O príncipe William tentou conter as lágrimas ao discutir o impacto devastador do suicídio com uma mulher cujo marido tirou a própria vida. O momento foi partilhado num vídeo divulgado pelo Palácio de Kensington nesta sexta-feira para assinalar o Dia Mundial da Saúde Mental. Do outro lado do Atlântico, Harry e Meghan também não deixaram passar a data em branco e alertaram para o perigo das redes sociais, que têm “levado crianças” das suas famílias todos os anos.
No filme partilhado nesta sexta-feira pela Royal Foundation, o herdeiro do trono fala com Rhian Mannings, cujo marido, Paul, se suicidou cinco dias após a morte súbita do filho do casal George, em 2012, na sua casa em Cardiff, no País de Gales. Na conversa, o príncipe de Gales e a mulher apelam à necessidade de um melhor apoio às famílias afectadas pelo suicídio.
O príncipe pergunta como é que Rhian conseguiu lidar com a perda do filho e do marido, enquanto continuava a ter de cuidar dos dois filhos mais velhos. “Olho para trás e ainda não sei como é que sobrevivemos”, confessa. “Nunca tinha tido qualquer contacto com o tema do suicídio. Era algo que passava nas notícias. Ninguém falava sobre isso.”
William fica claramente emocionado depois de perguntar a Mannings, que fundou a instituição de solidariedade 2wish para ajudar os que sofreram a morte inesperada de uma criança (o seu filho tinha apenas 1 ano) ou de um jovem adulto, o que teria dito ao marido.
“Gostaria de o sentar e dizer-lhe: ‘Porque não vieste ter comigo?’ E acho que isso é o mais difícil, nós teríamos ficado bem”, disse ao príncipe, que tenta conter as lágrimas. “Está bem?” pergunta-lhe Mannings. “Lamento”, responde William. “É que é difícil fazer estas perguntas…”
Mas Rhian diz compreender a sensibilidade do príncipe de Gales: “Não, está tudo bem. É que tens filhos… É difícil… E já passou por uma perda.”
No ano passado, William esteve entre os presentes no funeral de Thomas Kingston, genro do príncipe Michael de Kent, primo de Isabel II, que se suicidou na sequência de efeitos adversos do tratamento para a saúde mental.
O lançamento do vídeo coincide com a apresentação da Rede Nacional de Prevenção do Suicídio pela Royal Foundation, a organização de solidariedade de William e Kate, que se centrará na compreensão das causas do suicídio e na prestação de apoio acessível às famílias. Todos os anos, na Grã-Bretanha, mais de sete mil mortes são por suicídio, avança a Reuters.
Harry e Meghan nesta quinta-feira
Eduardo Munoz/Reuters
Harry e Meghan nos EUA
O tema é comum à agenda dos dois filhos de Carlos III e não é de surpreender que também Harry tenha assinalado a efeméride. Nesta quinta-feira, os duques de Sussex receberam o prémio de Humanitários do Ano na gala do projecto Healthy Minds, em Nova Iorque, e Harry apelou à protecção dos mais novos face aos perigos das redes sociais e da inteligência artificial, sobretudo por culpa dos algoritmos que acusou de serem “predadores de crianças”.
“Quando percebemos que milhares de famílias de todos os cantos da sociedade estão a enfrentar os mesmos desafios, muitas delas a perceber pela primeira vez que foram as redes sociais que levaram os seus filhos, soubemos que este movimento precisava de crescer”, declarou o príncipe, que se refere ao Parents Network, um projecto da Fundação Archwell lançado no ano passado para dar formação aos pais sobre o mundo digital e os seus perigos.
Mas também se destina a apoiar as famílias na procura de justiça face a empresas, que “gastam dezenas de milhões de dólares para suprimir a verdade”, e aos algoritmos que foram “concebidos para maximizar a recolha de dados a qualquer custo”. E insistiu Harry: “E os filhos deles? Não tinham problemas de saúde mental, não eram claramente vulneráveis, foram vítimas destas aves de rapina.”
Este é um tema que Harry e Meghan dizem discutir frequentemente até enquanto pais – Archie tem seis anos e Lilibet quatro. “Como muitos pais, estamos constantemente a pensar em como aproveitar os benefícios da tecnologia e, ao mesmo tempo, protegermo-nos dos seus perigos. Essa intenção esperançosa, de que é possível manter os dois lados, está a tornar-se rapidamente impossível”, lamentou a duquesa de Sussex que subiu ao palco ao lado de Harry.
Curiosamente nesta quinta-feira, a princesa de Gales, Kate, também publicou um artigo sobre o mesmo tema, onde defendia que as redes sociais estão a afectar a ligação afectiva das famílias. As crianças estão “mais isoladas, mais solitárias e menos equipadas para formar as relações calorosas e significativas”, lamentou a mulher de William, citada pelo The Telegraph. “Os nossos smartphones, tablets e computadores tornaram-se fontes de distracção constante, fragmentando a nossa concentração e impedindo-nos de dar aos outros a atenção total que as relações exigem.”
William e Harry são voz activa sobre a saúde mental desde que assumiram o papel de membros seniores da família real (um trabalho que o duque de Sussex deixou em 2020). Os dois já falaram várias vezes sobre a sua história pessoal e o sofrimento causado pela morte da mãe, a princesa Diana — vítima de um acidente de carro em Paris, a 31 de Agosto de 1997, quando William tinha apenas 15 anos e Harry 12.