Há um novo estudo a garantir que bastam sete fatores para garantir uma saúde melhor no corpo todo.
O “Life’s Simple 7” é o guia da American Heart Association [Associação Americana do Coração] para alcançar uma saúde cardiovascular plena. Os fatores incluem não fumar, uma dieta nutritiva, exercício físico regular, um peso saudável, uma ótima pressão arterial, açúcar no sangue controlado e um colesterol bem gerido.
Os investigadores analisaram 483 estudos acerca dos impactos do “Life’s Simple 7” a aumentar a saúde de vários sistemas corporais diferentes ao longo da vida das pessoas. O resultado foi uma meta-análise publicada no “Journal of the American Heart Association”.
Conseguir manter níveis considerados ideais em pelo menos três das sete métricas do “Life’s Simple 7” foi algo associado a um menor risco de doenças cardiovasculares, mesmo que a pessoa tivesse predisposição genética para elas, segundo os dados. Melhores resultados em todos os fatores mostraram benefícios em vários sistemas do nosso corpo, para lá da saúde cardiovascular.
“Há uns anos descobrimos que a saúde cardíaca e a saúde cerebral estão intimamente ligadas. Com esta análise, descobrimos agora que quase todos os sistemas do nosso organismo, bem como as funções vitais, também beneficiam da manutenção dos hábitos de vida saudáveis do ‘Life’s Simple 7’”, afirma em comunicado a principal autora do estudo, Liliana Aguayo, que é professora assistente de investigação na Nell Hodgson Woodruff School of Nursing [Escola de Enfermagem] e no Global Diabetes Research Center [Centro de Investigação da Diabetes] da Emory University, em Atlanta.
“Ficámos agradavelmente surpreendidos ao descobrir que os sete passos da ‘Life’s Simple 7’, quando aplicados em níveis considerados ideais, afetavam todos os aspetos da nossa saúde, da cabeça aos pés. É algo que vai muito além da saúde cardiovascular, integrando a saúde do corpo todo”, junta.
Uma dieta à base de frutas e legumes pode ajudar na saúde do nosso coração, destaca Nour Makarem, da Columbia University (FG Trade/E+/Getty Images)
Não é preciso muito para ver resultados
Os investigadores levaram a cabo uma revisão sistémica de estudos que seguiram uma abordagem considerada de referência, refere Nour Makarem, professora assistente de epidemiologia e responsável da Unidade de Doenças Crónicas da Columbia University Mailman School of Public Health [Escola de Saúde Pública], em Nova Iorque. Makarem não participou na investigação citada neste artigo.
Uma das conclusões mais relevantes da investigação é de que uma pequena mudança pode fazer uma grande diferença quando se trata de estilo de vida e saúde, refere Aguayo.
O estudo avaliou a adesão ao “Life’s Simple 7” com recurso a uma escala de zero a 14 pontos.
Cada melhoria de um ponto foi associada a uma redução de 11% no risco de demência, a uma redução de 6% no risco de doenças oculares, a uma redução de 23% no risco de doença hepática e a uma redução de 11% no risco de doença renal crónica, aponta Aguayo.
“Isto significa que pequenas mudanças, como, por exemplo, passar de obesidade para excesso de peso, juntar alguma atividade física à rotina, mesmo que abaixo dos níveis recomendados, são consideradas progressos”, refere.
Muitos dos estudos mostraram que uma adesão ao “Life’s Simple 7” esteve associada à manutenção das funções cerebrais e pulmonares, da visão e da audição, dos dentes e da força muscular ao longo do processo de envelhecimento, segundo os dados.
Oito passos essenciais
Apesar de os estudos incluídos na meta-análise terem utilizado o “Life’s Simple 7” para avaliar os comportamentos de estilo de vida, a American Heart Association atualizou as suas métricas: agora é o “Life’s Essential 8”.
Estas novas diretrizes são mais abrangentes, incluindo evitar o fumo passivo, os cigarros eletrónicos e produtos com nicotina no que se refere ao fator ‘não fumar’. Depois, orienta as pessoas para a dieta mediterrânica ou para uma dieta orientada para reduzir ou controlar a hipertensão arterial, refere Makarem.
E, claro, o mais importante: esta atualização inclui um oitavo fator, reconhecendo o papel do sono na saúde a longo prazo.
Dormir bem significa sete a nove horas de sono por noite para a maioria dos adultos, dez a 16 horas para crianças até aos cinco anos, nove a 12 horas para crianças dos seis aos 12 anos e oito a dez horas para adolescentes entre os 13 e os 18 anos, segundo a American Heart Association.
O estudo confirma que adotar um estilo de vida saudável é importante para alcançar um nível de saúde considerado ideal, bem como para controlar fatores de risco convencionais para doenças cardiovasculares – peso, pressão arterial, colesterol e açúcar no sangue, aponta Aguayo.
Só juntar um bocadinho de exercício já ajuda (Oleg Breslavtsev/Moment RF/Getty Images)
Pequenas mudanças podem fazer uma grande diferença
As escolhas que fazemos no dia a dia têm um grande impacto na nossa saúde em geral. É caso para dizer que vale a pena tomar medidas para melhorar a nossa saúde cardiovascular, defende Aguayo.
“Esta é a principal mensagem: nunca é cedo ou tarde demais para fazer pequenas mudanças”, refere a investigadora por email. “Pequenas melhorias na dieta, na atividade física, no tabagismo ou na gestão dos fatores de risco (peso, pressão arterial, colesterol e açúcar) pode trazer benefícios significativas, não só para a saúde cardíaca, mas para todo o corpo, da cabeça aos pés”.
Para uma dieta amiga do coração, Makarem recomenda o consumo de frutas, vegetais, legumes e cereais integrais, bem como proteínas magras como o peixe. A especialista recomenda ainda um travão nos alimentos processados, no sal e nas bebidas açucaradas.
Por semana, os adultos devem praticar 150 minutos de atividade física moderada — como caminhada, dança ou jardinagem — ou 75 minutos de atividade física vigorosa, acrescenta Makarem.
Mesmo tendo em conta o impacto que pequenas mudanças podem ter, a verdade é que uma saúde cardiovascular considerada ideal é muito rara: há menos de 4% das pessoas em todo o mundo a cumprir os critérios, mostra Aguayo.
“Temos de fazer mais para apoiar os jovens, e especialmente as mulheres, tornando mais fácil, acessível e viável para todos uma melhoria da saúde cardiovascular”, junta. “As doenças cardiovasculares ainda são a principal causa de morte entre as mulheres. Por isso, apoiar a saúde do coração dos jovens e das mulheres é, além da coisa certa a fazer, uma forma de pouparmos [perante as complicações associadas]”.