Em 1983 aos 22 anos, Subramanyam Vedam foi condenado pelo homicídio do seu colega de quarto. Alegou sempre a inocência, mas acabou por passar quase meio século na prisão, até ser libertado este mês. Agora, Subu, como é conhecido, pode ser deportado dos EUA para a Índia — de onde saiu em bebé.
O colega de quarto de 19 anos foi encontrado morto com um ferimento de bala no crânio nove meses depois de ter desaparecido, a 14 de dezembro de 1980, numa zona de floresta no estado da Pensilvânia. Subu, que lhe pediu boleia no dia do seu desaparecimento, foi acusado do homicídio — sem fiança, sem passaporte e com o visto confiscado pelas autoridades por ser reconhecido como um “estrangeiro com probabilidade de fugir”.
A condenação a prisão perpétua chegou dois anos depois, além de outra condenação, em 1984, por um crime relacionado com drogas, como parte de um acordo com as autoridades após confissão. Essa sentença, recorda a BBC, seria cumprida simultaneamente com a pena perpétua. Subu sempre se afirmou inocente da morte do companheiro de casa, tendo sido apoiado por familiares a ativistas que alegavam não haver uma única prova física que o ligasse ao crime.
Por isso, recorreu mais do que uma vez para evitar passar toda a vida atrás das grades. A espera foi longa, mas no início deste mês, passados 43 anos, surgiram novas evidências que o exoneraram aos 64 anos de idade.
A família temia que a ordem de deportação, de 1988, emitida com base nas suas condenações anteriores, pudesse ser um obstáculo à sua liberdade. Apesar disso, acreditavam que agora, sendo exonerado, a situação seria diferente.
Mas as forças de imigração e alfândega norte-americanas (ICE, na sigla em inglês) acabaram por deter Subu com rapidez — que não aproveitou a liberdade de que esteve privado quase 50 anos — e levaram-no para um centro de detenção. Apesar de ter sido exonerado pelo crime de homicídio, a condenação por um crime relacionado com drogas não desapareceu, ainda que tenha cumprido a pena respetiva.
“O que foi profundamente dececionante foi que não tivemos [o Subu] nem um momento para segurá-lo nos nossos braços. Ele foi preso injustamente e deveriam pensar que ele se comportou com tanta honra, propósito e integridade que isso deveria significar algo”, lamentou a mulher de Subu.
O ICE garantiu a vários meios de comunicação dos EUA que cumpriu uma ordem legal e, por isso, Subu irá continuar sob custódia enquanto aguarda a deportação. A família espera que as décadas de bom comportamento na prisão sejam consideradas no momento de o tribunal decidir a sua deportação. A mulher enfatiza que Subu quase não tem ligações à Índia, para onde as autoridades o querem enviar. Saiu do país asiático aos nove meses de idade e os únicos parentes que lá permanecem serão muito distantes.
A sua família próxima —a mulher, as quatro filhas e outros primos — estão espalhados entre o Canadá e os EUA. “Ele vai ser novamente roubado e vai perder a vida das pessoas perto dele, por estar do outro lado do mundo. É quase como ter a vida roubada duas vezes”, desabafou a mulher.
“Acreditamos que a sua deportação dos EUA para um país onde tem poucas conexões representaria outro terrível erro provocado a um homem que já sofreu uma injustiça sem precedentes”, disse a advogada à BBC.