o diretor de campanha do socialista.
A equipa que rodeia Pedro Duarte — e que tem pontos de contacto com o núcleo mais próximo de Rui Moreira — sempre insinuou que a candidatura de Filipe Araújo era, na verdade, um cavalo de Tróia do PS para dividir o eleitorado à direita e, dessa forma, tornar mais difícil a vitória do social-democrata nas próximas eleições autárquicas. De resto, logo em julho, o antigo ministro dos Assuntos Parlamentares chegou a sugerir publicamente que Araújo é uma “bengala” a tentar “ajudar” Manuel Pizarro.
O ainda vice-presidente da Câmara Municipal do Porto sempre negou essa tese, naturalmente. Ainda assim, e o Observador explicava isso mesmo em janeiro, Filipe Araújo partiu para esta campanha sabendo que a vitória seria difícil mas que era mais vantajoso correr sozinho e, posteriormente, servir como um desbloqueador de maiorias, do que integrar uma grande coligação à direita onde o seu papel seria sempre diluído — Araújo foi várias vezes convidado para fazer da coligação de Pedro Duarte mas nem mesmo a intervenção direta de Luís Montenegro fez com que mudasse de ideias.
Do lado do PS, nunca se negou que Filipe Araújo terá uma palavra a dizer no dia seguinte às eleições. “No caso de Pizarro ganhar, em face do que se vê nas sondagens [e não ter maioria absoluta], o mais natural seria completar a maioria com Filipe Araújo, uma pessoa que conhece a cidade”, dizia ao Observador, em julho, fonte próxima da candidatura socialista. Nessa mesma altura, figuras próximas de Pedro Duarte tentaram, mais uma vez, convencer publicamente o independente a abdicar e a integrar a candidatura do social-democrata — hipótese que Araújo nem sequer quis considerar.
Rui Moreira também não esconde que não gosta da proximidade entre Pizarro e Araújo e que preferia que Pedro Duarte fosse o seu sucessor. Ver o seu número dois, com quem cortou violentamente, pretensamente disposto a fazer o jogo do socialista não tem deixado Rui Moreira particularmente satisfeito. Este episódio, na véspera do arranque oficial da campanha autárquica, não ajudará a melhorar o ambiente na corrida eleitoral ao Porto.
As listas entregues já motivaram uma troca de acusações entre as duas candidaturas. A coligação liderada por Pedro Duarte tentou impugnar as listas que o movimento independente apresentou às juntas de freguesia portuenses, alegando que deveriam ter sido entregues mais assinaturas, nomeadamente 3% do total de eleitores de cada freguesia e não apenas 1%, como foi feito. Filipe Araújo queixou-se de “bullying” e sugeriu que o social-democrata tinha medo da democracia. Esta sexta-feira, os candidatos enfrentam-se num debate organizado pelo Observador a partir da cidade do Porto, agendado para as 9h.
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