Mulheres que falham a primeira consulta de rastreio do cancro da mama podem ter um risco 40% maior de morrer da doença a longo prazo, de acordo com um novo estudo agora divulgado.

Queríamos entender melhor a importância do rastreio e os resultados desse grande estudo — especialmente porque outubro é o Mês da Consciencialização para o Cancro da Mama. A investigação, cujos resultados foram publicados a 24 de setembro na revista The BMJ, envolveu mais de 400 mil mulheres na Suécia, que foram acompanhadas durante 25 anos.

Quando devem as mulheres começar a fazer o rastreio do cancro da mama e por que razão o atraso no rastreio inicial pode resultar num risco maior de morte por cancro a longo prazo? Além das mamografias, existem outros exames que as mulheres devem solicitar? E quanto ao autoexame das mamas? E quais são as medidas que as mulheres podem tomar para reduzir o risco de desenvolver cancro da mama?

Para nos orientar nessas questões, conversámos com Leana Wen, especialista em bem-estar da CNN. Leana Wen é médica de urgências e professora adjunta associada da Universidade George Washington. A especialista já foi também comissária de saúde de Baltimore.

 

CNN: O cancro da mama é comum?

Leana Wen: Nos Estados Unidos, o cancro da mama é o segundo tipo de cancro mais comum entre as mulheres e a segunda principal causa de morte por cancro entre elas, de acordo com os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA. Em 2022, mais de 279 mil novos casos de cancro da mama em pacientes do sexo feminino foram relatados nos Estados Unidos. Em 2023, mais de 42 mil mulheres morreram, na sequência da doença.

Um relatório publicado em fevereiro revelou que, globalmente, uma em cada 20 mulheres será diagnosticada com cancro da mama ao longo da vida. A este ritmo, os investigadores estimam que, até 2050, haverá 3,2 milhões de novos casos de cancro da mama e 1,1 milhões de mortes relacionadas com o cancro da mama por ano.

O rastreio precoce é crucial, porque o melhor prognóstico é quando o cancro da mama é diagnosticado e tratado nos seus estágios iniciais. Quando o cancro da mama é diagnosticado nos seus estágios localizados — antes de se espalhar — a taxa de sobrevivência em cinco anos é superior a 99%, de acordo com a American Cancer Society. Quando o cancro é detetado após se ter espalhado para outros órgãos, a taxa de sobrevivência cai para cerca de 32%.

Começar a fazer mamografias na meia-idade é essencial para reduzir o risco de morte por cancro da mama, de acordo com um novo estudo. (pixelfit/E+/Getty Images)

Quando é que as mulheres devem começar a fazer o rastreio do cancro da mama?

No ano passado, a Task Force de Serviços Preventivos dos Estados Unidos reduziu a idade recomendada para a maioria das mulheres começarem a fazer mamografias para os 40 anos. A orientação é que as mulheres façam uma mamografia a cada dois anos até aos 74 anos. Para aquelas com 75 anos ou mais, a decisão de continuar os rastreios é pessoal e deve ser tomada com o médico de família.

Esta recomendação abrange pessoas com risco médio de cancro da mama. Aquelas com risco mais elevado são encorajadas a falar com o seu médico para discutir se devem começar os exames mais cedo e com uma frequência maior do que a cada dois anos. Os elementos que aumentam o risco incluem histórico de radiação no peito, certas mutações genéticas e ter um parente de primeiro grau (como mãe ou irmã) com cancro da mama.

E o que é que este novo estudo mostra realmente?

Este estudo acompanhou os resultados de 432.775 mulheres na Suécia durante 25 anos. Entre as mulheres convidadas para a sua primeira mamografia, quase um terço não participou. As não participantes continuaram a ser menos propensas a participar em mamografias subsequentes e mais propensas a ter cancro da mama diagnosticado em estágios avançados, descobriram os investigadores.

De forma notória, as probabilidades dessas mulheres que não participaram inicialmente serem diagnosticadas com cancro em estágio 3 eram 1,5 vezes maiores, e 3,6 vezes maiores para cancro em estágio 4, em comparação com aquelas que participaram no primeiro exame. As mortes por cancro da mama, após 25 anos, para esse grupo foram significativamente maiores em comparação com aquelas que realizaram a primeira mamografia.

Estes resultados são notáveis, por causa da grande população que a equipa do estudo monitorizou durante um período substancial de tempo. Os investigadores salientam que as conclusões podem não ser generalizáveis a todas as populações que têm sistemas de saúde diferentes do da Suécia, embora eu ache que o conceito de rastreios perpetuamente perdidos, levando a taxas mais elevadas de cancro, provavelmente seja um problema de abrangência mundial. Um editorial que acompanha a mesma revista destacou que a decisão de fazer o primeiro rastreio mamográfico não é apenas um check-up de saúde de curto prazo. É um investimento de longo prazo, que tem implicações para a saúde e a sobrevivência futuras.

E porque é que o atraso no rastreio inicial resulta num risco maior de morte por cancro a longo prazo neste estudo?

Acho que o principal motivo é que as pessoas que não participaram inicialmente também eram mais propensas a faltar persistentemente aos exames de rastreio de acompanhamento subsequentes. As razões para isso são provavelmente complexas e podem ser uma combinação de fatores, incluindo falta de consciencialização, barreiras ao acesso e medo de descobrir o resultado. Fatores culturais também podem estar em jogo. O resultado é que essas pessoas eram mais propensas a ter o cancro diagnosticado numa fase mais avançada, quando as taxas de sobrevivência são mais baixas, e, portanto, tragicamente acabaram por ter mais mortes por cancro.

Além das mamografias, existem outros exames que as mulheres devem solicitar?

As mamografias, que são essencialmente um raio-X da mama, são o exame de rastreio padrão para a maioria das mulheres com risco médio de cancro da mama. Aquelas com maior risco de cancro da mama podem ser recomendadas para exames adicionais, como testes genéticos, ressonância magnética da mama ou ecografia mamária. Mulheres com tecido mamário denso também podem perguntar ao seu médico se exames adicionais são recomendados, uma vez que a mamografia é menos sensível na deteção do cancro da mama nessas pessoas.

E quanto ao autoexame da mama?

O autoexame da mama não é recomendado rotineiramente como um teste de rastreio e não deve substituir a mamografia. No entanto, as mulheres devem conhecer a aparência e a textura das suas mamas e estar atentas a quaisquer alterações preocupantes.

É importante separar o rastreio do diagnóstico. A mamografia é um teste de rastreio, realizado quando a pessoa não apresenta sintomas. Mas se alguém detetar uma nova massa ou nódulo, é necessário avaliá-lo para verificar se pode ser cancro.

Outras alterações potencialmente preocupantes incluem secreção mamilar, dor ou inchaço na mama, alterações na cor do mamilo ou da mama, mamilo voltado para dentro, nódulos linfáticos dolorosos ou aumentados nas axilas ou perto da clavícula, ou vermelhidão ou descamação da pele na mama. As pessoas que notarem essas alterações não devem esperar para marcar uma consulta com o seu médico.

Para as mulheres que estão preocupadas com o risco de cancro da mama, há medidas que podem tomar para reduzir esse risco?

Sim. Os fatores de risco para o desenvolvimento do cancro da mama incluem tabagismo, consumo excessivo de álcool, sobrepeso e obesidade. Parar de fumar, reduzir o consumo de álcool e manter um peso saudável ajudará a reduzir o risco de cancro da mama. Ser fisicamente ativo e ter uma alimentação nutritiva também pode reduzir o risco de cancro, além de melhorar a saúde em geral.

 

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