A polícia georgiana usou canhões de água e gás pimenta para dispersar uma multidão de manifestantes que tentou invadir o Palácio Presidencial, em Tbilissi, durante um protesto este sábado.

Dezenas de milhares de pessoas concentraram-se na Praça da Liberdade, no centro da capital georgiana, no dia em que o país foi chamado para votar nas eleições locais, boicotadas parcialmente pelos partidos da oposição.

A acção de protesto foi convocada com o objectivo de organizar um “derrube pacífico” do Governo do Sonho Georgiano, partido que governa a Geórgia há mais de uma década e que é considerado ilegítimo pela generalidade da oposição.


Há cerca de um ano que o Governo enfrenta uma onda de contestação sem precedentes, gerada na sequência do rompimento, por sua própria iniciativa, do processo de adesão da Geórgia à União Europeia. A oposição acusa o Sonho Georgiano de se querer eternizar no poder e de querer instaurar um regime autoritário idêntico ao da Rússia.

Ao longo dos últimos meses, as autoridades têm reprimido de forma violenta as manifestações da oposição, além de perseguirem os jornalistas independentes.

A vitória do Sonho Georgiano nas eleições legislativas do ano passado foi considerada fraudulenta pelos partidos da oposição que continuam até hoje sem a reconhecer. A UE também tem chamado a atenção para o crescente autoritarismo do Governo georgiano e suspendeu todos os programas de parceria com o país.

Para os sectores pró-europeus, maioritários num país no qual 90% defende a entrada na UE, poucas opções restam que não continuar a demonstrar a sua oposição nas ruas, tal como aconteceu este sábado, embora nos últimos tempos a adesão aos protestos tenha baixado.

Por volta das 19 horas (menos três horas em Portugal continental), um grupo de manifestantes tentou subir o gradeamento que rodeia o Palácio Presidencial para o tentar invadir, mas foi impedido pela polícia antimotim. As forças de segurança recorreram a canhões de água e gás pimenta para dispersar a multidão, de acordo com a Reuters.


Durante a manifestação, Murtaz Zodelava, um dos dirigentes da oposição, apelou à mobilização da “força masculina” entre os manifestantes para que invadissem o Palácio Presidencial.

O Ministério do Interior acusou os manifestantes de “incitar a violência”, mas não ficou claro se foram feitas detenções. O primeiro-ministro, Irakli Kobakhidze, garantiu que todos os envolvidos na tentativa de invasão do Palácio Presidencial “serão responsabilizados”. “Avisámos estas pessoas para as respostas duras”, acrescentou.

A ex-Presidente Salome Zurabichvili, opositora do Sonho Georgiano, demarcou-se dos apelos a actos violentos e criticou a tentativa de invasão do palácio. “Esta farsa de ocupar o Palácio Presidencial só pode ser encenada pelo regime para desacreditar os 310 dias de protestos pacíficos do povo georgiano”, escreveu na rede X.

As eleições, que foram boicotadas por alguns partidos da oposição, saldaram-se numa vitória retumbante para o Sonho Georgiano que reivindicou vitória em praticamente todas as autarquias, apesar de este ter sido o acto eleitoral com menor número de observadores estrangeiros da História recente do país.

Nos dias que antecederam as eleições, a Amnistia Internacional disse que estas ocorrem num ambiente de “repressão política dura contra figuras da oposição e da sociedade civil”.