A OpenAI anunciou esta semana o Sora 2, a nova versão do seu sistema de criação de vídeo baseado em inteligência artificial, capaz de gerar sequências realistas sincronizadas com áudio em várias línguas. A empresa apresentou o lançamento como um possível “momento ChatGPT para o vídeo”, sublinhando a dimensão da novidade.
Segundo a informação partilhada com os jornalistas, o modelo transforma texto em vídeo com diálogos naturais e maior fidelidade às instruções fornecidas. A grande evolução face à primeira versão, lançada em 2024, está na capacidade de gerar som e imagem em simultâneo, o que alarga significativamente os cenários de utilização.
Em paralelo, a OpenAI disponibilizou uma aplicação para iOS, designada Sora, que funciona de forma semelhante ao TikTok: apresenta um feed de vídeos curtos e integra a funcionalidade “cameos”. Nesta opção, os utilizadores podem gravar um pequeno vídeo para fornecerem a sua imagem e voz, autorizando a criação de clipes em que a sua figura surge integrada em conteúdos gerados por IA.
“Deepfakes oficializados”
A demonstração evidenciou que o Sora 2 consegue produzir conteúdos com um grau de realismo que dificulta a distinção entre o verdadeiro e o fabricado. Entre os exemplos mostrados estavam anúncios fictícios, conversas inventadas e até notícias simuladas. A OpenAI assegura ter criado mecanismos de segurança: cada vídeo incluirá metadados e marcas de água que assinalam a sua origem artificial, e a aplicação não permite gravar o ecrã. No entanto, como recorda o The Verge, medidas semelhantes já foram contornadas noutras plataformas.
A utilização da imagem de figuras públicas está limitada. De acordo com a empresa, só é possível criar vídeos com pessoas que tenham carregado um “cameo” e dado consentimento expresso. Não é igualmente permitida a produção de conteúdos pornográficos ou extremistas. Ainda assim, a Reuters nota que a própria OpenAI reconhece que obras protegidas por direitos de autor poderão ser reproduzidas nos vídeos, a menos que os titulares dos direitos solicitem a sua exclusão.
Riscos e concorrência
O lançamento do Sora 2 coloca a OpenAI em confronto directo com outros gigantes tecnológicos. A Meta investe em ferramentas de vídeo generativo através da funcionalidade “Vibes”, enquanto a Google aposta no modelo Veo 3, já integrado no YouTube. Para já, a aplicação Sora está disponível apenas nos Estados Unidos e no Canadá, em regime de convite e exclusivamente para iOS. Não existe ainda data para a chegada a outros países ou para o lançamento da versão Android.
Especialistas citados pela Associated Press alertam para o risco de as redes sociais serem inundadas com conteúdos artificiais — apelidados de “AI slop”, vídeos de aparência polida mas sem substância —, o que pode alimentar a desinformação em larga escala.
A OpenAI afirma estar a desenvolver controlos parentais e definições de privacidade que permitem limitar quem pode criar “cameos” com determinada imagem. Contudo, o desafio central mantém-se: distinguir, num oceano de vídeos cada vez mais convincentes, aquilo que é real do que é gerado por algoritmos.