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Quando a gente pensa em envelhecimento, quase sempre a ideia é associada a perdas — da juventude, da energia, das oportunidades. No entanto, essa é apenas parte da história. “Todo mundo fala do envelhecimento como um declínio”, afirma Michelle Feng, diretora clínica da Executive Mental Health e psicóloga especializada em geriatria. “Mas envelhecer é apenas viver. Significa literalmente que você está vivo.”
Estudos comprovam que a forma como cada pessoa enxerga o envelhecimento influencia diretamente a experiência de vida. Uma visão positiva pode favorecer a saúde mental, fortalecer a cognição e até prolongar a longevidade. Mas, afinal, o que melhora com a idade? A ciência tem respostas animadoras.
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O estresse perde força
Embora inevitável, o estresse tende a ser administrado de maneira diferente ao longo da vida. “Pessoas mais velhas têm muito mais capacidade de compreender situações estressantes e, na verdade, conseguem lidar melhor com o estresse do que quando eram mais jovens”, explica Aanand Naik, diretor executivo do Consórcio sobre Envelhecimento da UTHealth Houston.
Pesquisas revelam que adultos entre 65 e 84 anos apresentam níveis mais baixos de hormônio do estresse e menor reatividade cardíaca em comparação a indivíduos na faixa dos 20 anos. Além disso, relatam sentir-se menos pressionados no dia a dia.
A resiliência emocional se fortalece
Com a maturidade, muitas pessoas descrevem maior estabilidade emocional. “À medida que envelhecemos, adquirimos mais inteligência emocional e adaptabilidade”, afirma Naik. Feng acrescenta que idosos tendem a “evitar afetos negativos e manter o afeto positivo”.
A neurociência ajuda a explicar: enquanto os jovens costumam reprimir sentimentos, os mais velhos reavaliam situações para extrair significado. Isso pode justificar o maior bem-estar emocional relatado nessa fase.
A experiência se transforma em sabedoria
Se a velocidade de memorização e o processamento diminuem, outras formas de inteligência — como vocabulário e conhecimento acumulado — permanecem fortes ou até se expandem. Feng chama isso de inteligência cristalizada, “sua base de conhecimento”, frequentemente associada à sabedoria.
Na Ilha Awaji, no Japão, idosos superaram jovens em conhecimento ecológico. Em comunidades indígenas, como havaianas, maoris e inuítes, a velhice é respeitada como guardiã cultural e fonte de orientação.
Menos preocupação com opiniões externas
Outro ganho está na forma de lidar com comparações sociais. A teoria da seletividade socioemocional sugere que, ao perceber o tempo como limitado, passamos a priorizar o que realmente importa. “Quanto tempo você sente que lhe resta na vida determina como você prioriza as coisas”, explica Feng. Assim, os mais velhos tendem a investir energia em experiências emocionais ricas, em vez de perseguir objetivos distantes.
A vida sexual pode melhorar
O mito de que a intimidade desaparece com a idade não encontra respaldo científico. “Para pessoas em relacionamentos estáveis, a vida sexual geralmente melhora na faixa dos 50 anos”, observa Naik. Pesquisas mostram que muitos adultos permanecem sexualmente ativos até os 70 e 80 anos, muitas vezes com mais satisfação.
Entre mulheres de 55 a 80 anos, por exemplo, estudos registraram maior prazer com o orgasmo, mesmo quando a excitação física diminuiu.
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A felicidade cresce com o tempo
Estudos já apontaram a curva em U da felicidade, com queda na meia-idade e aumento na velhice. Pesquisas recentes, no entanto, indicam que a satisfação pode continuar crescendo até os 60 e 70 anos. Muitos idosos até descrevem essa fase como um dos períodos mais felizes de suas vidas.
A mentalidade é decisiva
A perspectiva pessoal pode ser um dos fatores mais importantes para um envelhecimento saudável. Estereótipos negativos funcionam como profecias autorrealizáveis. “Se as pessoas pensam que a depressão é uma parte normal do envelhecimento, então você está se preparando para isso”, alerta Feng.
Um estudo de longo prazo mostrou que quem mantinha uma visão positiva sobre o envelhecimento viveu, em média, 7,5 anos a mais do que aqueles com crenças negativas. “Temos muito mais controle sobre como envelhecemos do que imaginamos, e isso pode nos capacitar a tomar decisões que sejam boas para nós”, conclui Feng.