As centrais de abastecimento, como os 13 Entrepostos da Companhia de Abastecimento e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), na Capital e no Interior, são uma espécie de “segunda farmácia” para os diabéticos. Isso porque cerca de 500 mil toneladas das mais de 3 milhões de toneladas de produtos hortícolas, além de ovos e peixes, comercializados por ano, são de alimentos considerados coadjuvantes no tratamento dessa doença crônica.
Alguns vegetais e proteínas comuns no dia a dia ajudam tanto a controlar o apetite quanto a glicemia e a sensibilidade à insulina. Um exemplo disso está nas gorduras saudáveis, como as do abacate e as dos peixes ricos em ômega-3, como o salmão, a sardinha e o atum.
No ano passado, quase 50 mil toneladas de abacate passaram pelo Entreposto Terminal São Paulo (ETSP), na capital paulista, a maior central de abastecimento da América do Sul. De sardinha, foram 5,2 mil toneladas; de salmão, 3,5 mil toneladas, além de quase 500 toneladas de atum.
No caso das frutas, os especialistas recomendam que se dê preferência àquelas com baixo índice glicêmico e ricas em fibras. Algumas queridinhas são bem populares, como o próprio abacate, ameixa, maçã, morango e pera. Outras não tão comuns também têm essas propriedades, como kiwi e mirtilo.
Salada saudável
No ETSP foram comercializadas 155 mil toneladas de maçã e outras 77,7 mil toneladas de pera em 2024. Passaram por lá também no ano passado cerca de 30,5 mil toneladas de ameixas e 4,6 mil toneladas de morango.
Aquilo que vai na salada também pode ser adaptado para ajudar na saúde de quem lida com o diabetes. Nesse caso, um destaque importante está nos brócolis, que igualmente têm baixa carga glicêmica e alto teor de nutrientes. Em 2024, passaram pelo ETSP 20,5 mil toneladas de brócolis.
Outros produtos corriqueiros e que ajudam no combate ao diabetes são abobrinha, acelga, alface, berinjela, couve-flor, quiabo, repolho e rúcula, com destaque em teores de fibras, índice glicêmico e quantidade de nutrientes, alguns deles inclusive auxiliando no metabolismo da glicose e no estímulo à produção de insulina.
Somente de repolho e de abobrinha, foram comercializados no ETSP no ano passado, respectivamente, 40 mil toneladas e 36 mil toneladas.
Em casca
Em alguns casos, a forma de consumo é importante e é preferencial que verduras e legumes sejam consumidos crus e frutas, com casca, aumentando o teor de nutrientes e fibras ingeridos. Aumentar a porcentagem de vegetais na dieta é outra importante ajuda. Ovos, que a exemplo dos peixes são boa fonte de proteína, devem ser consumidos preferencialmente cozidos.
“Nenhum alimento in natura é proibido, especialmente frutas, legumes e verduras. No entanto, é fundamental observar a quantidade e a frequência de consumo”, afirma Alexandra de Oliveira, nutricionista do Banco Ceagesp de Alimentos (BCA). Conforme a especificidade do quadro, o plano alimentar deve ser individualizado, sempre sendo consultado um nutricionista.
Conforme recomendado pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), deve ser seguida uma dieta saudável e semelhante à recomendada para a população em geral. Entre os alimentos a serem evitados, estão ultraprocessados, bebidas e sobremesas açucaradas.
“É recomendado ainda priorizar alimentos integrais e fontes de fibras, como aveia, leguminosas e sementes”, acrescenta Alexandra.
Dia Mundial e Nacional do Diabetes
Criado em 1991 pela Federação Internacional de Diabetes (IDF), em pedido à Organização Mundial de Saúde (OMS), 14 de novembro foi o Dia Mundial e Nacional do Diabetes. Trata-se de uma homenagem a Frederick Banting, médico canadense que conseguiu isolar a insulina e aplicá-la em pacientes para tratamento, o que lhe rendeu em 1923 um Prêmio Nobel. Em novembro de 2025, ele completaria 134 anos.
A data também é oportunidade de jogar luz sobre um problema que, por vezes, chega silenciosamente. Na realidade nacional, isso se traduz em 20 milhões de brasileiros, considerando a contagem populacional do Censo 2022 (203.080.756) e a estimativa do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de que 10,2% de nossos compatriotas sofram desse mal. Isso põe nosso país como o sexto em casos de diabetes em geral.
Infância e adolescência
Desses, a imensa maioria tem o chamado Tipo 2, quadro adquirido que gera a resistência à ação da insulina. Neste quadro, as principais causas são falta de atividade física, obesidade e dieta não saudável, sendo mais frequente em adultos, mas ultimamente também tendo sua prevalência aumentada em crianças e adolescentes, exatamente devido ao consumo de alimentos ultraprocessados.
A minoria dos diabéticos brasileiros, na casa de 600 mil, sofre do Tipo 1, de fundo genético e origem autoimune, pois o sistema imunológico ataca as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. Nosso país é o terceiro colocado mundial em número de diabéticos de Tipo 1, diagnosticável principalmente na infância e na adolescência.
De acordo com o Vigitel, em 2023 o diabetes afetava 11,1% das mulheres e 9,1% dos homens, significando um aumento importante. No início da série histórica, em 2006, esses valores eram respectivamente de 6,3% e 4,6%.
A dimensão desse mal pode inclusive ser maior do que as porcentagens apontam, pois a IDF estima que 1 a cada 3 portadores não sabem que têm a doença. Se ela não for tratada, pode causar diversos prejuízos à saúde, como problemas cardiovasculares, cegueira, AVC, doença renal crônica, problemas de circulação e dificuldades de cicatrização. Em termos psiquiátricos, a depressão ocorre duas vezes mais do que em relação à média da população, significando que 20% do total de diabéticos poderá sofrer desse problema.