A editora Gradiva vai passar a ser gerida pela Guerra & Paz. A decisão foi anunciada a 3 de outubro num comunicado conjunto, no qual se explica a decisão do fundador da primeira, Guilherme Valente, de se jubilar após 45 anos de dedicação à causa editorial e “a essa galáxia que se chama livro, à descoberta de autores e à invenção de títulos”. No fim, é dito que “o acordo que entrega à Guerra e Paz a gestão da Gradiva” será formalizado em breve.

“A Gradiva mantem-se como editora autónoma, integrando o grupo Guerra & Paz”, esclarece Manuel S. Fonseca, editor da Guerra & Paz, ao Expresso. E será ele mesmo “a gerir as duas editoras”. “O que se pretende e eu espero é que a integração da Gradiva no grupo Guerra & Paz potencie as duas marcas e projete ainda mais as escolhas editoriais de uma e de outra, reforçando a identidade cultural e editorial de ambas”, acrescenta, remetendo qualquer informação adicional para o comunicado. O Expresso sabe que a integração da Gradiva na Guerra & Paz implicará a mudança de ambas para novas instalações, e que está a ser revista a estrutura dos serviços, de modo a não haver duplicações.

O desafio que Guilherme Valente me põe nas mãos parece-me um sonho. Publiquei, em tempos, um belo ficcionista americano, Delmore Schwarz, o escritor favorito de Lou Reed. O título do livro era: ‘Nos Sonhos Começam as Responsabilidade’s. A minha responsabilidade é, a partir de hoje, hercúlea. Assumo um compromisso: manter a identidade da Gradiva como uma casa editorial de referência”, escreveu Manuel S. Fonseca no comunicado.

A Gradiva foi fundada por Guilherme Valente em 1981 e o seu catálogo inclui nomes como George Steiner, Umberto Eco, Ian McEwan, Kazuo Ishiguro, Michael Cunningham, Eduardo Lourenço, António José Saraiva, Hubert Reeves e Luís Filipe Thomaz, para citar só alguns. Possui também uma coleção científica, a Ciência Aberta, com mais de 250 títulos, além de um grande núcleo de BD e de filosofia. Publicou 23 romances de José Rodrigues dos Santos, que lançou como escritor em 2005.

“Tenho 84 anos. Passo a Gradiva ao Manuel S. Fonseca para ele fazer como entender. O que quero é saber que a Gradiva e o seu fundo, vivo, valiosíssimo, estão com ele”, declara Guilherme Valente ao Expresso. O editor nota que esta ‘passagem’ não se prende com questões de tesouraria, pois a Gradiva “não corria o risco de fechar”. “Temos dinheiro no banco e em caixa. E nunca devemos ou pedimos dinheiro a ninguém“, assevera. Mas afirma que há 41 anos que pensava na possibilidade de se ligar a uma outra editora, e que chegou a explorar outra solução que não se revelou “o que pensava que podia ter sido”.

Já no comunicado o editor tinha expressado: “Se eu tivesse menos 10 anos veria seguramente a crise que vivemos – crise de cultura, de conhecimento, de exigência intelectual, de leitura de obras de qualidade, que é por isso uma crise da verdade e de liberdade – como um desafio e um estímulo para novos combates. Hoje vejo-a como uma razão reforçada para entregar o bastião do que fizemos na Gradiva a quem reúne condições de talento, entusiasmo e, digamos, vitalidade, para prosseguir o mesmo combate e os mesmos ideais.”