(CC0/PD) ilovetattoos / Flickr
Será que as tatuagens podem ser a arma secreta na luta contra o cancro da pele? À primeira vista, parece improvável, mas novas investigações sugerem que a tinta de tatuagem pode ter mais efeitos do que os óbvios, especialmente no que toca ao risco de melanoma.
Durante anos, as pessoas preocuparam-se com os possíveis perigos das tatuagens para a saúde. Mas uma nova investigação sugere algo surpreendente: pessoas com múltiplas tatuagens parecem ter menos melanoma, e não mais.
Investigadores do Utah – o estado norte-americano com as taxas mais altas de melanoma – estudaram mais de 1.000 pessoas. Compararam pacientes com melanoma com pessoas saudáveis para ver se as tatuagens, especialmente as extensas, influenciam o risco de cancro.
Os resultados sugeriram que pessoas que tinham feito várias tatuagens ou tinha algumas grandes apresentavam, na verdade, um risco reduzido de melanoma: um risco reduzido para metade.
Trata-se de um achado impressionante, especialmente quand consideramos as preocupações de longa data sobre as tintas de tatuagem, que contêm químicos que – noutros contextos – podem ser prejudiciais ou mesmo cancerígenas. Cientistas têm alertado que a introdução de substâncias estranhas na pele poderia promover o desenvolvimento do cancro.
Investigações recentes também associaram tatuagens a um tipo de cancro chamado linfoma. Mas este estudo amplo, baseado na população, não confirmou esses receios no caso do melanoma.
Por que os resultados podem ser enganadores
Ainda assim, a evidência apresenta várias ressalvas. A primeira e talvez mais significativa foi a falta de dados sobre fatores-chave de risco para melanoma, essenciais para tirar conclusões confiáveis sobre causa e efeito.
Outro problema prende-se com o chamado viés comportamental. Os participantes tatuados eram mais propensos a relatar hábitos de sol mais arriscados, como bronze em interiores e queimaduras solares, embora aqui a aparente “proteção” das múltiplas tatuagens tenha permanecido mesmo após ajustes para tabagismo, atividade física e outras variáveis.
A situação complica-se ainda mais pelo facto de a taxa de resposta entre os casos de melanoma ter sido de apenas cerca de 41%, ou seja, a maioria das pessoas com melanoma não respondeu às perguntas sobre o tema, o que é relativamente baixo.
Para além disso, não foram recolhidas informações sobre a localização das tatuagens, pelo que não se sabe se estavam em áreas expostas ao sol ou cobertas.
Curiosamente, o estudo não mostrou que os melanomas ocorressem com mais frequência em pele tatuada do que em áreas não tatuadas. Isto sugere que a tinta em si provavelmente não é diretamente cancerígena, embora algumas investigações indicassem o contrário.
No entanto, os investigadores recomendam cautela. Este é um dos primeiros estudos significativos sobre tatuagens e melanoma, pelo que os resultados sugerem ideias novas a testar, em vez de provarem que as tatuagens são protetoras.
O que significa isto na prática?
Os resultados estão longe de ser luz verde para procurar tatuagens como escudo contra o melanoma. A ausência de dados comportamentais e biológicos detalhados significa que os efeitos observados podem muito bem refletir diferenças de estilo de vida ou hábitos não registados nas populações tatuadas.
Para já, o conselho fundamental para prevenção do melanoma mantém-se: limitar a exposição solar, usar protetor solar e examinar a pele regularmente, independentemente de ter tatuagens.
Para quem já tem várias tatuagens, o estudo oferece, no entanto, alguma notícia tranquilizadora: atualmente, não há evidência de que tatuagens aumentem o risco de melanoma.