O caso foi remetido pelo presidente da Assembleia da República para a Comissão da Transparência
Quatro dias depois do episódio no plenário da Assembleia da República em que acusa Filipe Melo, deputado do Chega e vice-presidente da Mesa, de lhe ter enviado “beijinhos”, Isabel Moreira falou pela primeira vez publicamente sobre o caso. Em entrevista exclusiva à CNN Portugal, este domingo, a deputada socialista denunciou uma “banalização do horror” no Parlamento e disse que o que está em causa é “um atentado à democracia”.
“Aquilo que vocês veem [nas imagens] é muito pouco. Já se estava a passar há bastante tempo, há testemunhos”, explica.
A socialista sublinha que não se trata de um caso isolado e lembra que outras deputadas – como Alma Rivera, Inês Sousa Real e Romualda Fernandes – já se queixaram de situações semelhantes.
“Os casos multiplicam-se há muito tempo. As deputadas há muito tempo que fazem queixas formais, não somos um conjunto de doidas”, afirma.
“Atentado à democracia”
Para Isabel Moreira, o problema ultrapassa a esfera pessoal. A deputada considera que a presença do Chega mudou a atmosfera no Parlamento e denuncia uma “banalização do horror”.
“Isto não tem que ver comigo, tem que ver com a democracia. O que está em causa é o atentado à democracia, um ódio e um programa de extrema-direita contra as mulheres, contra os imigrantes, contra as pessoas racializadas”.
Face ao episódio, o presidente da Assembleia da República decidiu remeter o caso para a Comissão da Transparência. Isabel Moreira, que é vice-presidente desse grupo, garantiu que não participará na apreciação do processo para evitar qualquer interferência.
“Estarei fora naturalmente. Tenho a certeza que a Comissão lidará com toda a isenção e com os poderes limitados que tem.”
A deputada aproveitou ainda para elogiar a decisão do presidente do Parlamento, apesar das críticas que lhe tem dirigido no passado.
“Não tenho feito publicamente a melhor avaliação do mandato deste presidente, que me parece bastante temeroso relativamente à força crescente da extrema-direita em Portugal. Mas acho que aqui teve uma postura que foi importante e pode ser um precedente importante.”
Isabel Moreira insiste que o episódio deve ser visto como um reflexo do clima político no país e como um teste à resistência das instituições democráticas:
“Quando somos permanentemente insultadas, amedrontadas, ameaçadas, seja nos corredores seja no plenário, isso é uma tentativa de condicionamento, de silenciamento. Se uma mulher, uma mulher negra, uma pessoa racializada no Parlamento, sendo deputada, deixa de estar segura, qual é a mensagem que se está a passar à sociedade?”