Instado a comentar as declarações de Sampaio da Nóvoa, antigo candidato à Presidência da República e adversário de Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais de 2016, o presidente da República explicou não querer comentar diretamente.Em entrevista à TSF e ao Jornal de Notícias, António Sampaio da Nóvoa sustentou que Marcelo Rebelo de Sousa tem responsabilidade na instabilidade política em Portugal, que abriu caminho ao populismo.
Marcelo evocou então os dois mandatos presidenciais para explicar que, nos últimos dez anos, teve apenas dois primeiros-ministros: António Costa e Luís Montenegro.
“Não costumo comentar figuras vida política portuguesa e muito menos uma pessoa que admiro muito, que, ainda por cima, foi meu adversário há dez anos. E que admiro e que acho que tem perfil para poder ser presidente da República”, redarguiu.
O presidente falou sobre as três dissoluções durante os seus mandatos, atos políticos que Sampaio da Nóvoa descreveu como “bombas atómicas”.
“A primeira dissolução aconteceu pura e simplesmente contra a minha vontade porque foi chumbado o orçamento e não havia maneira de votar outro Orçamento em tempo útil. E era a primeira vez em 42 anos que isto acontecia”, atalhou.
“A segunda dissolução ocorre depois de um facto que não pude controlar que foi a vontade do primeiro-ministro, por razões que explicou e eu respeitei de entender que não tinha condições para continuar“, prosseguiu o presidente da República.
“A terceira foi totalmente alheia à minha vontade porque aí foi a escolha de um primeiro-ministro e eu tive conhecimento como os portugueses todos”, acentuou, para concluir: “A terceira, supondo que é uma bomba atómica, não pode ser atribuída a mim”.
Marcelo explicou as suas decisões ao longo da última década e lembrou a instabilidade política de outros países europeus para mostrar como Portugal pode ter sido uma exceção à regra.
“Apesar de tudo é possível dizer-se que houve uma coabitação de um governo mais à esquerda da democracia portuguesa, depois da revolução, com um presidente de direita durante oito anos de meio. Se isto não é estabilidade, não sei o que é estabilidade”, continuou.
A leitura como forma de chegar ao povo
Marcelo Rebelo de Sousa fez também uma análise sobre os dez anos em que divulgou a Feira do Livro nos jardins do Palácio de Belém, relembrando a maneira como a sua ação ajudou também a levar mais pessoas a outros certames como as Feiras do Livro em Lisboa e no Porto.
O presidente explicou que apostou na leitura como uma maneira de se aproximar do povo, trazendo várias figuras para dar o exemplo, especialmente às crianças.
“Foi muito importante para animar as escolas, para animar a leitura. A APEL, que representa o setor, também fez coisas espetaculares. Foi uma aposta ganha”, disse Marcelo Rebelo de Sousa fez uma leitura política do certame e declarou que manteve a tradição dos antecessores, dando o exemplo de cada e a forma como cada um tentou chegar aos portugueses.
“Puxei pelo livro, e puxei realmente pelo que gostava de fazer: que era estar junto dos portugueses”.
Desaparecer da vida política após Belém
Marcelo voltou a ser questionado sobre o setor da saúde, depois de mais um bebé ter nascido numa ambulância. Remeteu explicações para daqui a duas semanas, mas deixou palavras contundentes ao Governo em funções.
“Direi daqui a duas semanas o que é que vejo que são os grandes problemas da saúde em Portugal. Eu acho que não são muitos, são poucos mas fundamentais”.
Questionado ainda sobre o que será a vida política depois da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa garantiu que vai “desaparecer”: “Acho que não deve haver intervenção de antigos presidentes na vida política do país”.
“Eu desapareço da política, completamente. (…) Vou desaparecer. Para mim, a prática de outros países, que é ex-presidentes intervirem muito não é uma boa prática”, rematou.