
Por M. Correia Fernandes
Um edição da Casa dos Livros (da Faculdade de Letras da Universidade do Porto), em colaboração coma a editora Modo de Ler, acaba de publicar um pequeno livro que recupera escritos de Vasco Graça Moura (1942-2014), que foi poeta, tradutor, crítico e ensaísta, Doutor Honoris Causa pela Universidade do Porto (2014) e que legou o seu vasto espólio literário à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Entre os múltiplos cargos que desempenhou salientam-se a Administração da Imprensa Nacional Casa da Moeda, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Comissão Nacional da Unesco.
Certamente a partir dos textos ainda não publicados existentes no seu espólio, foi possível reunir este pequeno livro (90 páginas), publicado com o título a espessura do dia: novos poemas inéditos e novas traduções de Vasco Graça Moura.
O volume é apresentado com uma “Recordação de Vasco Graça Moura”, assinada por Luís Valente de Oliveira (dezembro de 2024), de uma recordação de seu amigo José da Cruz Santos (editor da Modo de Ler), que recorda a sua partida, em que afirma o diálogo “no silêncio de uma saudade” e um “introito” de Mário Jorge Barroca (janeiro de 2025), que recorda a origem dos textos agora publicados e a intenção de “promover a reflexão em torno do legado de Vasco Graça Moura e de dar a conhecer a sua obra”, intenção da sua doação à Casa dos Livros, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
O conteúdo do livro inclui “Poemas inéditos” (Pensar que maio passa, Nove sonetos – dois deles transcritos a partir da própria escrita da pena do autor-, um poema em francês) e Novas traduções de Vasco Graça Moura, que inclui Poemas de Elizabeth Jennings (nove poemas publicados em vários jornais, em tradução de 1974), e duas traduções de poemas de T.S. Elliot: “Canção de amor de J. Alfred Prufrock” e O “Pervigilium de Prufrock”, com notas sobre a sua construção poética.
Este pequeno livro apresenta múltiplos motivos de leitura produtiva, como pode lembrar o título do primeiro soneto apresentado: “vou fazer um exercício de escrita semi-automática” (prefigurando certamente as práticas quotidianas dos dias de hoje), ou “só, a pensar em si, ouvindo a flauta mágica/sem nada pra dizer, falando por falar”.
Lembra-se que Elisabeth Jennings (1926–2001), poeta e cronista inglesa, que manifestava avesso ao formalismo e de debruçava sobre o universo interior do poeta, autora de uma poesia propondo a simplicidade de vida, onde se afirmam temas como ao amor, a natureza a fé, a morte, a amizade, como se pode sentir no poema “Fui ao lugar do nosso encontro, o jardim bem cuidado, o lembrar-me do teu nome”. De T. S. Eliot (1888-1965), expoente do modernismo literário, traduz e comenta um poema em que recorda Miguel Ângelo e o episódio bíblico de João Batista e Salomé, ou a questão “ainda haverá tempo de perturbar o universo?”.
No dizer de L. Valente de Oliveira, “O Vasco produzia continuamente. Não admira, por isso, que se vão encontrando “novos poemas inéditos e novas traduções”, e recorda uma das suas obras, propícia para os dias comemorativos que vivemos: “Camões e a Divina Proporção” em que recorda as dimensões históricas e de pensamento da obra de Camões.
