Cada vez mais casais dormem separados para fugir ao ressonar. Mas pode isso prejudicar a intimidade? Veja o que recomendam os especialistas

Sabe-se que ressonar pode ser inimigo do sono – mas tem de ser também inimigo do sexo?

Tenho ouvido repetidamente de casais que as tiras nasais, as máquinas CPAP e os tampões para os ouvidos estão longe de serem sensuais. Empurrar, dar toques, beliscar e ter vontade de bater na pessoa que ressona ao seu lado também não deixa ninguém com vontade de fazer amor. Alguns casais até estão a passar pelos chamados “divórcios de sono” – dormir em camas ou quartos separados – para conseguirem lidar com o problema.

Mas ressonar não tem de ditar o fim da vida sexual. Na verdade, pode ser um novo começo: seja separando o sexo da hora de deitar e comunicar de forma positiva sobre o assunto ou levando o sexo para fora do quarto, há muitas formas de aumentar a variedade e a criatividade sexual sem deixar o facto de alguém ressonar interferir na intimidade.

No espírito de um apelo à ação sexual, pedi a alguns colegas sugestões sobre como os casais podem tornar as suas relações “à prova de ressonar”.

Reconhecer o problema

Não há dúvida de que os problemas de sono podem interferir com o sexo, afirma Justin Lehmiller, investigador sénior no Instituto Kinsey. O especialista recorda um vasto conjunto de evidências, incluindo uma revisão publicada em 2023, que mostra que pessoas com distúrbios do sono, especialmente apneia do sono, têm maior probabilidade de sofrer de disfunção sexual.

“Quando não se recebe oxigénio suficiente ou um sono verdadeiramente reparador, instala-se a fadiga, os níveis de testosterona podem descer e o humor e a libido muitas vezes acompanham esse declínio”, explica Rachel Needle, codiretora dos Modern Sex Therapy Institutes, em West Palm Beach, Florida. “O sono é o sistema de reparação natural do corpo – do cérebro, das hormonas e até da resposta de excitação. Sem um sono de qualidade, a energia sexual, o desejo e o desempenho muitas vezes diminuem.”

Tratar a apneia do sono e outras causas da roncopatia (ressonar) beneficia ambos os parceiros. “A investigação mostra que tratar distúrbios do sono não só melhora o descanso de quem sofre do problema”, diz Lehmiller, “como melhora também o sono do parceiro.”

Ter “a conversa” sobre ressonar

O primeiro passo é reconhecer o problema, mesmo que isso cause desconforto. “Se um dos parceiros está a perder horas de sono, isso é um problema que ambos devem tentar resolver”, afirma a terapeuta sexual Rebecca Sokoll, de Nova Iorque.

A especialista recomenda que a conversa ocorra durante o dia e fora do quarto, começando por perguntar como o parceiro dormiu. Se for quem ressona, é importante admitir que pode estar a impedir o descanso do outro; se for o parceiro, explique de forma gentil que isso tem perturbado o seu sono.

Como ressonar pode ser um sinal de apneia do sono, que acarreta riscos próprios, Sokoll sugere enquadrar a conversa também como uma preocupação com a saúde do parceiro.

Existem diversas estratégias para deixar de ressonar, como tiras nasais, dormir de lado, perda de peso ou, no caso de apneia, recurso a CPAP prescrito por um médico. Mas alguns destes tratamentos podem tornar a hora de deitar uma experiência menos sensual – e
uma máquina de ruído branco só consegue abafar o barulho até certo ponto.

“Se o seu parceiro ressona, fale com ele delicadamente e peça autorização para virá-lo de lado quando necessário. A maioria das pessoas ressona mais quando está deitada de costas”, explica Eva Dillon, terapeuta sexual em Nova Iorque.

Dormir separados: solução ou risco para a relação?

Quando os casais dormem separados por causa de um problema como ressonar, essa solução é por vezes descrita na comunicação social como um “divórcio de sono” (uma expressão que pode soar mais negativa do que o necessário). Dormir em divisões diferentes pode ser uma opção perfeitamente razoável para casais que, em tudo o resto, têm uma relação feliz. Por que não encará-la como uma “sleep-cation”, isto é, uma pequena “pausa de sono”?

Sokoll concorda. “É importante deixar cair a ideia de que dormir juntos é um requisito para uma relação saudável”, diz. “Para muitas pessoas, partilhar a cama com o parceiro é algo sobrevalorizado e ressonar é um motivo perfeitamente válido para dormir separado, caso tenham espaço para isso.”

Ao mesmo tempo, deixar de ter a proximidade física que vem de partilhar a cama pode também criar distância emocional. “Muitas vezes, os casais subestimam o quanto aqueles rituais tranquilos da noite – fazer conchinha, dar abraços, ou simplesmente adormecer lado a lado – contribuem para uma sensação de segurança, ligação e proximidade”, nota Needle.

Eis como lidar com um parceiro que ressona sem comprometer a vida sexual.

Deem prioridade ao carinho.
Quando o ressonar impede aqueles momentos de carinho à noite, encontrem outras alturas ao longo do dia para manter o contacto – um abraço de manhã, um beijo a meio do dia, dar as mãos no sofá”, explica Needle. “Gestos simples e frequentes ajudam a manter a ligação emocional.”

Criem novos rituais antes de dormir. “Reservem algum tempo antes de se deitarem para estarem juntos, não apenas para trocar as novidades do dia, mas também para cinco a quinze minutos de contacto tranquilo, que pode ou não conduzir ao sexo. Depois, cada um segue para o seu descanso. A conchinha não desaparece, simplesmente acontece mais cedo”, aponta Sara Nasserzadeh, psicóloga em Los Angeles.

Sokoll sugere criar uma rotina de “boa noite” que inclua um beijo, um abraço e algumas palavras carinhosas. “Se resultar, podem até estabelecer o hábito de ler enquanto o parceiro que ressona adormece e, depois, seguir para o vosso espaço de descanso”, diz. “Não há uma única forma de fazer isto, por isso, sejam criativos e experimentem até encontrar uma solução que permita manter a ligação e, ao mesmo tempo, garanta um bom sono.”

Levem o sexo para fora do quarto. A intimidade não tem de acontecer à noite nem no quarto. Experimentem sexo matinal depois de os filhos saírem para a escola, um encontro mais espontâneo a meio da tarde ou simplesmente reservem tempo para toque e afeto antes de uma saída à noite, sugere a terapeuta sexual Juliane Maxwald, de Nova Iorque. “O bom sexo e a verdadeira proximidade emocional nascem de uma cultura de apreço e de gestos contínuos de afeto, não do local ou da hora em que dormem”, afirma.

Sem a proximidade de partilhar a cama, pode parecer que o sexo espontâneo deixará de acontecer. Mas ao fortalecer a ligação emocional e física através de carinhos, toques, flirt – e, sim, por vezes algum planeamento –
é possível garantir que o ressonar não afeta a vida sexual.

“O objetivo não é criar distância”, explica Nasserzadeh. “É dormir melhor, para haver menos ressentimento e mais energia para a relação no dia seguinte.”

Ian Kerner é terapeuta conjugal e familiar, escritor e colaborador regular da CNN, especializado em relações. O seu livro mais recente é um guia para casais, “So Tell Me About the Last Time You Had Sex”.