O juiz de instrução Juan Carlos Peinado deu mais um passo, neste sábado, para o avanço do processo em que Begoña Gómez, mulher do chefe do Governo de Espanha, Pedro Sánchez, é acusada de peculato, recusando o arquivamento do processo pedido pela defesa.
A decisão foi noticiada quando ainda os meios de comunicação social de Espanha discutiam sobre se Begoña Gómez tinha ou não de estar presente na sala de audiências, já que o juiz a tinha intimado a comparecer.
O seu advogado, o antigo ministro Antonio Camacho, esclareceu que neste caso, a comparência era um direito, e não uma obrigação, apoiando-se numa circular de 1995 e sublinhando que a audiência nunca implicaria declarações das pessoas acusadas (arguidas).
As partes têm agora cinco dias para pedir novas diligências e, se nada acontecer, o juiz deverá abrir formalmente o processo no tribunal de júri, composto por nove pessoas.
Begoña Gómez está a ser investigada por alegada apropriação indevida de verbas relacionadas com a nomeação, em 2018, da sua conselheira Cristina Álvarez, também suspeita no caso, assim como de Francisco Martín, que foi secretário-geral da presidência, de quem dependia Álvarez. Álvarez e Martín optaram também por ter apenas os seus advogados presentes na sessão.
A defesa de Gómez baseou o seu pedido de arquivamento no facto de a mulher de Sánchez não ter nem participado na nomeação nem pago à assessora, noticia o diário El País.
Esta foi a quinta vez que Gómez foi intimada a comparecer perante o juiz de instrução Juan Carlos Peinado desde que a investigação foi iniciada, em Abril de 2024, após uma denúncia de um pseudo-sindicato sem associados, o Mãos Limpas, ligado à direita extrema e radical.
A abertura desta investigação levou Pedro Sánchez a admitir deixar a chefia do Governo nesse mesmo mês de Abril. Sánchez denunciou, então, um “ataque grave e grosseiro” contra a sua família, no contexto “do lamaçal em que a direita e a extrema-direita tentam transformar a política”.
A organização ultra-católica Hazte Oír, que participou na acusação, convocou para a tarde de sábado uma manifestação junto ao tribunal com as palavras de ordem “Já não há desculpas! Begoña será julgada!”, além de ter carros com fotografias de Sánchez e da família que acusou de pertencerem a uma “máfia” a circular nas redondezas.
O secretário-geral do Partido Popular (PP, direita, principal partido da oposição), Miguel Tellado, criticou na rede social X (antigo Twitter) o presidente do Governo e a mulher. Porque “há um ano Sánchez prometeu colaborar com a Justiça: não prestou declarações”, e “há menos de um mês voltou a prometê-lo em prime time: hoje a sua mulher não apareceu na audiência”.
Portanto, afirma Tellado, “há algum tempo que [Sánchez] está condenado politicamente” e por isso, “chegou a altura de que os espanhóis possam eleger um Governo”.
De acordo com o diário ABC, a acusação popular pediu formalmente que sejam ouvidos como testemunhas o presidente do Governo, Pedro Sánchez, e o ministro da Presidência, Justiça e Relações com as Cortes, Félix Bolaños.
Luis Pardo, advogado do partido Iustitia Europa, que integra estas acusações, diz que serão pedidas diligências substanciais. Estas poderiam incluir o testemunho de Sánchez.
Pardo declarou ainda que é “reconfortante” caso haja um processo por peculato, este ser julgado por um tribunal de júri.
O presidente da Hazte Oír, Ignacio Arzuaga, pediu também eleições. Arzuaga diz que o movimento tem dois objectivos: acabar com a corrupção e conseguir eleições antecipadas. “Acreditamos que o vamos conseguir, e esperamos que seja o quanto antes”, cita a Europa Press.
Além da acusação por peculato em ligação com a contratação da assessora que estava em foco na sessão deste sábado, a mulher de Sánchez é ainda acusada de tráfico de influências, corrupção empresarial, apropriação indevida de marcas registadas e intrusão durante o seu mandato como co-directora de dois programas de mestrado e catedrática especial na Universidade Complutense de Madrid.