O juiz do caso diz que não houve qualquer “expressão genuína de remorsos” por parte de Constance Marten, de 38 anos, e Mark Gordon, de 51 anos, que “tentaram culpar toda a gente” menos eles próprios durante o julgamento da morte da sua filha recém-nascida, cujo corpo foi descoberto dentro de um saco de compras do Lidl, em Brighton, a 1 de março de 2023. A aristocrata inglesa e o companheiro foram condenados esta segunda-feira a 14 anos de prisão pela morte de Victoria.

O caso foi alvo de atenção mediática global há dois anos, após o casal ter desaparecido por dois meses, no início de 2023. Foram encontrados após diversos apelos das autoridades, mas não tinham com eles a bebé com poucas semanas com quem fugiram. Disseram que desapareceram para que a bebé não lhes fosse retirada pelos serviços sociais, como tinha acontecido antes com os seus outros quatro filhos, tendo sido considerados pais inaptos.

“Nenhum de vocês deu muita ou nenhuma atenção aos cuidados ou ao bem-estar da vossa bebé”, determinou o juiz Mark Lucraft, enquanto lia a sentença ao casal, que os considerou culpados pelo crime de homicídio por negligência grosseira.

Constance e Mark já tinham sido considerados culpados dos crimes de perversão do curso da justiça, ocultação do nascimento de uma criança e crueldade infantil num julgamento anterior.

Nas alegações finais do caso, os procuradores afirmaram que a bebé não estava adequadamente vestido com um babygrow e que Constance Marten se tinha molhado ao levar a criança debaixo do casaco, alegando que Victoria morreu de hipotermia ou sufocada enquanto dormia, cita a Sky News.

O juiz Mark Lucraft determinou que a bebé morreu a 12 de janeiro de 2023, menos de duas semanas após terem desaparecido, e que o casal ocultou o seu cadáver com o propósito de perverter o curso da justiça antes de o seu “corpo em decomposição” ser encontrado. Ao ponto de não ser possível determinar a causa da morte da recém-nascida.

Para Lucraft, as declarações do casal são contraditórias em relação às suas ações. Terão afirmado que queriam dignidade para o corpo de Victoria, mas a sua conduta de colocar o cadáver da menina no lixo “mostrou o contrário”.

“Quando foram presos, nenhum estava disposto a dar qualquer assistência à polícia sobre o paradeiro do corpo da vossa filha”, afirmou. E acrescentou: “O vosso silêncio nessa fase dos acontecimentos foi altamente significativo.”

A Sky News, que acompanhou a última sessão do julgamento no tribunal de Old Bailey, em Londres, relatou que nem Constance nem Mark mostraram muita emoção durante a leitura da sentença. É o mesmo jornal a notar que as sessões foram prejudicadas por interrupções e atrasos.

A jornalista da BBC, Helena Wilkinson, disse mesmo nunca ter visto um caso como este em tribunal durante os muitos anos a cobrir todo o tipo de julgamentos em Londres. Apesar de o casal estar sentado no banco dos réus devido à morte da sua bebé recém-nascida não deixava de demonstrar estar completamente apaixonado e ainda fortemente unido. “Mesmo assim, demonstrava total desprezo pelo processo judicial”, escreveu Wilkinson, numa crónica da cobertura do julgamento.

Segundo a jornalista, o casal causou caos nos dois julgamentos, fazendo com que eles se prolongassem por meses a fio. Recusavam-se a comparecer em tribunal, alegavam estar doentes e trocavam diversas vezes de advogado graças à disponibilidade financeira de Constance Marten, que tem origens aristocráticas e o apoio da família.

A parte que mais estranheza causou no julgamento, de acordo com a jornalista, foram as declarações de amor entre o casal. O homem condenado, Mark Gordon, ao prestar depoimento neste julgamento chegou a declarar-se à mulher: “Foi uma das melhores coisas que já aconteceram na minha vida” disse, acrescentando que faria qualquer coisa por ela.