“Sou funcionário do Banco (de Portugal) há 35 anos, tenho uma carreira no Banco. O Banco de Portugal tem regras muito claras sobre o que os trabalhadores fazem depois de saírem do Conselho de Administração. Há inúmeros casos — Helder Rosalino, José Matos, Vítor Constâncio —, o meu caso não é diferente”, resumiu, referindo-se, sem ser explícito, ao cargo de consultor do Conselho de Administração do Banco de Portugal — algo que só pode acontecer se o novo governador o nomear.

Se Mário Centeno insistir em fazer declarações públicas sobre políticas públicas ou macro economia, os deputados do centro-direta alertaram para o risco de o Banco de Portugal falar a duas vozes: a voz do governador Santos Pereira e a voz do funcionário Centeno.

A questão das nomeações polémicas de Álvaro Novo (reconduzido perto do final do mandato de Centeno diretor do gabinete de apoio ao governador) e de Rita Poiares (mulher de Ricardo Mourinho Félix, ex-secretário de Estado de Centeno e que também foi para o BdP pela mão de Centeno) marcam os últimos dias do mandato de Mário Centeno, depois do jornal Eco ter noticiado os dois movimentos.

A maior parte dos deputados classificaram estas duas nomeações como “nomeações na 25.ª hora”, censurando o facto de se terem verificado nos últimos dias do seu mandato.

Mário Centeno garantiu que há uma continuidade na gestão do Banco de Portugal que não se comprime na transição de mandatos mas começou por abrir uma polémica com o deputado Alberto Fonseca (PSD) — o primeiro a tocar no tema, sem mencionar o nome de Rita Poiares, tendo sido acusado por Centeno de representar “o pior da sociedade” só por estar a exercer o seu direito de escrutínio enquanto deputado.

Mário Centeno relativizou a polémica em torno da recondução de Álvaro Novo para chefe de gabinete a poucos meses do fim do mandato como Governador do Banco de Portugal e garantiu que esse percurso termina com o seu fim de mandato.

“Foi uma recondução feita para completar o tempo do meu mandato e foi feita de acordo com as regras que vigoram desde 2016. É evidente que nem eu nem o meu chefe de gabinete tivemos a ideia e nem foi nossa intenção prolongar o cargo além do tempo que o cargo tem naturalmente na sua decorrência. Eu ainda não sei quando será esse dia e tenho de prover todas as soluções em todos os momentos no Banco de Portugal”, enfatizou.

E acrescentou: “Não é o professor Alvaro Santos Pereira que substitui o chefe de gabinete, porque a função do diretor de gabinete termina no dia em que Mário Centeno deixar de ser governador”.

No final, e após várias insistências do deputado Paulo Núncio (CDS) sobre se o Conselho de Administração do BdP tinha nomeado novamente Álvaro Novo para um novo cargo no Banco de Portugal na reunião desta quarta-feira, Mário Centeno lá respondeu afirmativamente. “Se considera isso uma nomeação, foi”, concluiu.

Contudo, não adiantou o cargo para o qual o seu amigo próximo foi nomeado. “Todas as decisões do Banco são tomadas em sede de Conselho de Administração. Não há nenhum fim de mandato, o Banco de Portugal não termina nem se renova no dia em que sair. Não há 25.ª hora, porque há uma continuidade do serviço. Todas são feitas pelo conselho de administração e não há rigorosamente nada escondido”, disse.

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