Os laticínios, como leite, manteiga, iogurte, sorvete e queijo, são consumidos em grande quantidade em vários países. Nos Estados Unidos, por exemplo, cada pessoa consumiu em média 661 libras (cerca de 300 kg) desses produtos em 2023, segundo dados do Departamento de Agricultura.

Apesar da popularidade, ainda existem muitos equívocos sobre os benefícios nutricionais dos laticínios e sobre o que eles podem ou não fazer pela saúde.

A seguir, cinco ideias erradas que especialistas em nutrição dizem ouvir com mais frequência sobre o tema.

Mito 1: O leite é uma parte essencial de uma dieta saudável

Embora o leite de vaca possa ter fornecido nutrientes necessários durante tempos de escassez há milhares de anos, os especialistas dizem que muitas pessoas não precisam de leite para atender às suas necessidades nutricionais hoje.

“O maior mito sobre o leite de vaca é que ele é um alimento necessário”, diz Amy Joy Lanou, professora de nutrição na Escola Gillings de Saúde Global da UNC. “As evidências simplesmente não sustentam isso.”

O leite tem sido anunciado há muito tempo como o caminho para ossos fortes e saudáveis, por exemplo, principalmente porque é rico em cálcio. Uma xícara de leite com baixo teor de gordura fornece mais de 300 mg do nutriente, ou cerca de um terço da quantidade diária recomendada para a maioria dos adultos americanos.

Mas pesquisas sugerem que você não precisa beber leite para manter ossos saudáveis. Em uma análise de 2022 de 20 estudos, por exemplo, os pesquisadores não encontraram diferenças no risco de fraturas ósseas entre pessoas que consumiam mais leite versus aquelas que consumiam menos.

Cuide-se

E muitos outros alimentos oferecem nutrientes semelhantes, como proteínas, vitamina B12, fósforo e cálcio. Peixes com espinhas como sardinhas enlatadas e vegetais de folhas verdes como couve e espinafre são ricos em cálcio, afirma Alice H. Lichtenstein, professora de ciência e política nutricional na Universidade Tufts. E carnes magras e peixes fornecem proteínas, fósforo e vitamina B12.

Desde a década de 1980, autoridades federais de saúde têm recomendado que os americanos priorizem produtos lácteos com menor teor de gordura em vez de variedades de leite integral para limitar o consumo de gorduras saturadas, que em excesso podem aumentar o risco de ataque cardíaco e derrame.

Mas Mozaffarian e outros especialistas questionaram essa recomendação, dizendo que ela não se baseia em evidências fortes.

Embora grandes estudos observacionais tenham de fato descoberto que o leite com menor teor de gordura está associado a menos riscos à saúde (como doenças cardiovasculares) do que o leite integral, outros encontraram benefícios associados ao consumo de laticínios integrais. Em uma análise de 2018 de 16 estudos, os pesquisadores descobriram que pessoas com níveis mais altos de gorduras lácteas no sangue tinham menos probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2 do que aquelas com níveis mais baixos.

Em uma revisão de 2025, um grupo de pesquisadores internacionais concluiu que as evidências atuais não apoiam a recomendação de uma variedade de leite sobre a outra.

Por esse motivo, os especialistas dizem, a melhor escolha para você depende de suas preferências e prioridades de saúde. Se você deseja maximizar proteínas e cálcio enquanto consome menos calorias, por exemplo, laticínios com menor teor de gordura podem ser uma boa escolha, diz Lichtenstein. O leite integral contém aproximadamente a mesma quantidade de proteína e cálcio que o leite sem gordura, mas tem quase o dobro de calorias.

Algumas pessoas, por outro lado, preferem o sabor e a textura do leite integral.

Mito 3: Leite vegetal é mais nutritivo que leite de vaca

Leites alternativos feitos de plantas como soja, amêndoas e aveia podem parecer mais saudáveis, mas nem sempre é o caso, disseram os especialistas.

Os leites vegetais nem sempre fornecem as vitaminas e minerais essenciais encontrados no leite de vaca, como proteínas, cálcio, potássio e vitaminas B e D, portanto, não são um substituto equivalente. E alguns leites vegetais contêm ingredientes que o leite de vaca sem sabor geralmente não possui, como açúcares adicionados e sódio. Em excesso, esses ingredientes podem prejudicar sua saúde, diz Kara Lynch, nutricionista da Extensão da Universidade Estadual de Michigan.

A qualidade da proteína também pode variar entre os leites à base de plantas, diz Lichtenstein. Em uma revisão de 2024 sobre a qualidade nutricional do leite animal e das alternativas de leite à base de plantas, os pesquisadores descobriram que as proteínas em alguns leites à base de plantas não eram “completas”, o que significa que não contêm todos os nove aminoácidos essenciais que seu corpo não pode produzir sozinho. O leite de vaca, por outro lado, é uma fonte “completa” de proteína —assim como o leite de soja.

Mito 4: Você deve evitar laticínios se for intolerante à lactose

Pessoas com intolerância à lactose têm dificuldade em digerir a lactose, um açúcar natural encontrado no leite, porque não produzem enzima suficiente chamada lactase, que a decompõe. Como resultado, elas podem experimentar sintomas como inchaço, gases e diarreia após beber leite e comer outros produtos lácteos como queijos frescos e sorvete.

Mas certos produtos lácteos contêm pouca lactose e têm menos probabilidade de causar sintomas em pessoas com intolerância à lactose, especialmente se consumidos com moderação. Estes incluem queijos duros, manteiga e produtos lácteos fermentados como iogurte e creme azedo.

Alimentos mais arriscados, como leite, queijo cottage e feta, não são necessariamente proibidos para pessoas com intolerância à lactose. Você pode evitar sintomas potenciais se tomar um suplemento de enzima lactase, como Lactaid, antes de comê-los.

Você também pode encontrar produtos lácteos sem lactose, como certos leites, queijos, iogurtes e sorvetes, em supermercados. Estes são como produtos lácteos regulares, mas têm a enzima lactase misturada, então são muito mais toleráveis para pessoas que são intolerantes à lactose.

Mito 5: O leite cru é melhor para você

A desinformação sobre o leite não pasteurizado, ou “cru”, é generalizada, diz Lynch. Alguns acreditam que a pasteurização, que envolve o aquecimento do leite para destruir micróbios nocivos, reduz nutrientes benéficos, tornando o leite pasteurizado menos saudável.

Esse argumento é “enganoso e prejudicial”, afirma Lynch. Embora a pasteurização possa destruir uma pequena quantidade de certos nutrientes no leite, ela diz, não é o suficiente para fazer uma diferença real em quão nutritivo ele é. E os benefícios de segurança da pasteurização superam em muito essas potenciais desvantagens.

O leite cru pode conter patógenos como salmonela, E. coli, campylobacter e listeria, que podem causar doenças transmitidas por alimentos graves —e às vezes fatais.

“Você simplesmente não quer brincar com isso, especialmente com seus filhos”, afirma Lanou, a professora de nutrição.

Este artigo foi originalmente publicado no The New York Times.