Duas pessoas morreram e outras três ficaram feridas com gravidade depois de um homem conduzir um veículo contra uma multidão e esfaquear várias pessoas perto de uma sinagoga em Manchester, no noroeste da Inglaterra, avançam as autoridades britânicas. O suspeito foi baleado pela polícia, que não confirma a morte do homem devido a “questões de segurança relacionadas com objectos que estavam na sua posse”. A unidade de desactivação de bombas foi accionada e o corpo do suspeito permanece no local enquanto a polícia tenta perceber se estava a utilizar algum explosivo.
A Polícia da Grande Manchester (GMP) disse que os agentes foram chamados às 9h31 desta quinta-feira para um incidente na Sinagoga da Congregação Hebraica de Heaton Park, em Crumpsall, a cerca de seis quilómetros a norte do centro de Manchester, depois de uma testemunha afirmar ter visto um carro a avançar contra várias pessoas. “Um grande número de pessoas estava na sinagoga no momento do incidente. Foram mantidas no interior enquanto se estabelecia um perímetro de segurança, mas já foram retiradas”, descreveu a polícia.
O atacante não chegou a entrar na sinagoga. “Foram disparados tiros por agentes da Polícia da Grande Manchester às 9h38. Um homem foi baleado, provavelmente o autor do crime. Os paramédicos chegaram ao local às 9h41 e estão a assistir as pessoas, quatro delas com ferimentos causados pelo veículo e por facadas”, lê-se numa nota da polícia.
O facto de o ataque ter acontecido no Yom Kippur, um dos dias mais sagrados na religião judaica, não parece “ser um acaso” para os investigadores, mas possibilitou que os agentes policiais conseguissem dirigir-se para o local em meros minutos. Um dispositivo de segurança já tinha sido montado, numa colaboração entre a polícia e a comunidade judaica, até pela proximidade da celebração com o dia 7 de Outubro.
A zona da sinagoga foi inundada por dezenas de veículos da polícia, bem como por equipas de bombeiros e ambulâncias. Também há um helicóptero a sobrevoar o local e as ruas torno do local foram isoladas com carros de polícia e carrinhas, com sirenes ligadas. Várias pessoas, incluindo membros da comunidade judaica, estão a reunir-se junto ao perímetro de isolamento estabelecido pelas autoridades para tentarem perceber o que aconteceu.
Num vídeo partilhado nas redes sociais e verificado pelas equipas da Reuters e da BBC mostra os agentes a disparem contra um homem dentro do perímetro da sinagoga, enquanto outro homem, que está a usar um talit (um manto utilizado nas orações judaicas) está caído no chão junto a uma poça de sangue.
O ataque está a ser abordado como potencial incidente terrorista. Andy Burnham, autarca de Manchester, fala num “incidente sério”. “Diria às pessoas que estão a ouvir, primeiro, para evitarem a área — é um incidente sério —, mas, ao mesmo tempo, posso tranquilizá-las imediatamente. O perigo imediato parece ter passado e a Polícia da Grande Manchester lidou com a situação muito rapidamente”, disse Burnham à BBC, acrescentando que um dos feridos do ataque é o segurança da sinagoga.
A polícia afirmou ainda que declarou a Operação Platão — um conjunto de respostas dos serviços de emergência a incidentes de grande escala, incluindo “ataques terroristas” — momentos depois de ser chamada ao local. De cada vez que as autoridades declaram este tipo de operação, os serviços de emergência passam a ter de seguir protocolos específicos. Os hospitais do Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS), por exemplo, activam contingências para grandes incidentes. A polícia antiterrorismo e o MI5, os serviços secretos do Reino Unido, também se juntaram à investigação.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, que estava em Copenhaga para participar num encontro da Comunidade Política Europeia, já convocou uma reunião de emergência e vai regressar ao Reino Unido mais cedo do que o previsto. Foram mobilizados “recursos policiais adicionais para sinagogas em todo o país”. “Estou chocado com o ataque à sinagoga em Crumpsall. O facto de isto ter acontecido no Yom Kippur, o dia mais sagrado do calendário judaico, torna tudo ainda mais horrível. Os meus pensamentos estão com os entes queridos de todos os afectados. Os meus agradecimentos aos serviços de emergência e a todos os socorristas”, afirmou Starmer.
Políticos britânicos condenam ataque
Kemi Badenoch, líder do Partido Conservador, apelidou o ataque de “vil e repugnante” e garantiu que o Reino Unido vai continuar a garantir a segurança da comunidade judaica. “Um ataque ultrajante à comunidade judaica no seu dia mais sagrado, o Yom Kippur. Sei que muitos judeus do nosso país sentem que já não estão seguros, e meu coração está com as pessoas que foram feridas e com todos os que foram afectados. Quero dizer aos judeus de todo o país que vocês pertencem aqui. O Reino Unido vai cuidar de vocês. Precisamos de garantir que o aumento do anti-semitismo a que estamos a assistir no nosso país seja completamente reprimido”, referiu Badenoch à BBC.
O Community Security Trust, uma instituição de caridade que fornece segurança a organizações e instituições judaicas em todo o Reino Unido, avançou que está a trabalhar com a polícia e com a comunidade local. “Este parece ser um ataque terrível no dia mais sagrado do ano judaico”, disse o CST no X.
Dave Rich, do CST, explicou ao The Guardian, que o dia é semelhante ao Natal para os cristãos. “Yom Kippur é o dia mais sagrado do ano judaico. É um dia de solenidade e jejum, em vez de celebração. É um dia muito solene e as sinagogas em todo o país estarão lotadas durante todo o dia. Há sempre uma operação de segurança significativa em vigor entre a polícia e a CST em todas as principais festividades judaicas”, disse.
O Reino Unido teve o seu segundo pior ano no que toca a incidentes relacionados com anti-semitismo em 2024 (mais de 3500 incidentes registados), reflectindo “níveis sustentados de ódio contra os judeus”, disse o CST no início deste ano. Os níveis de anti-semitismo relatados pelo CST atingiriam um pico após o ataque do Hamas a Israel a 7 de Outubro de 2023 e a subsequente guerra em Gaza, que devastou o enclave palestiniano.