A insuficiência ovariana prematura (IOP), popularmente chamada de menopausa precoce, afeta cerca de 30 milhões de mulheres no Brasil, o equivalente a 7,9% da população feminina, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quadro é caracterizado pela falência dos ovários antes dos 40 anos e traz repercussões físicas, hormonais e emocionais que comprometem a qualidade de vida.

No podcast Fala 50+, a psiquiatra Sheila Vardanega, especialista em saúde mental da mulher, explicou a diferença entre a insuficiência ovariana prematura e outras fases do envelhecimento feminino. “Anos antes da menopausa começam as flutuações hormonais que geram sintomas. Mas quando isso acontece muito cedo, falamos em insuficiência ovariana prematura”, destacou.

Muitas mulheres, segundo ela, passam anos sem compreender o que acontece. “É um grande problema: elas ficam anos com sintomas sem saber”, acrescentou.

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Perimenopausa, menopausa e menopausa precoce

A perimenopausa é o período de transição em que o corpo inicia oscilações hormonais, geralmente a partir dos 40 anos, com sintomas como calorões, irritabilidade e alterações de sono, mas ainda com ciclos menstruais.

A menopausa é diagnosticada após 12 meses consecutivos sem menstruação, e costuma ocorrer entre os 45 e 55 anos.

Já a insuficiência ovariana prematura ocorre antes dos 40 anos e está associada a uma perda acelerada da função ovariana. Embora menos frequente, provoca sintomas semelhantes aos da menopausa comum, mas em idade mais precoce, intensificando os impactos físicos e psicológicos.

Sintomas e complicações

Os sintomas mais relatados por mulheres com IOP incluem:

  • irregularidade ou ausência menstrual
  • ondas de calor e sudorese noturna
  • irritabilidade e alterações de humor
  • dificuldade para dormir
  • pele seca, queda de cabelo e ressecamento vaginal
  • dores musculares e no corpo

As complicações vão além do desconforto imediato. A redução precoce de estrogênio aumenta o risco de osteoporose, perda de massa óssea, doenças cardiovasculares e até dificuldades de memória e concentração, já que o hormônio também atua na proteção cerebral.

No mesmo episódio do Fala 50+, a fisioterapeuta Paula Costa Silveira, com mais de 20 anos de atuação no Hospital Nossa Senhora da Conceição, reforçou que os impactos também chegam à saúde íntima. “As pacientes relatam ressecamento vaginal, dor na relação e incontinência urinária. São questões que muitas vezes aparecem cedo demais e comprometem o bem-estar”, observou.

Fatores de risco

O estudo “Os principais fatores que influenciam a menopausa precoce: uma revisão bibliográfica” (Ellen Fernanda Ibiapino Moura Cruz et al., Research, Society and Development, 2022) aponta que a insuficiência ovariana prematura pode estar ligada a fatores genéticos, mutações cromossômicas, doenças autoimunes, infecções, cirurgias pélvicas, quimioterapia, radioterapia e tabagismo. Em até 90% dos casos, a condição é considerada idiopática, ou seja, sem causa claramente definida .

A pesquisa ressalta que, por ocorrer em mulheres jovens, o diagnóstico precoce é essencial para reduzir complicações graves. O acompanhamento ajuda a prevenir infertilidade, doenças cardiovasculares e fragilidade óssea. Além disso, manter um estilo de vida saudável, com foco em saúde óssea e cardiovascular, é apontado como medida importante de proteção.

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Caminhos de cuidado

O diagnóstico é feito a partir de exames hormonais e laboratoriais que confirmam a falência ovariana. A busca por atendimento é essencial para descartar outras causas, como distúrbios da tireoide ou efeitos de anticoncepcionais.

Para Sheila, ampliar o acesso à informação é o primeiro passo para mudar a realidade. “É um grande problema que muitas mulheres fiquem anos com sintomas sem entender o que está acontecendo. Precisamos falar sobre isso com clareza para que elas busquem ajuda”, reforça.

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