O debate deixou claro que a corrida à Câmara do Porto está longe de ser um duelo pacífico. Entre comparações internacionais, acusações de incoerência e promessas de rendas acessíveis, os candidatos mostraram que as próximas semanas vão ser disputadas não só nos números e nas propostas, mas também no campo das críticas pessoais
Porto(CNN Autárquicas 2025) – O debate deste sábado na CNN Portugal, que juntou sete candidatos às eleições autárquicas no Porto, ficou marcado pelo confronto direto entre Manuel Pizarro, candidato do Partido Socialista, e Pedro Duarte, candidato em representação do PSD, CDS-PP e Iniciativa Liberal. A habitação, a mobilidade e o turismo dominaram a noite, num palco em que os restantes candidatos aproveitaram para atacar as propostas dos dois principais adversários.
Logo na abertura, a habitação incendiou a discussão. Pedro Duarte recusou-se a fixar um valor para uma renda acessível, defendendo que “as rendas dependem do rendimento das pessoas” e prometendo antes incentivos fiscais para colocar mais casas no mercado.
Manuel Pizarro acusou-o de fugir ao concreto e apresentou números. “É preciso acabar com a política que não explica nada. A minha proposta é clarinha. Um T1 custará 400 euros, um T2 custará 550 euros, um T3 custará 700 euros”. O socialista disse ainda que quer usar terrenos públicos disponíveis e estabelecer parcerias para garantir esses valores.
A proposta de Manuel Pizarro foi alvo imediato de fogo cruzado. Diana Ferreira (CDU) considerou que os preços são “excessivos” para famílias com baixos rendimentos, enquanto Nuno Cardoso (Movimento Porto Primeiro) acusou-o de repetir políticas falhadas de oito anos de governação socialista. Já Filipe Araújo (Movimento Fazer à Porto) classificou a ideia como uma “fantasia para prometer tudo a todos”. Pedro Duarte disse tratar-se de uma proposta “perigosa e pouco inteligente”.
O debate aqueceu mais quando Pedro Duarte acusou os restantes candidatos de quererem transformar o Porto na “nova Amadora”, a cidade do país que tem mais habitantes por metro quadrado.
“Construir mais é criar a nova Amadora no Porto. A minha visão de cidade não é a Amadora. É Viena, Copenhaga, Bilbau, Seoul, Berlim. Este é o ponto onde o Porto tem de estar, não é ao nível da Amadora ou de Odivelas”, disse o candidato social-democrata.
A resposta não tardou. Manuel Pizarro ironizou: “No meio destas viagens entre Viena, Copenhaga e Seoul, Pedro Duarte tem passado muito pouco tempo nesta cidade”.
À esquerda, Sérgio Aires (BE) sublinhou que as cidades-modelo citadas por Pedro Duarte têm mais de 30% de habitação pública e lançou a provocação: “É isso que eu espero que ele faça no Porto, caso seja eleito”.
A tensão cresceu também em torno do metrobus. Pedro Duarte lamentou que não tenha sido travada a segunda fase do projeto, mas acabou desafiado por Miguel Corte-Real, do Chega, que o acusou de ter estado num Conselho de Ministros onde a decisão foi aprovada.
“Primeiro temos Pedro Duarte a fazer um vídeo a festejar que a segunda fase não vai arrancar, que as árvores vão ser preservadas, que tratou de tudo com o Governo e depois temos uma segunda fase a arrancar. Chega de simulações”, acusou.
Manuel Pizarro, por sua vez, admitiu ter “as maiores dúvidas” sobre a forma como o projeto foi conduzido, mas defendeu que só o seu funcionamento mostrará se “vale ou não vale”.
O debate deste sábado ficou ainda marcado pela acusação de Filipe Araújo, que revelou ter sido convidado por Pedro Duarte para ser seu vice-presidente, num encontro que disse ter acontecido “a 30 de dezembro às 11h30 num hotel em Espinho”.
Pedro Duarte negou, afirmando que houve apenas conversas para unir forças, mas que nunca se discutiram cargos. O candidato independente insistiu: “Está a mentir”. Pedro Duarte respondeu chamando-o de “bengala do Partido Socialista”.
No tema do turismo e da imigração, o candidato social-democrata avisou que não pode ultrapassar certos limites, para não “descaracterizar a sociedade do Porto”, prometendo atuar “de forma implacável” perante comportamentos inadequados de comunidades.
Já Manuel Pizarro alertou para a necessidade de regular o setor sem travar o crescimento económico.