ZAP // André Kosters / Lusa; IGCP
A maioria (61%) dos portugueses não investe. Sobretudo, por falta de dinheiro para investir (37%). No entanto, também há uma percentagem considerável de pessoas (27%) que simplesmente prefere ter o dinheiro parado e poupar sem investir.
O Doutor Finanças divulgou esta sexta-feira os resultados do Barómetro Hábitos de Investimento dos Portugueses, desenvolvido em parceria com o Centro de Estudos Aplicados da Católica de Lisboa.
Os resultados revelam que a maioria (61%) não investe, justificando esta opção sobretudo pela falta de dinheiro disponível para investir (37%).
A outra parte dos portugueses que não investe, embora tenha dinheiro, prefere tê-lo parado e apenas poupar sem investir (27%).
Entre os que investem, a escolha recai em produtos de capital garantido: depósitos a prazo (49%), Planos Poupança Reforma – PPR (38%) e certificados de aforro ou Tesouro (35%). Isto evidencia a tradicional preferência portuguesa por aplicações seguras e de baixo risco.
Ainda que o ouro/prata (39%), as ações (29%) e os fundos de investimento (22%) surjam como alternativas relevantes e atrativas, os ativos de maior risco como ETF (14%) e criptomoedas (10%) têm expressão reduzida, revelando uma abertura ainda cautelosa a soluções mais voláteis.
Portugueses têm aversão ao risco
O perfil de risco declarado pelos inquiridos está em linha com os comportamentos: 49% assume-se conservador, 41% moderado, e só 6% se declara agressivo.
Quase metade (48%) só detém produtos de capital garantido, revelando uma baixa tolerância à desvalorização. Esta prudência é também reflexo da experiência de investimento: 44% já perdeu dinheiro, reforçando a opção por soluções seguras.
A preocupação com a sustentabilidade ainda não tem um peso relevante: apenas 29% considera fatores ESG, com aplicação prática muito residual. Também a diversificação permanece limitada: 71% afirma conhecer o conceito, mas só 40% o aplica de forma efetiva.
A banca mantém-se como a principal fonte de informação (52%) e canal de investimento (50%), revelando dependência de intermediários institucionais. Apesar disso, aumenta o recurso a canais digitais, como aplicações (20%) e plataformas (17%), ainda que com menor expressão. Cerca de 21% dos respondentes também procuram informação junto de amigos e família.
Quem é que investe as suas poupanças?
A esmagadora maioria aplica uma percentagem moderada ou baixa do seu rendimento. Um terço (33%) investe entre 5% e 10%, e uma fatia significativa (21%) diz aplicar mais de 20% — sobretudo homens e pessoas com mais de 65 anos.
O estudo confirma a relação direta entre rendimento familiar e capacidade de investir.
Nos escalões de rendimento até €1500, a esmagadora maioria aplica menos de 5% do seu rendimento. Acima dos 3.000€, 11% investe mais de 20%, revelando maior margem de poupança.
Entre os investidores, a maioria (45%) investe há 10 anos ou mais – mais homens e mais seniores; 32% fá-lo nos últimos 5 anos, e apenas uma minoria (16%) tem um histórico de investimento, entre 5 e 10 anos.
Quanto à frequência, 36% reforça mensalmente as suas aplicações, 24% fá-lo de forma ocasional, enquanto 15% e 12% investe anualmente ou trimestralmente, respetivamente.
Apesar de 41% afirmar conhecer bem os produtos em que investe, 37% admite ter apenas noções básicas. Uma minoria significativa toma decisões sobretudo com base em recomendações de profissionais (7%) ou de familiares e amigos (7%), reforçando a importância da educação financeira e do aconselhamento especializado.
“A par da literacia financeira, também precisamos de uma injeção de confiança”, afirma Sérgio Cardoso, Chief Education Officer do Doutor Finanças, num comunicado enviado ao ZAP.
Este estudo foi realizado entre 31 de julho e 28 de agosto de 2025, através de inquérito telefónico (CATI) a 701 indivíduos, com idades entre os 18 e os mais de 65 anos, residentes em Portugal, assegurando representatividade nacional em termos de género, idade, região e escalão socioeconómico.