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Tudo a Ler
Best-seller aos 24 anos, Zadie Smith chega aos 49 com discurso de veterana.
“Quando você é jovem, faria de tudo, tomaria qualquer coisa, machucaria qualquer um. Mas agora não há nenhum livro que eu queira escrever que seja mais importante que a minha relação com outros seres humanos”, afirma a escritora britânica.
A autora quer deixar para trás uma prosa que agora vê como destrutiva. Afinal, as pessoas ficam feridas ao se verem achatadas em páginas. “Sem ofensa, mas eu não suporto a versão de mim que aparece nos artigos de jornal”, ela diz ao editor Walter Porto.
Na entrevista, a autora afirma que, apesar de não haver malícia, escritores estão constantemente roubando das pessoas ao seu redor. “Alguns roubam mal, outros como Charles Dickens roubavam bem, mas é isso que autores fazem”, afirma.
Seu novo livro, “A Fraude” (trad.Camila von Holdefer, Companhia das Letras, R$ 129,90, 576 págs.), é um romance histórico ambientado na Inglaterra vitoriana. Na história, um homem clama ser um nobre desaparecido e, apesar das evidências contrárias, angaria um séquito de fãs.
Depois de seis romances, duas coletâneas de contos e três livros de ensaios provocadores, Smith quer mais é uma vida de paz.
Acabou de Chegar
“Morrendo de Rir” (Arquipélago Editorial, R$ 69,90, 184 págs.) reúne crônicas ácidas de Elvira Vigna, escritora morta em 2017. São pequenos ensaios e experimentos da autora, “que, à falta de outra etiqueta, classificamos como crônicas”, aponta o crítico Alvaro Costa e Silva. Majoritariamente escritos em primeira pessoa, os textos têm tom urgente e asfixiante.
“Depois do Trovão” (Companhia das Letras, R$ 79,90, 232 págs.), de Micheliny Verunschk, faz da linguagem uma arma da guerra contra a história oficial. Ela escreve um livro fiel a fatos históricos que é também um romance-vingança, como diz a crítica Giovanna Dealtry. A Guerra dos Bárbaros nos séculos 17 e 18 é o pano de fundo da história de Auati, filho de uma mulher indígena com um frei jesuíta.
“Aproveitar a Vida e Suas Dores” (Paidós, R$ 58,90, 208 págs.) preenche a lacuna deixada pela coluna que Contardo Calligaris escrevia na Folha até sua morte. Textos do psicanalista são revisitados nesta coletânea organizada por seu único filho, Max. São crônicas que abraçam a vida ao falar da morte e os prazeres ao falar de dores.
E mais
Doze anos depois de ter provocado a direita e a esquerda ao declarar que odiava a classe média, Marilena Chaui reitera sua opinião em entrevista à repórter especial Fernanda Mena. Na conversa, a filósofa se diz pessimista sobre o Brasil, onde observa uma extrema direita fortalecida e uma esquerda perdida e fragmentada entre movimentos identitários. Com a prisão de Bolsonaro, ela diz que o momento é de espera. “A extrema direita vai se rearticular”, afirma.
Em 2018, o jornalista Eduardo Scolese foi convidado para assumir o comando da editoria de Política da Folha. O que ele não imaginava é que a cobertura ao longo dos anos seguintes teria um presidente flertando com o golpismo e uma pandemia que acabou matando mais de 700 mil brasileiros. Os bastidores de seu trabalho são narrados como testemunho pessoal no recém-lançado “1.461 Dias na Trincheira” (Autêntica, R$ 79,80, 256 págs.).
Depois de adiar seguidas vezes o lançamento da continuação de sua biografia de Lula, Fernando Morais afirma que não só a segunda, como a terceira parte, sairão a partir de 2026. O autor conta ao jornalista Amilton Pinheiro que está aguardando registros que o governo americano tem sobre o presidente —no total, são 916 documentos da CIA, FBI e NSA.
Além dos Livros
Nesta semana, os prêmios Jabuti e São Paulo de Literatura anunciaram os indicados de suas edições de 2025. O primeiro revelou seus semifinalistas, sendo 10 concorrentes em cada uma das 23 categorias. E a novidade deste ano é que a cerimônia de premiação, a ser realizada no dia 27 de outubro, acontecerá no Rio de Janeiro, para celebrar o título da cidade como Capital Mundial do Livro pela Unesco.
Já o prêmio São Paulo de Literatura anunciou seus finalistas nesta terça e chamou a atenção pela maioria de escritoras: entre os 20 indicados, 13 são mulheres. Na categoria de melhor romance, 8 das 10 vagas são ocupadas por autoras como Beatriz Bracher, Ana Kiffer e Mariana Salomão Carrara.
Em mais uma edição, a Flup, Festa Literária das Periferias, traz ao Brasil nomes internacionais de peso. Os destaques deste ano, apontados pelo Painel das Letras, são o camaronês Achille Mbembe, conhecido por criar o conceito de “necropolítica”; o martinicano Patrick Chamoiseau, vencedor do Goncourt; a jurista americana Michelle Alexander, autora de “A Nova Segregação”; e o casal Dionne Brand e Christina Sharpe, ambas destaques na literatura sobre os efeitos do racismo transatlântico.
Pouco mais de um ano depois de atiçar as redes sociais e o mercado literário com a estreia de seu clube do livro, Felipe Neto encerrou a empreitada. De férias, o influenciador não participou da live que anunciou o fim aos assinantes e também não respondeu à reportagem da Folha. A insatisfação maior dos leitores se deu pelo encerramento brusco da plataforma, impedindo que conteúdos antigos do clube sejam acessados pelos assinantes.