Tivemos a oportunidade de passar algumas horas nas proximidades da base aérea de Beja da Força Aérea Portuguesa, durante a edição anual do NATO Tiger Meet. No ano passado, o exercício decorreu na Alemanha, na base aérea de Jagel, e já tínhamos feito uma reportagem sobre o evento

Por Jean François Auran*
Especial para o Poder Aéreo
Fotos do autor e da FAP

O NATO Tiger Meet 2025 (NTM25) é um exercício multinacional que decorreu entre 21 de setembro e 3 de outubro de 2025, na Base Aérea n.º 11 (BA11), em Beja. O NTM25 reuniu 1400 militares diretamente envolvidos no exercício, provenientes de 12 nações diferentes. Entre as nações representadas encontravam-se Espanha, França, Alemanha, Reino Unido, Itália, Polónia e Suíça, bem como recursos da OTAN.

O exercício incluiu recursos aéreos, terrestres, navais, de ciberdefesa e espaciais, promovendo a coordenação multinacional nessas áreas. A cerimônia de abertura do NATO Tiger Meet 2025 (NTM 25) decorreu no domingo, dia 21 de setembro, tendo o primeiro dia de voos ocorrido no dia seguinte. Criado em 1961 pela NATO Tiger Association, este é o quinto ano consecutivo que Portugal acolhe o exercício, quatro dos quais na BA11, em Beja. A região de Beja, pouco povoada e próxima do mar, permite o treino em boas condições. Recorde-se que Portugal organizou as edições de 1987, 1996, 2002 e 2021.

O NTM 25 visa reforçar a interoperabilidade entre as forças aliadas, através de treinos centrados em cenários realistas de defesa aérea integrada, de combate aéreo ofensivo, de ataque e de apoio a componentes terrestres e marítimas. No total, sobrevoaram o céu do Algarve 85 aeronaves, incluindo 59 caças (F-16, F-18, JAS 39 Gripen, Eurofighter e Tornado), 16 helicópteros e vários aviões de transporte e E-3A AWACS.

Durante o evento, foram realizados dois exercícios sincronizados e integrados no NTM 25: o Ramstein Guard, que faz parte do programa de treino em guerra eletrônica da OTAN, e o FAST EAGLE 25, um exercício coordenado pela célula de planeamento conjunto e centrado em operações especiais. A empresa francesa AVdef forneceu um Dassault Falcon 20 modificado e equipado para simular ameaças e interferências. A empresa GFD participou com um Learjet equipado com tecnologia de ponta altamente especializada. Estas duas aeronaves civis permitem simular alvos aéreos, criando um ambiente realista para caças e para o E-3A AWACS. Este tipo de aeronave voa, normalmente, duas horas de manhã e outras duas à tarde, de acordo com as necessidades do exercício.

Segundo a imprensa portuguesa, o coronel Joel Pais, responsável pela célula de execução do NATO Tiger Meet, explicou que os objetivos concretos do exercício “visam coordenar, num único espaço aéreo, os meios de doze nações, integrando outros domínios, como o espaço, e aplicar este instrumento nas operações aéreas”.

Este exercício reafirma o compromisso dos países parceiros com a manutenção da paz, da segurança e da estabilidade, através da preparação operacional conjunta das forças militares. O NTM25 tem também como principal objetivo reforçar os laços e promover a cooperação internacional entre os países participantes nas áreas da defesa e do desenvolvimento tecnológico.

A edição deste ano distingue-se pela integração inovadora de imagens obtidas por satélites de muito alta resolução, sendo que o Centro de Operações Espaciais (COE) da Força Aérea Portuguesa (FAP), criado há um ano com o apoio de entidades civis parceiras como a ICEYE, na Finlândia, e a Geosat, em Portugal, desempenha um papel especial.

Trata-se de uma importante vertente tecnológica espacial para o país anfitrião.

A ICEYE, especialista em operações de satélites por radar de abertura sintética (SAR), demonstrou as capacidades operacionais da sua nova célula ISR em estreita colaboração com o COE da FAP. A Célula ISR é uma unidade móvel contentorizada que permite às forças de defesa acederem diretamente, em tempo quase real, a informações de vigilância e reconhecimento táticas baseadas no espaço. Esta célula melhora a rapidez e a eficácia da tomada de decisões em todos os níveis, desde o quartel-general conjunto até às brigadas.

Durante o NATO Tiger Meet, a Célula ISR demonstrou como o ISR espacial pode ser integrado no processo de tomada de decisões em tempo quase real num ambiente operacional multinacional, tendo desempenhado um papel decisivo. Os dados recolhidos são analisados e transformados em conhecimentos úteis com grande rapidez, fornecendo informações mais atuais, precisas e relevantes para as missões.

No Media Day, o general João Cartaxo Alves, chefe do Estado-Maior da Força Aérea Portuguesa, afirmou: “A integração da componente espacial num exercício da magnitude do NATO Tiger Meet demonstra que a utilização de dados de satélite em ambientes operacionais já é uma realidade para a Força Aérea. A participação ativa de empresas como a ICEYE, líder mundial no seu setor, demonstra claramente o reconhecimento, por parte da indústria espacial, do papel da Força Aérea Portuguesa, tornando esta parceria um passo importante no nosso caminho para o espaço”.

Participações variáveis consoante as nações

No que se refere ao NTM, existem membros de direito, observadores em terra e convidados que participam nas missões. A Força Aérea Portuguesa (FAP) participou com 500 militares e dez aeronaves, tendo fornecido parte da logística no âmbito de acordos técnicos assinados com os países participantes.

Entre estas, destacam-se os caças F-16 do Esquadrão 301, também conhecido como “Jaguares”. Para a ocasião, um F-16AM recebeu uma pintura especial com o rosto de uma onça-pintada impresso na parte superior da fuselagem e nas asas, bem como listras na parte inferior, criando um aspeto distinto que contrasta com a cor cinzenta tradicional da aeronave. Os espanhóis, italianos e alemães enviaram Eurofighters.

A França não enviou nenhum Rafale, apesar do exercício VOLFA já ter começado e do envolvimento da Força Aérea e Espacial se ter intensificado no leste da Europa. A contribuição consistiu num E-2C Hawkeye e em vários helicópteros da ALAT, habituais neste tipo de exercícios. O Eurofighter EF-2000 Typhoon MM7355 da Força Aérea Italiana estava magnificamente decorado, tal como o helicóptero de operações especiais Leonardo HH-101 Caesar do 9.º Stormo da Aeronautica Militare, especializado em missões de busca e salvamento em combate.

Do lado português, o último KC-390, recebido em julho pela Esquadrilha 506 — “Rinocerontes” — participou no exercício, juntamente com um PC-3 Orion. A Turquia enviou três caças F-16 e 53 elementos da Força Aérea para participar no exercício. A Alemanha organizou a edição anterior e destacou Eurofighters e Tornados (Taktisches Luftwaffengeschwader 51 “Immelmann”). O Panavia Tornado ECR, com o número 46+38, apresentava uma belíssima decoração batizada de “Desert Tiger”.

Dois AWACS da OTAN viajaram até Portugal e forneceram controlo aéreo aos caças, fazendo com que estes decolassem em primeiro lugar e regressassem à base em último. A participação de aeronaves de reabastecimento não é mencionada nos comunicados oficiais.

Um NTM tradicional representa, geralmente, 800 saídas durante 12 dias de exercício. Os diferentes destacamentos assumem, por turnos, as responsabilidades de comandante ou de comandante adjunto da missão. As nações envolvidas aproveitam a presença de várias dezenas de aeronaves para qualificar o seu pessoal. A Marinha Nacional envia regularmente aviões Hawkeye para que estes evoluam no seio de formações numerosas e multinacionais.

A presença de aeronaves não pertencentes à OTAN não permite a utilização generalizada de ligações táticas (L11 e L16), que facilitam a comunicação. A presença de vários helicópteros de diferentes tipos e equipas TACP permite incorporar missões CSAR e ações de forças especiais nos cenários. Algumas aeronaves estão equipadas com pods ACMI para facilitar a análise dos dados de combate. Outras transportam pods táticos LANTIRN, que permitem realizar alguns “ataques” com o apoio dos controladores em terra. Em algumas edições, há uma vertente de defesa terra-ar, mas para 2025 isso não parece ter sido levado a cabo. Portugal não dispõe de meios especializados neste domínio.

Logística partilhada

As forças aéreas da OTAN procuram reduzir a logística de implantação sempre que enviam aeronaves para exercícios ou missões operacionais na ala leste. Aeronaves do mesmo tipo podem ser apoiadas por equipas de várias nações para operações básicas de manutenção.
O serviço Aircraft Cross-Servicing (ACS) tem como principal objetivo reforçar as capacidades operacionais aéreas e facilitar o trabalho dos comandantes operacionais, garantindo uma regeneração rápida das aeronaves e reduzindo a pegada logística. Nesta edição, os aliados trabalharam para aumentar a sua interoperabilidade e garantir a elevada disponibilidade das aeronaves.

Um Spotting Day em formato reduzido

O número de participantes foi drasticamente reduzido em comparação com a edição anterior, o que terá causado grande frustração a muitos. Os participantes tiveram a oportunidade de observar de perto as descolagens e aterragens das aeronaves participantes no exercício, posicionando-se o mais próximo possível das mesmas durante a deslocação em pista e a descolagem. Uma segunda edição teve lugar no dia 1 de outubro, com a participação de mais cem sortudos. Também parece que o Dia da Imprensa teve um formato mais reduzido. No dia 24 de setembro, o Tiger Meet 2025 recebeu os amantes da fotografia e os apaixonados pela aviação no dia dedicado aos spotter

Participantes 21° Gruppo (ItAF) Grazzanise AB, ITA HH.101 Caesar 335 Mira (HAF) Araxos AB, GRC F-16C/D Fighting Falcon Esq 301 (PoAF) BA5 Monte Real, PRT F-16A/B MLU Fighting Falcon 814 NAS (RN) RNAS Culdrose, GBR EH101 Merlin 192 Filo (TuAF) Balikesir AB, TUR F-16C/D Fighting Falcon Esquadrão 11 (Força Aérea da Suíça) Meiringen AB, Suíça F/A-18C/D Hornet 142ª Esquadrilha (SpAF) BA Albacete – Los Llanos, ESP EF-2000 Eurofighter 211 TL (CzAF) Čáslav AB, CZE JAS-39C/D Gripen TaktLwG 51 (GAF) Schleswig AB, DEU Tornado IDS & ECR 1 AEW&C (OTAN) Geilenkirchen MOB, DEU E-3A Sentry 12° Gruppo (ItAF) Gioia Del Colle AB, ITA EF-2000 Eurofighter 6 EL (Força Aérea Polonesa) Poznań-Krzesiny AB POL F-16C/D Fighting Falcon 3 RHC (ALAT) BA Etain-Rouvres, FRA SA-342M Gazelle/EC-665 Tigre HAP/ NH90 2.Staffel (AAF) Zeltweg AB, Áustria EF-2000 Eurofighter

 

Externos 4F (FN) BAN Lorient, FRA E-2C Hawkeye LTG 62 (GAF) Wunstorf AB, DEU A400M GFD (Civil) Hohn AB, DEU Learjet 3/MFG 5 (MF) Nordholz AB, DEU Super Lynx Mk88A Esq 506 (PoAF) BA11 Beja, PRT KC-390 Esq 552 (PoAF) BA11 Beja, PRT AW-119 Koala Esq 601 (Força Aérea do Porto) BA11 Beja, PRT P-3C Orion Esq 751 (PoAF) BA6 Montijo, PRT EH101 Merlin EsqHel da Marinha (PoN) BA6 Montijo, PRT Super Lynx Mk95 Esq 501 (PoAF) BA6 Montijo C-130H Hercules AVDEF (Civil) Nîmes-Garons AB, FRA Falcon 20

*É militar reformado do Exército Francês. Faz reportagens e escreve artigos para revistas e sites de defesa

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