A proteína (o pó nesta foto) desenvolvida pela empresa finlandesa Solar Foods, poderá se tornar uma importante fonte de alimento para astronautas em missões de longa duração à Lua, Marte e além. Crédito: Solar Foods.
Flávia Rosso 16/11/2025 16:06 5 min
O principal desafio de alimentar astronautas em missões espaciais de longa duração é garantir a nutrição adequada de forma autossuficiente, já que o transporte de suprimentos da Terra é caro e logístico. A NASA, por exemplo, já vem estudando novas formas de criar alimentos no espaço com recursos limitados, para fornecer uma opção segura, nutritiva e saborosa.
Agora, a Agência Espacial Europeia (ESA), em parceria com a startup finlandesa Solar Foods e a empresa alemã OHB System AG, está desenvolvendo o projeto HOBI-WAN (Hydrogen Oxidizing Bacteria In Weightlessness As a source of Nutrition) para produzir alimento no espaço a partir do ar, da eletricidade, de micróbios e até da urina dos próprios astronautas, de forma a ter uma opção mais viável e nutritiva para eles. Entenda melhor abaixo.
Como é feita esta proteína?
O projeto HOBI-WAN é uma iniciativa da ESA para desenvolver um método de produção de alimentos ricos em proteínas para astronautas em futuras missões de longa duração à Lua ou a Marte, sem reabastecimento da Terra.
E a fase de estudos do projeto foi iniciada. Os cientistas estão testando a produção da Solein, um pó nutritivo criado por microrganismos que usam ar rarefeito, eletricidade e ureia (da urina) como fonte de energia para a síntese de proteínas.
O alimento em questão é um pó protéico produzido a partir de ar, água, eletricidade e a urina (mais especificamente a ureia) dos tripulantes, fermentado por microrganismos.
Mas como isso funciona exatamente? Estes microrganismos se alimentam de dióxido de carbono, hidrogênio e nitrogênio, elementos que podem ser obtidos do ar e da uréia dos astronautas (este no caso do nitrogênio). Dentro de biorreatrores, os microrganismos transformam esses compostos em moléculas orgânicas complexas, ricas em proteína.
O resultado é um pó amarelo-claro, com sabor neutro e textura semelhante a uma farinha. Segundo a Solar Foods, a Solein contém 78% de proteína, 10% de fibras, 6% de gordura e todos os nove aminoácidos essenciais para o corpo humano, além de ferro e vitamina B12.
Por ser leve e versátil, o pó pode ser misturado a outros ingredientes e transformado em massas, bebidas e até sorvetes.
Próxima etapa
Esta primeira fase deve durar 8 meses e é realizada aqui na Terra, onde os cientistas estão ajustando a tecnologia em ambiente controlado.
“Este projeto visa desenvolver um recurso fundamental que nos permitirá melhorar a autonomia, a resiliência e também o bem-estar dos nossos astronautas nos voos espaciais tripulados”, disse Angelique Van Ombergen, cientista-chefe de exploração da ESA, ao portal inglês Independent.
O pó protéico Solein foi desenvolvido pela startup finlandesa Solar Foods. Crédito: Reprodução/Solar Foods.
Com tudo ocorrendo conforme o esperado, a próxima etapa será testar o processo de fabricação da Solein a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS), em que o comportamento dos microrganismos em microgravidade será colocado à prova.
A expectativa é que, até 2035, a Solein possa ser produzida em diferentes escalas no espaço, desde pequenas porções em estações orbitais até o abastecimento de futuras colônias na Lua ou em Marte.
Referências da notícia
Protein Out of Thin Air: ESA’s pilot project HOBI-WAN launched. 03 de novembro, 2025. ESA.
Astronauts’ pee could be used to grow food in deep space, scientists explore. 10 de novembro, 2025. Chris Young.
