Variações sobre Mimnermo, poeta do século VII a.C., incluindo fragmentos e pastiches, análise filológica, considerações sobre erudição e hedonismo, e uma relutante entrevista imaginária. Ensaios curtos ou telegráficos sobre questões como as trutas na poesia japonesa, Ovídio, orquídeas, ou Braque que sentia que “quem passa a vida a desenhar perfis acabará por acreditar que o homem só tem um olho”. Uma sequência de 53 poemas sobre Perugino e um colóquio de epistemologia onde se discute tradução, pigmentos, cripto-hegelianos e o galo que Sócrates deve a Asclépio. Outros poemas, sobre cidades que são lugares, personagens, ideias, por exemplo Hölderlin na torre em Tubinga, “louco ao fazer luto sozinho”, sequências que usam um stacatto renovado, com um transporte do verso que não se detém no ponto final: “Tem regras. / E amor. / E a primeira regra é. / O amor do acaso. / Algumas das suas palavras são provavelmente como minério lá. / Ou serão pela altura em que nossos olhos forem cinzas” (“Cidade Pushkin”). Uma “antropologia da água”: “A água é algo que não podemos segurar. Como os homens. Eu tentei. Pai, irmão, amante, amigos verdadeiros, fantasmas esfaimados e Deus, um a um se retiraram das minhas mãos.” A habitual autobiografia ínvia, como um caso amoroso e a demência paterna. O elenco das localidades referidas num mapa antigo. Um diário laico de uma viagem a Compostela, que acentua mais o “caminho” do que Santiago, seguido de um ensaio sobre “a diferença entre mulheres e homens” (o livro é de 1995, mas Carson nem hoje se submeteria às modas intelectuais), texto que diz, memoravelmente, que “a antropologia, tal como o casamento, é uma actividade do lóbulo central”.

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