Um estudo recente publicado na revista Nature Communications Biology sugere que golfinhos encalhados poderão apresentar alterações cerebrais semelhantes às da doença de Alzheimer, devido à exposição a toxinas produzidas por cianobactérias.

Investigadores da Universidade de Miami, do Brain Chemistry Labs, do Hubbs-SeaWorld Research Institute e do Blue World Research Institute analisaram os cérebros de vinte golfinhos comuns (Tursiops truncatus) encontrados encalhados na Indian River Lagoon, na Flórida.

Dr. David Davis a examinar neuropatologia usando um Huron TissueScope LE digital no Brain Chemistry Labs. Crédito: Paul Alan Cox

Os resultados revelaram concentrações extremamente elevadas de 2,4-diaminobutírico (2,4-DAB), uma toxina neurotóxica produzida por algas, chegando a ser 2.900 vezes superior durante os períodos de florescimento das cianobactérias.

Além disso, os cérebros dos golfinhos apresentavam características neuropatológicas típicas da doença de Alzheimer em humanos, incluindo placas de proteína beta-amiloide, emaranhados de tau hiperfosforilada e inclusões de TDP-43. A análise genética revelou ainda 536 genes diferencialmente expressos, muitos deles associados a doenças neurodegenerativas.

“Estes golfinhos funcionam como sentinelas ambientais”, explica David Davis, do Miller School of Medicine. “As alterações que observamos podem indicar riscos semelhantes para os seres humanos expostos às mesmas toxinas.” Estudos anteriores com populações em Guam já tinham mostrado que a exposição crónica a toxinas de cianobactérias está associada a doenças neurológicas.

C: Patologia beta-amiloide no cérebro de um golfinho encalhado; G: proteína tau hiperfosforilada no cérebro de um golfinho encalhado. Crédito:David Davis

As cianobactérias proliferam com mais frequência devido ao aquecimento global e ao aumento de nutrientes nos rios e lagos, muitas vezes resultantes de escoamento agrícola e descarga de esgotos. A libertação de águas contaminadas no estuário da Indian River Lagoon a partir do Lago Okeechobee tem vindo a intensificar este fenómeno.

Embora ainda não haja provas de que estas toxinas causem diretamente Alzheimer em golfinhos ou humanos, a correlação entre a exposição e alterações cerebrais é preocupante. Para os investigadores, é um alerta para a necessidade de monitorização da qualidade da água e para a proteção da vida selvagem e da saúde humana.