Sean “Diddy” Combs, que está detido desde Setembro do ano passado, tinha eventos marcados para a próxima semana em Miami. Esta sexta-feira, uma sentença do tribunal de Nova Iorque anulou essas ambições e condenou o magnata do rap caído em desgraça a 50 meses de prisão, ou seja, quatro anos e dois meses, depois de o juiz Arun Subramanian ter declarado que, para os crimes em questão, as directrizes federais sugeriam uma condenação apropriada entre 70 e 87 meses, ou seja, quase seis e sete anos. Diddy terá ainda de pagar uma multa de 500 mil dólares (cerca de 425 mil euros), o máximo possível.

O julgamento tinha acabado a 2 de Julho, quando Diddy foi considerado culpado em duas instâncias de transporte de ex-namoradas para prostituição e ilibado das acusações maiores, de extorsão e tráfico sexual. Sem fiança, ficou detido até agora. A acusação queria 11 anos e três meses, a defesa queria menos de 14 meses, ou seja, o tempo já cumprido em prisão.

Segundo o juiz, a sentença precisava de ser “substancial” para “enviar uma mensagem tanto a abusadores quanto a vítimas”, para sublinhar que “a exploração e a violência contra mulheres é recebida com verdadeira responsabilização”. Por um lado, os mais de 11 anos pedidos pela acusação “não eram razoáveis”. Por outro, os 14 meses da defesa “não eram suficientes”, tendo em conta a gravidade das acusações.

Vários representantes da imprensa, como o The New York Times, a Sky News, a BBC e a CNN, estiveram no tribunal a dar actualizações sobre a audiência, que durou o dia todo. O próprio Combs falou, pela primeira vez desde o início deste processo. Os seis filhos em idade adulta do rapper testemunharam brevemente, pintando o pai como alguém que amam. O pastor religioso da família Combs disse que o acusado “precisa de uma oportunidade” e que, devolvendo-o à comunidade, as pessoas não se iriam arrepender. Foi ainda mostrado um vídeo de 11 minutos, como um documentário, para realçar o lado filantrópico e de liderança do antigo magnata do hip-hop, com o próprio a chorar, com as mãos na cara, enquanto o vídeo tocava.

Essa ideia é algo que fazia parte da carta que Diddy tinha escrito ao juiz nesta quinta-feira, a realçar o quão difícil era a vida na prisão – a defesa ainda alegou que o produtor tinha sido quase esfaqueado no cárcere – e que era um homem mudado, que dava aulas de negócios aos colegas de presídio. O texto de Combs mencionava como estava “quebrado” e como sentia “arrependimento” pelas suas acções. Prometia também nunca mais cometer crimes na vida. Os argumentos dos advogados foram no mesmo sentido, a falar de “trauma não tratado” e um vício em droga, algo que terá acabado, e ainda a realçar a ideia da importância de alguém como Diddy ter chegado tão longe na vida, nos negócios e na cultura. Houve um foco constante na saúde mental de Combs, que deveria ser tratado.

Esta ideia de que Diddy era um homem mudado foi rejeitada pela acusação, que lembrou o vídeo, divulgado pela CNN em Maio de 2024, do magnata num hotel, a espancar brutalmente, oito anos antes, a ex-namorada Casandra “Cassie” Ventura, que processou Combs em 2023, numa acusação de tráfico e violência sexual que espoletou várias outras (e Cassie e outra ex, cujo nome não foi divulgado, são as duas vítimas da acusação de transporte para prostituição). Terão dito que esse é que era o verdadeiro Diddy e ainda adicionado que, mesmo nessa altura, um mês após ter pedido desculpa por essas acções quando o vídeo foi revelado, voltou a bater noutra namorada, a outra vítima da acusação de transporte para prostituição.

Cassie também escreveu uma carta ao juiz dias antes desta sentença, a pedir-lhe para ter em conta as vítimas e a dizer que teme pela sua segurança e a segurança da sua família no caso de o ex-namorado ser libertado. Quando testemunhou, Diddy começou por pedir “desculpa” à cantora, a título pessoal, e a todas “as vítimas de violência doméstica”. As suas acções, declarou, foram “nojentas, vergonhosas e doentias”, já que estava “doente por causa das drogas” e “fora de controlo”. “Precisava de ajuda”, continuou, ajuda essa que não teve. “Perdi-me no sonho da minha vida. Não sou esta pessoa maior do que a vida. Sou só um ser humano. Estava a tentar o meu melhor, perdi-me no meu excesso”, alegou.

Depois da sentença, o juiz valorizou a contribuição das “sobreviventes corajosas que se chegaram à frente”, dizendo a Cassie e à outra acusadora que passaram “por abuso e trauma que não conseguimos imaginar”, acrescentando: “Ouvimos-vos. Estes actos horrendos foram tornados públicos e Sean Combs nunca os poderá lavar.” Ao condenado e à família, deixou ainda uma nota de esperança: “Há uma luz ao fundo do túnel”. Vão ser “tempos difíceis na prisão”, longe da família, mas ainda “vai ter uma vida” quando sair. Os advogados de Cassie partilharam um comunicado, citado pela Sky News, onde se lê que “apesar de nada poder desfazer o trauma causado por Combs, a sentença imposta hoje reconhece o impacto das ofensas sérias que ele cometeu”.