A última entrevista de Jane Goodall ficou em sigilo desde março. A conversa com o produtor e guionista Brad Falchuk só podia ser divulgada depois de a investigadora de chimpanzés morrer, algo que aconteceu esta quarta-feira. Dois dias depois, na Netflix, saía o primeiro episódio da série “Famous Last Words” (“Famosas Últimas Palavras”, em português), uma série composta por entrevistas que são feitas a várias pessoas de renome, cujo conteúdo (e identidade do entrevistado) só pode ser divulgado depois de morrerem. O programa é uma adaptação da série dinamarquesa “Det Sidste Ord” (“A Última Palavra”, em português).

Sentados frente a frente, Brad Falchuk entrevistou Jane Goodall, que se fez acompanhar de Mr. H, um peluche em formato de macaco que se tornou uma espécie de mascote para a investigadora desde que lhe foi oferecido há mais de 30 anos. Ao mesmo tempo que bebia uísque, Jane Goodall assumiu que há pessoas de quem não gosta.

Morreu Jane Goodall, famosa investigadora de chimpanzés. Tinha 91 anos

“Gostaria de as colocar numa das naves espaciais de [Elon] Musk e enviá-las para o planeta que ele tem a certeza que vai descobrir”, acrescentou. E detalhou depois que o CEO da Tesla “seria o anfitrião” da festa e o primeiro a entrar na nave espacial.

E continuou: “Junto a Musk iria Trump. E alguns dos verdadeiros apoiantes de Trump. Também colocaria Putin lá. E o presidente Xi [Jinping]. E certamente colocaria Netanyahu lá e o seu governo de extrema-direita.” “Colocava-os a todos numa nave espacial e mandava-os embora”, insistiu.

Já no final da entrevista, fixando os olhos na câmara, Jane Goodall lançou uma palavra de apoio a todos aqueles que julgam não saber o porquê de estarem vivos. E pediu que se cuidasse do planeta Terra.

“Que mensagem quero deixar? Quero certificar-me de que todos compreendem que cada um tem um papel a desempenhar. Talvez não o saibam, talvez não encontrem esse motivo, mas a vossa vida é importante e vocês estão aqui por uma razão… Podem fazer a diferença no mundo e podem escolher a diferença que fazem. Somos parte da mãe natureza e dependemos dela para [obter] água, comida, roupa, tudo! Temos que fazer tudo ao nosso alcance para tornar o mundo um lugar melhor. Vocês têm o poder”, terminou.

Os 55 minutos de entrevista divulgados na plataforma de streaming seguem a linha do formato original: só o entrevistador e o entrevistado sabem o que é dito no estúdio, uma vez que todas as câmaras são operadas de forma remota, explica Brad Falchuk em entrevista ao New York Times. E detalha ainda que as pessoas que ficam na sala de controlo (e que acompanham as gravações), não podem usar auriculares, garantindo que não ouvem nada.

Quanto ao local de gravação das entrevistas, além de um estúdio da Netflix em Los Angeles, foi também criado um estúdio móvel, de forma a que seja possível chegar até aos entrevistados com mobilidade mais reduzida.

Ao NYT, Brad Falchuk admite que o secretismo necessário para a realização desta série foi um dos motivos pelos quais achou que deve ser o próprio a conduzir as entrevistas, limitando o número de pessoas que sabiam quais os entrevistados.

O produtor conta ainda que faz questão de lembrar os entrevistados de que “estão mortos”, fazendo até algumas das questões usando tempos verbais no passado. No fundo, o objetivo destas conversas é dar aos telespetadores uma última oportunidade de ver e ouvir as pessoas que tinham como referência. “A ideia deste programa é dar mais uma hora” com as pessoas de quem gostam, disse ao NYT, recusando a ideia de que a série serve para partilhar segredos.

Brad Falchuk afirma ainda que uma das conclusões que atingiu quando fez esta série é que “ninguém diz ‘uau, devia ter passado mais tempo no trabalho’.”