O Observador recebeu seis candidatos à Câmara Municipal do Porto para um debate rumo às autárquicas, mas o conflito girou sempre em torno de três: Manuel Pizarro, Pedro Duarte e Filipe Araújo têm contas a ajustar e isso transpareceu durante o tempo todo. À falta de um incumbente na sala — os candidatos lutam pela hipótese de sucederem a Rui Moreira, que acaba agora o seu terceiro e último mandato –, coube a Araújo, seu vice, apresentar-se como o herdeiro do moreirismo, contra PS e (sobretudo) PSD, que atacou com especial vigor.

Depois de o Observador ter noticiado que alguns candidatos das listas do PS foram proponentes da candidatura de Araújo, a tensão invadiu a sala e acabou com Pedro Duarte e Filipe Araújo a contradizerem-se sobre se o atual vice de Rui Moreira chegou, afinal, a ser convidado ou não para ser o nº2 de Duarte e desistir da sua candidatura — até porque no PS e no PSD existe a consciência de que os votos de Araújo poderiam funcionar como um “joker” que serviria para resolver a curta margem que os separa nas sondagens.

As negociações de bastidores não são, ao que parece, águas passadas, dado que o clima azedou na sala e o candidato do Bloco de Esquerda acabou por se ver obrigado a pedir aos candidatos que “evitem este tipo de conversas, que desmotivam as pessoas”.

Levando diferentes visões para a cidade — Pedro Duarte diz querer um Porto com mais qualidade de vida para quem já lá está, Pizarro diz que essa é a visão de um Porto “pequeno e paroquial”; Pizarro quer construir mais casas, os adversários chamam-lhe despesista — os candidatos mostraram o que os separa e fizeram pontaria aos alvos que mais querem atingir. Araújo acabou por ser o candidato que mais se lançou ao ataque — e Duarte o mais atacado.

Os candidatos do BE e CDU focaram-se em apontar defeitos ao moreirismo — preços das casas e excesso de turismo à cabeça — e ao Governo central, a que Pedro Duarte foi recorrentemente colado. E Miguel Corte-Real, do Chega, distribuiu críticas mas também quis fazer pontes — o seu maior inimigo talvez tenha sido a polémica obra do Metrobus, sobre a qual acabaria por rematar, com um desabafo: “Tanta coisa para no fim ser um autocarro”.

Ataques a Pedro Duarte: 4

A estratégia de ataque de Manuel Pizarro dificilmente poderia ter mostrado maior foco: o homem que aparece a uma curta distância de si nas sondagens, Pedro Duarte, foi o seu alvo único, não tendo gastado energias em críticas específicas a nenhuma outra candidatura. Pizarro guardou, no entanto, críticas duras a um outro protagonista que não estava na sala — o Governo, que tem intervenção em questões como a do polémico Metrobus –, aproveitando sempre que possível para colar a equipa de Montenegro a Pedro Duarte, seu ex-ministro dos Assuntos Parlamentares.

Numa altura em que o PSD acusa abertamente o PS de estar a patrocinar a candidatura de Filipe Araújo, uma vez que vários candidatos socialistas foram proponentes do independente, Pizarro não hostilizou Araújo — nem mesmo quando este o criticou — e focou-se no objetivo. Assim, foi a Duarte que apontou baterias e que descreveu como um “delegado do Governo no Porto” ou até como alguém que está “desconfortável” na pele de candidato. Quanto ao programa do rival, voltou a usá-lo para vincar diferenças: Duarte (que quer apostar na reabilitação e não na construção de novas casas) quer um Porto “pequenino e paroquial”, Pizarro quer uma cidade em crescimento e virada para o turismo (também para financiar a tal construção, que tantos adversários rotulam como um projeto despesista).

Depois de no primeiro debate televisivo ter ouvido Pedro Duarte a criticar a administração “socialista” do Metro do Porto e o facto de o seu diretor de comunicação, Jorge Morgado, ser também o responsável pela comunicação de Pizarro, o candidato socialista mudou de estratégia e adiantou-se, deslocando desde logo do Metro e criticando quem o “tutela” — ou seja, o Governo — para garantir que, se fosse presidente da câmara, não permitiria que o Executivo desse ordem para uma obra (neste caso o polémico Metrobus) avançar na cidade, nesta segunda fase. Um exercício de afastamento em relação à empresa que muito divertiria Pedro Duarte (para quem o Metrobus se deveria chamar “PSBus”).