Um estudo internacional publicado na BMJ Evidence-Based Medicine na última quarta-feira (24) aponta que mesmo a ingestão leve ou moderada de álcool pode aumentar o risco de demência, e que não existe um nível seguro de consumo da substância quando se trata da saúde cerebral. O estudo foi conduzido por equipes da Universidade de Oxford, da Universidade de Yale e da Universidade de Cambridge.
Já é cientificamente conhecido que o consumo de álcool está associado a um maior risco de diversas doenças, e que o consumo excessivo está relacionado ao risco de demência.
Até agora, outras pesquisas observacionais sugeriam que doses menores de álcool poderiam reduzir as chances de desenvolver a doença. Porém, segundo os autores, essa impressão ocorria devido a limitações metodológicas. Por exemplo, considerava-se que pessoas que não bebiam mais, mas que haviam consumido bastante álcool no passado, aumentavam artificialmente o risco de demência nesse grupo.
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O novo trabalho combinou informações de mais de meio milhão de pessoas em bancos de dados populacionais do Reino Unido e dos Estados Unidos, usando o UK Biobank e o US Million Veteran Program, respectivamente. Além disso, analisou dados genéticos de mais de 2,4 milhões de participantes, em 45 estudos independentes, para diferenciar correlação de causalidade.
Resultados principais
- Quanto maior o consumo de álcool, maior o risco de demência, sem evidência de efeito protetor em doses baixas;
- Aumentar em duas vezes o risco genético de transtorno por uso de álcool eleva em 16% a probabilidade de demência;
- Um crescimento três vezes maior no número de doses semanais está associado a 15% mais risco da doença;
- Pessoas que depois desenvolveram demência já vinham reduzindo o consumo antes do diagnóstico, o que pode ter criado a falsa impressão de benefício do álcool em pesquisas anteriores..
A psiquiatra e pesquisadora clínica Anya Topiwala, da Universidade de Oxford, explicou que os resultados vão contra a crença comum de que pequenas quantidades de álcool podem proteger o cérebro.
“Mesmo o consumo leve ou moderado pode aumentar o risco de demência, indicando que reduzir o uso de álcool em toda a população teria um papel importante na prevenção”, afirmou Anya Topiwala, autora principal do estudo, em comunicado à imprensa. “Evidências genéticas não comprovam um efeito protetor – na verdade, sugerem o oposto.”
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Para o estatístico Stephen Burgess, de Cambridge, que também participou da pesquisa, a natureza aleatória da herança genética é positiva na hora de comparar grupos com níveis mais altos e mais baixos de consumo de álcool.
“Nossas descobertas não se aplicam apenas àqueles que têm uma predisposição genética específica, mas também a qualquer pessoa que opte por beber”, disse Burgess.
Já o professor e coautor Joel Gelernter, de Yale, destacou que os resultados reforçam que antigas recomendações médicas sobre benefícios do álcool para o cérebro não se confirmam.
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O estudo soma evidências ao entendimento de que o álcool, em qualquer nível, pode ser prejudicial à saúde cerebral e reforça a necessidade de políticas de prevenção voltadas à redução do consumo na população.
Além da coleta de evidências, os pesquisadores ressaltam a necessidade de políticas públicas que incentivem a redução do consumo em toda a população, pois elas podem desempenhar um papel importante na prevenção da demência.