O socialista Eduardo Ferro Rodrigues considera “incompreensível” o silêncio do atual presidente do Parlamento, José Pedro Aguiar-Branco, sobre os ativistas portugueses detidos em Israel e “irresponsável” a acusação do ministro da Defesa de que estes são apoiantes de terroristas.

“É incompreensível o silêncio do atual Presidente da Assembleia da República (PAR) perante a situação em que estão os cidadãos nacionais, nomeadamente uma deputada eleita pelos portugueses”, referiu Ferro Rodrigues numa declaração enviada a vários órgãos de comunicação social.

Mariana Mortágua, a bordo de um dos navios da flotilha

Guerra no Médio Oriente

Na quinta-feira, o presidente da Assembleia da República afirmou esperar que seja assegurado aos portugueses, que se dirigiam à Faixa e Gaza e foram detidos por Israel, acesso aos serviços consulares e uma deportação concretizada com celeridade. “O que se exige é que o processo decorra com bom senso. Que seja assegurado aos cidadãos portugueses o acesso aos serviços consulares, garantidos pelo Governo, e que a deportação se faça com celeridade”, declarou Aguiar-Branco à agência Lusa, não se lhe conhecendo outra declaração sobre este caso.

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, a atriz Sofia Aparício e os ativistas Miguel Duarte e Diogo Chaves estão entre os mais de 450 participantes da missão humanitária detidos pelas forças israelitas, que intercetaram entre quarta e quinta-feira as cerca de 50 embarcações que integravam a flotilha.

Na mesma declaração, o antigo presidente da Assembleia da República defendeu “uma ação eficaz para imediata libertação e repatriamento dos detidos“, exigindo-se do Governo português e da União Europeia “um protesto formal junto de Israel” pela forma como estão a ser tratados.

A deputada Mariana Mortágua enviou, através da representação diplomática portuguesa em Israel, uma mensagem à família, na qual se queixa de que foram mantidos sem comida e sem água e que estão a ser maltratados, o que motivou um protesto do Governo português junto do embaixador israelita em Lisboa.

Ferro Rodrigues afirmou sentir-se tranquilizado ao ouvir o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, garantir que o Governo tudo iria fazer para que os portugueses fossem libertados e repatriados o mais depressa possível, mas criticou o ministro da Defesa, Nuno Melo, por ter acusado os ativistas de serem apoiantes de terroristas.

A acusação de Nuno Melo, de enorme gravidade e irresponsabilidade, parece ignorar o perigo que os ativistas correm – e que foi bem ilustrado pelo tratamento degradante que o ministro da Segurança Nacional de Israel, Ben-Gvir, lhes deu, filmando-os ajoelhados e chamando-lhes terroristas e apoiantes de assassinos”, disse.

Ferro Rodrigues lembrou que Ben-Gvir tem a tutela do sistema prisional israelita, sustentando que “a forma como tratou aqueles que neste momento são, ilegalmente, prisioneiros de Israel deve fazer-nos temer pelo que pode suceder”.

Os quatro portugueses aceitaram ser deportados de forma voluntária e de imediato e foram informados que as autoridades israelitas os colocarão “nos primeiros voos disponíveis destinados à Europa”.

Israel procedeu este sábado à deportação de 137 ativistas pró-palestinianos da Flotilha Global Sumud para a Turquia.

De acordo com o Governo israelita, trata-se de cidadãos dos Estados Unidos, Itália, Reino Unido, Suíça, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Argélia, Marrocos, Kuwait, Líbia, Malásia, Mauritânia e Tunísia.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros português, contactado este sábado pela Lusa, disse que ainda não tem data nem hora previstas para o regresso dos quatro portugueses, participantes na flotilha.

A equipa jurídica da Flotilha Global Sumud em Israel, por seu lado, disse este sábado que se reuniu com 80 participantes, de um total de mais de 400 detidos, adiantando que tinham sido realizadas 200 audiências judiciais, entre quinta e sexta-feira, “sem aviso prévio aos advogados” e, por isso, “sem a assistência da ONG Adalah, responsável pela defesa”.