Goli Kouhkan tem 25 anos e está há sete anos no corredor da morte da prisão de Gorgan, no norte do Irão. Chegou lá com apenas 18 anos, após ser presa pelo alegado envolvimento na morte do marido, um primo com quem teria sido obrigada a casar aos 12 anos e do qual engravidou no ano seguinte, dando à luz um menino. Agora, de acordo com o jornal The Guardian, esta ‘noiva infantil’ só conseguirá evitar a execução se conseguir pagar 10 mil milhões de tomans — cerca de 92.000 euros — à família da vítima até dezembro.

Oriunda da minoria balúchi, considerada uma das comunidades mais vulneráveis e marginalizadas do Irão (que representa cerca de 2% da população), Goli não tinha documentos oficiais e terá sofrido abusos físicos e emocionais ao longo de vários anos.

Para a organização Iran Human Rights (IHR), sediada na Noruega, o caso representa a discriminação e a fragilidade a que são votadas as mulheres no Irão, onde o casamento infantil continua a ser permitido e o combate à violência doméstica tem pouca expressão.

“Kouhkan pertence a uma minoria étnica, é mulher e é pobre. É provavelmente a pessoa mais vulnerável da sociedade iraniana. A sua sentença é simbólica do uso da pena de morte pelas autoridades iranianas para criar medo, bem como das leis discriminatórias e dos fatores sociais que levaram a esta situação”, afirmou Mahmood Amiry-Moghaddam, citada pelo jornal britânico.

A sua família também não lhe terá prestado apoio ao longo do casamento, pois quando Goli conseguiu fugir uma vez para a casa dos pais, o seu próprio pai fechou as portas a qualquer ajuda: “Entreguei a minha filha num vestido branco, a única forma de voltares [é envolta num sudário]“.

No dia da morte do marido, Goli encontrou-o a bater no filho de cinco anos. Foi quando pediu ajuda a um primo, que chegou pouco depois. A tensão escalou, gerou-se uma luta e o marido acabaria por morrer, apesar de Goli ter chamado uma ambulância e relatado a situação às autoridades. Como consequência, ela e o primo foram presos pelas autoridades iranianas.

Ao ser interrogada, sem que tivesse contado com a presença de um advogado e sob alegada coação das autoridades, Goli veio a assinar uma confissão, mesmo sendo analfabeta. Posteriormente, foi condenada à pena de morte por enforcamento, mas a lei permite o perdão mediante uma indemnização à família da vítima.

Ou seja, para escapar à morte, Goli terá de pagar cerca de 92 mil euros e deixar a cidade Gorgan, enquanto o filho, agora com 11 anos, é criado pelos avós paternos.

O Irão lidera a lista de países que executam mais mulheres no mundo, tendo já sido executadas 30 mulheres este ano, praticamente o mesmo número de mulheres que morreram às mãos das autoridades iranianas em 2024: 31 mulheres executadas.

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