Uns metros ao lado do local onde foi encontrado o corpo de L., três idosas juntam-se perto dos portões e discutem, debruçadas no muro, o que terá levado à morte do adolescente. Assumem que só sabem o que viram nas notícias e que, na noite anterior, estavam a ver televisão, de persianas fechadas, quando tudo aconteceu, pelo que não deram pelo barulho.

“Vocês não se metam em problemas”, diz uma delas para um jovem que passa e que conhece L. — andou com ele na escola e recorda-se de o ter visto, pela última vez, no autocarro. Também as vizinhas que o interpelam estão incrédulas com o que aconteceu e solidárias com o grupo de adolescentes que esteve alguns minutos concentrado no portão onde tudo aconteceu.

“É uma rua calma”, testemunha um casal enquanto insere a chave de casa na ranhura da porta de um prédio que fica no enfiamento da rua Maria Matos. Na noite anterior, contam, não dormiram no apartamento, pelo que só souberam pelas notícias do que se passou.

Carlos conta que quando saiu de casa, na noite anterior, depois de se ter apercebido de um “estrondo”, a polícia já tinha os carros a impedir o acesso à rua. Na tarde desta terça-feira, o aparato de polícia e meios de socorro é substituído pela curiosidade. Duas crianças, na mesma bicicleta, passam pela rua. “Foi numa destas ruas”, diz o que vai com as mãos no guiador. “Que quê?”, pergunta o outro. “Que mataram o L.”.