Alteração fez com que os altos níveis de interceção tenham caído drasticamente no mês de setembro, passando dos 37% registados em agosto, para apenas 6%

Moscovo estará a modificar os seus mísseis com o objetivo de escapar às defesas aéreas da Ucrânia, particularmente os Patriot fornecidos pelos EUA, de acordo com autoridades ucranianas e ocidentais.

Segundo escreve o Financial Times, os mísseis russos passaram a realizar manobras que dificultam ainda mais a interceção pelas forças de Kiev, tornando os ataques mais eficazes e devastadores.

As atualizações abrangeram o Iskander-M e o Kinzhal, ambos mísseis de longo alcance, de forma a serem capazes de seguir trajetórias mais complexas e difíceis de antever. Segundo os especialistas ouvidos pelo jornal, a mudança mais notável estará na introdução de manobras evasivas durante a fase final do voo, ou seja, quando o míssil se aproxima do alvo.

Estas modificações já se fazem notar no terreno, com alguns mísseis a escapar aos radares ucranianos. No final de agosto, um ataque que afetou a fábrica de drones Bayraktar, considerada por muitos um símbolo de resistência da Ucrânia, destruiu partes da infraestrutura e danificou escritórios de delegações internacionais nas imediações. O incidente escapou a todas as defesas do país, incluído aos famosos Patriot.

Isto fez com que os altos níveis de interceção tenham caído drasticamente no mês de setembro, passando dos 37% registados em agosto para apenas 6%. Neste momento, os sistemas Patriot, fornecidos por Washington, são os únicos capazes de intercetar mísseis mais desenvolvidos. No entanto, a capacidade de eficácia dos mesmos tem diminuído com estas recentes modificações.

Dados disponibilizados pela Força Aérea ucraniana indicam que recentemente todos os quatro mísseis Iskander-M disparados pela Rússia conseguiram atingir os seus alvos. Outro exemplo da grande eficácia da nova atualização foi verificado no mês de julho, quando no dia 9 Kiev conseguiu intercetar apenas metade dos ataques lançados por Moscovo.

Segundo um relatório da Agência de Inteligência de Defesa dos EUA, que abrange o período de 1 de abril a 30 de junho, as Forças Armadas da Ucrânia “tiveram dificuldades para usar consistentemente os sistemas de defesa aérea Patriot para se proteger contra os mísseis balísticos de Moscovo devido às recentes melhorias táticas russas, incluindo melhorias que permitem que os seus mísseis mudem de trajetória e realizem manobras em vez de voar numa trajetória balística tradicional”.

A mesma informação foi corroborada por Sergiy Kyslytsya, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, ao Financial Times. “Os russos continuam a aprimorar significativamente a tecnologia do Iskander e de outros mísseis”, afirmou, realçando a necessidade de os parceiros de Kiev bloquearem o fluxo de componentes de fabricação ocidental para a Rússia, inclusive via China.

A Ucrânia está a partilhar com a Raytheon, empresa que fabrica o sistema Patriot, e com a Lockheed Martin, que produz os mísseis intercetores do sistema, novos dados que ajudem a fazer atualizações necessárias.

Os desenvolvimentos têm preocupado sobretudo Volodymyr Zelensky, que se tem mostrado preocupado com a situação. “A Rússia está mais uma vez a tentar atingir a Ucrânia com um apagão este ano”, alertou o presidente ucraniano numa alusão aos ataques aéreos contra a rede elétrica do país que, com a novo método russo, torna a ameaça ainda mais grave.