O discurso do candidato apoiado por PSD, CDS e IL tem-se focado na questão da segurança desde o dia um — ou não ocupasse este tópico logo o primeiro capítulo do seu programa eleitoral — e subido de tom: ao longo da primeira semana de campanha oficial, prometeu ser “implacável”, “musculado”, ter “tolerância zero”, falou de idosos que têm medo de sair à rua e mulheres que evitam andar de transportes à noite, visitou bairros sociais, pediu uma mudança de atitude na própria polícia e acabou mesmo a avisar para os perigos daquilo a que chamou uma “invasão de imigração ilegal” no Porto.

As consequências na campanha são óbvias: os adversários acusam-no de amedrontar a população e agigantar o medo, Manuel Pizarro já compara o discurso ao “extremismo” do Chega, o próprio Pedro Duarte reconhecia, no Aleixo, que tem sido “muito criticado” por dizer abertamente que não acredita nos dados oficiais (por acreditar que muitas das pessoas que são vítimas da pequena criminalidade não chegam a reportar o que lhes acontece à polícia). E, apesar de tudo isto, o tom segue duro e sem recuos.

A explicação está nos dados; não nos dados oficiais da criminalidade, mas antes nos que a campanha recolheu sobre a perceção dos portuenses a propósito da questão da (in)segurança. Conforme o Observador apurou, quando Pedro Duarte avançou com a candidatura foi conduzido um focus group detalhado, focado nas preocupações dos portuenses, onde a segurança surgia de forma clara como uma “prioridade a agarrar”, sobretudo entre o eleitorado feminino e mais velho (e dependendo também da zona da cidade onde se vive). Daí surge a convicção de que é mais relevante falar à população sobre estes temas do que prometer “construção massiva”, como o PS tem feito, como resposta aos problemas no preço da Habitação.

A ideia é que a pequena criminalidade que todos os concorrentes assumem que existe, mas que lembram que não é nova e relativizam, acaba por ser menos reportada (caso de pequenos danos em carros ou tentativas de roubo, por exemplo). E é isso que Pedro Duarte tem dito e repetido, assumindo aos jornalistas que neste momento não acredita na recolha dos dados oficiais e que se estiver a “empolar” o tema da segurança fica “feliz”, porque “é deliberado” — para o candidato, há uma “passividade” que é preciso contrariar enquanto os fenómenos neste âmbito “não são muito graves” para não chegar ao nível de insegurança na cidade que já testemunhou quando viveu nos EUA, assistindo à “degradação de cidades”.

A outra razão que se pode apontar para a estratégia de Pedro Duarte é a tentativa de esvaziar o Chega, que tradicionalmente não tem no Porto o seu terreno mais favorável mas tem agora hipótese de eleger, pela primeira vez, vereação na cidade, com o antigo líder da bancada municipal do PSD, Miguel Côrte-Real. Com um discurso menos inflamado do que é costume no Chega, na campanha de Pedro Duarte assume-se que o rival da coligação tem crescido em zonas de influência da direita, como a Foz, embora também possa roubar votos com eficácia em zonas tradicionalmente socialistas, como Campanhã.

Não por acaso, Pedro Duarte, uma das vozes conhecidas no PSD pelas críticas duras ao Chega — em entrevista ao Observador chegou a dizer que no plano das eleições legislativas discordaria de qualquer aproximação do PSD ao Chega, preferindo que nesse caso fosse o PS a governar, por “princípio” — tem assumindo que, embora nas questões sociais se identifique mais com os socialistas, na segurança tem mais em comum com o Chega. Na luta pela presidência da câmara, que as sondagens pintam como renhida entre Manuel Pizarro e Pedro Duarte, o desvio de alguns votos das candidaturas mais próximas pode ser determinante.