Com foco na cooperação internacional com os Estados Unidos, a Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB) promoveu um workshop internacional para discutir os avanços na prevenção e tratamento do HIV e reforçar a importância do Brasil como referência internacional em políticas públicas de HIV.
O encontro, realizado no dia 23 de setembro, de forma híbrida, reuniu o professor do Departamento de Medicina Interna do Centro Médico da Universidade do Texas Southwestern e membro da Divisão de Doenças Infecciosas e Medicina Geográfica, Roger Bedimo, a diretora do Centro de Pesquisa de AIDS da Universidade de Miami, Isabela Rosa-Cunha, e a médica pesquisadora e coordenadora da Unidade de Ensaios Clínicos do INI/Fiocruz, Sandra Wagner.
Os especialistas debateram medidas adotadas pelo CDC (EUA) na prevenção e controle de doenças relacionadas ao HIV como, por exemplo, a recomendação de rastreamento do câncer anal em pacientes com o vírus, além de pesquisas recentes sobre o alto risco de câncer anal em pacientes portadores do vírus HIV, especialmente homens acima de 40 anos.
Isabela Rosa-Cunhas destacou o papel do Brasil no enfrentamento do HIV como modelo a ser seguido por outros países.
“O Brasil está, na verdade, muito à frente, especialmente quando falamos sobre medicamentos e acesso aos medicamentos, para prevenir o HIV. E eu me sinto muito afortunada de ter a oportunidade de ter uma cooperação mais específica entre o Fiocruz e a Universidade de Miami”.
Durante sua apresentação, o professor do Departamento de Medicina Interna do Centro Médico da Universidade do Texas Southwestern, Roger Bedimo, destacou a importância histórica e científica da Fiocruz no contexto das pesquisas sobre doenças infecciosas e os avanços e desafios atuais no tratamento de pacientes com HIV, como o aumento da expectativa de vida dessa população
“O fato positivo é que as pessoas vivendo com HIV hoje têm uma expectativa de vida muito maior do que no passado. A diferença de mortalidade entre quem vive com HIV e quem não vive já diminuiu bastante. Isso se deve à evolução do tratamento antirretroviral. Entre as tendências que observamos nas pessoas vivendo com HIV está o envelhecimento dessa população. Isso traz novos desafios: complicações cardiovasculares, doenças metabólicas, cânceres e outras comorbidades. Mesmo com o tratamento eficaz, precisamos entender quais fatores dos pacientes, e também quais medicamentos, contribuem para esses riscos a longo prazo.”
Bedimo ressaltou ainda a importância de estudos que investiguem a relação do vírus HIV com outras doenças como o câncer, por exemplo.
“É essencial compreender os mecanismos dessas complicações. Pessoas vivendo com HIV apresentam maior risco de comorbidades, como osteoporose, fragilidade óssea, alterações metabólicas e câncer. O desafio é entender melhor essas condições para preveni-las e tratá-las. No Brasil, por exemplo, a incidência de alguns cânceres tem aumentado, e isso impacta diretamente a mortalidade. Precisamos continuar a investigar como o HIV e o tratamento interagem com essas condições e como oferecer o melhor cuidado possível a essa população.”
Outra preocupação apontada pelo pesquisador é o risco cardiovascular elevado em pessoas com HIV. Os estudos apontam que a combinação de fatores clássicos como tabagismo, colesterol, dieta e sedentarismo) e específicos (inflamação crônica, efeitos colaterais de medicamentos), potencializam o risco de desenvolver doenças do coração nestes pacientes. Roger Bedimo ainda ressaltou chamou a atenção dos pesquisadores para desigualdades sociais e de gênero que afetam pacientes com HIV, e reforçou a necessidade de estratégias preventivas, com foco em atividade física, controle metabólico e acompanhamento clínico regular.
Palestrantes e estudantes de graduação e pós-graduação no auditório do IOC (fotos: Plínio Sousa)