Os quatro portugueses que participaram na Flotilha Global Sumud e que estavam detidos desde quinta-feira foram repatriados de Israel e chegarão na noite deste domingo, 5 de Outubro, a Portugal, avançou o Ministério dos Negócios Estrangeiros português, acrescentando que “serão acompanhados por um diplomata durante todo o percurso”.
“A Embaixadora de Portugal em Telavive esteve no centro de detenção de Ketsiot para se assegurar do bom desenvolvimento do processo de repatriação”, afirmou o MNE numa nota, acrescentando, mais tarde, que a hora prevista de chegada do grupo são as 22h40 ao aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa. Serão recebidos pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas.
O ministério já tinha adiantado que “tratou de todos os procedimentos para que os cidadãos nacionais que integraram a flotilha” pudessem regressar a Portugal nas próximas horas, mas não avançou com uma confirmação definitiva do regresso da actriz Sofia Aparício, da deputada Mariana Mortágua, do activista Miguel Duarte e de Diogo Chaves”, que só poderia ser dada “no momento em que todos se encontrem dentro do avião”.
INFOGRAFIA
O grupo de quatro portugueses estava detido em Israel desde a noite de quarta-feira, altura em que as forças israelitas interceptaram a maioria das embarcações da Flotilha Global Sumud, que pretendia chegar à Faixa de Gaza para entregar ajuda humanitária. Participavam na iniciativa mais de 40 embarcações e 500 voluntários de dezenas de países.
A flotilha estava a menos de 75 milhas náuticas de Gaza (cerca de 120 quilómetros) quando foi interceptada pela Marinha israelita. No último comunicado divulgado no Telegram, os organizadores realçavam que estavam “além de onde o Madleen foi interceptado” em Junho, acção que tinha resultado na detenção de pelo menos 12 activistas. Estava previsto chegarem a Gaza na quinta-feira de manhã.
Depois de serem detidos por Israel e levados, primeiro, para o porto de Ashdod e, depois, para a prisão de Saharonim, no deserto do Negueve, os quatro portugueses estiveram “bastante tempo” sem água e comida, motivando um protesto do Governo junto do embaixador israelita em Lisboa.
“O relato que foi feito dá nota de que estiveram bastante tempo sem água quando estavam no porto. No centro de detenção já havia água mas não parecia capaz de se beber (embora dissessem que era potável)”, adiantou fonte oficial do MNE. A embaixadora portuguesa, Helena Paiva, protestou logo na altura junto do responsável da área de detenção. O ministério fez o mesmo junto do embaixador de Israel em Lisboa.
Numa carta divulgada nas redes sociais do movimento português Flotilha Humanitária e atribuída a Mariana Mortágua, pode ler-se: “Mãe, não nos trataram bem, nem água nem comida há 48 horas. Mas está tudo bem e não fui ainda parar à solitária. Convoquem manifestações”.
A embaixadora portuguesa em Telavive visitou na sexta-feira os portugueses e “pôde confirmar que todos se encontravam bem de saúde apesar das condições difíceis e duras à chegada ao porto de Ashdod e no centro de detenção”, indicou antes o MNE, numa nota informativa. “Não foram sujeitos a violência física, não obstante queixas várias — queixas estas que levaram a um protesto imediato por parte da embaixadora de Portugal em Israel”, segundo as autoridades portuguesas.
Como aconteceu com a maioria dos detidos de outras nacionalidades, os portugueses aceitaram ser “deportados de forma voluntária e de imediato” e foram informados de que as autoridades israelitas os colocarão “nos primeiros voos disponíveis destinados à Europa, a expensas do Governo israelita, podendo sofrer atrasos” devido aos feriados israelitas que se celebram por estes dias. A maioria dos activistas detidos ainda aguarda a expulsão do território israelita.
Espanhóis também regressam este domingo
Também um grupo de 21 espanhóis que faziam parte da Flotilha Global Sumud deve deixar Israel nas próximas horas com destino a Espanha, segundo anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros, da União Europeia e da Cooperação espanhol, José Manuel Albares.
“No Ministério dos Negócios Estrangeiros já organizámos tudo para que possam voar hoje de Telavive. Temos o acordo das autoridades israelitas e, se nada correr mal, o primeiro grupo de 21 espanhóis, do total de 49 que temos na nossa lista, chega hoje, ao longo do dia, a Espanha”, afirmou o ministro em declarações ao canal 24 Horas da RTVE.
Albares, que insistiu em ser cauteloso, acrescentou: “Até estarem no avião, não podemos confirmar a 100%”. O ministro espanhol declarou ter esperança de que os restantes 29 activistas devam partir de Israel nos próximos dias. Albares assinalou que o cônsul espanhol em Telavive está há várias horas no interior da prisão de Saharonim, no deserto do Negev, onde estavam detidos os cerca de 450 activistas de várias nacionalidades que viajavam na flotilha.
Questionado sobre Greta Thunberg, que disse estar detida por Israel numa cela infestada de percevejos, Albares preferiu omitir todos os pormenores até que o último espanhol seja libertado, mas sublinhou que o ministério espanhol está a zelar pela segurança física e pelo respeito pelos seus direitos.
Nesse sentido, disse que solicitou ao cônsul que, durante a reunião com os activistas, verificasse se estão a receber comida e água e se estão bem de saúde. Além disso, as autoridades do centro foram informadas que alguns são parlamentares e, por isso, têm “garantias e imunidades superiores”, o que, esclareceu Albares, não significa que não ofereçam a mesma atenção aos outros espanhóis. “Mas, assim como ocorreu com outros países, que viram os seus parlamentares partirem [de Israel], exigimos que com os nossos seja da mesma forma e, em geral, qualquer situação médica que possa surgir também será reportada às autoridades israelitas”, afirmou.
Governo israelita nega maus-tratos
O Governo israelita negou que as suas forças de segurança tenham maltratado qualquer membro da flotilha sob a sua custódia, após alguns activistas deportados terem reportado violações dos seus direitos enquanto estavam detidos, como foi o caso da activista sueca Greta Thunberg, que relatou que estava numa cela cheia de percevejos, desidratada e sem comida e água suficientes.
A activista turca e membro da flotilha Ersin Celik declarou: as forças israelitas “arrastaram a pequena Greta pelos cabelos diante dos nossos olhos, espancaram-na e obrigaram-na a beijar a bandeira israelita”.
Em resposta, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel afirmou que todas estas declarações não são mais do que “mentiras descaradas” e garantiu que “todos os direitos legais dos detidos estão a ser plenamente respeitados”. “Greta também não se queixou às autoridades israelitas sobre nenhuma destas acusações ridículas e infundadas, porque nunca ocorreram”, afirmou o Ministério israelita numa breve declaração na rede social X. Com Lusa